Eu ainda estava terminando de arrumar as malas quando Jacob voltou trazendo Molly com ele.
Ele me olhou com um misto de culpa e hesitação antes de dizer:
— Zoey, tenta me entender. Eu sou um Alfa. Preciso de um filho pra herdar meu lugar. A Molly é jovem, forte, fértil.
Tentava se justificar.
— Passamos tantos anos juntos e você nunca conseguiu engravidar. Mas, assim que ela tiver o bebê, eu prometo romper o vínculo de companheiros com ela, tudo bem?
Fiquei em silêncio.
Mas Jacob achou que meu silêncio era um “sim”.
— Eu sabia que você entenderia. Você também deve estar esperando por esse bebê, não é? Quando nascer, eu deixo com você. Você será a mãe dele. Quanto à Molly, vou dar uma boa quantia em dinheiro e mandá-la embora.
Sorri. Não disse nada.
Ele afagou meu cabelo com carinho.
— Eu sabia que podia contar com você. Ah, e... como a Molly está grávida, achei que não era seguro ela continuar fora de casa, então...
Antes que ele terminasse, cortei:
— Então você trouxe ela pra nossa casa, não foi?
Jacob hesitou, como se testasse minha reação:
— Aqui ela vai poder ser bem cuidada...
Falei com calma:
— Claro. Pode deixar ela no meu quarto. É o maior e o mais arejado.
Ele pareceu surpreso, até feliz, mas seu sorriso desapareceu assim que viu minha mala pronta no canto da sala.
— Você vai aonde com essa bagagem?
Franziu o cenho e agarrou meu pulso com força.
Foi então que Molly saiu de trás dele, se colocando entre nós dois. Olhou pra Jacob com um ar doce e triste, os olhos cheios de lágrimas cuidadosamente calculadas:
— Não vai embora, Zoey. Se você não gosta de mim, eu fico no porão, sem problemas. Só não vai embora...
— Claro que não vou deixar você no porão! — Jacob respondeu de imediato, largando meu braço e segurando Molly pelos ombros. — Você é a pessoa mais importante da nossa casa agora!
Olhei para Jacob, tão tenso, tão preocupado e só consegui achar tudo aquilo ridículo.
— Então... — Molly levantou os olhos, me encarou com aquele ar de coitadinha, depois olhou para Jacob.
Jacob se virou para mim:
— Certo. Então vá morar fora por um tempo. Quando a Molly der à luz, eu trago você de volta pra casa.
Peguei minha mala. Ao passar por Jacob, falei em silêncio, só pra mim mesma:
“Não precisa. Esse lugar nunca mais será meu lar.”
E fui embora, sem olhar para trás. Caminhei até o lago.
Só quando me vi sozinha, as lágrimas que segurei até então começaram a cair, uma a uma.
Foi ali que eu e Jacob selamos nosso amor.
As promessas de antes voltavam à minha mente, repetidas como um eco.
Eu não conseguia entender. Ontem mesmo, ele ainda me abraçava com amor e dizia que me amava. Hoje, rompeu nosso laço sem dizer uma palavra, teve um filho com Molly.
Tudo isso... só por causa de um herdeiro? Eu não conseguia acreditar.
De repente, ouvi um gemido fraco. Ao olhar, vi um filhote de lobo caído num buraco ali perto.
Era pequeno, magro, parecia fraco demais pra se manter em pé. Tinha um machucado na pata.
Aproximei-me com cuidado e o peguei nos braços.
— Você também não tem família?
O filhote não se debateu. Esticou a língua rosada e lambeu minhas lágrimas.
Como se quisesse limpar minha tristeza.
Olhando para ele, só conseguia pensar que talvez aquilo fosse a compensação da Deusa da Lua. Pelo menos eu não estaria mais sozinha.
Levei o filhote para minha antiga cabana, o lugar onde morava antes de viver com Jacob.
Depois que o alimentei, ele parecia bem melhor. As patinhas já conseguiam se firmar no chão.
Naquela mesma noite, adormeci com ele nos braços, em minha pequena cama.
Na manhã seguinte, antes mesmo do sol nascer, acordei com batidas urgentes na porta.
Era Elizabeth, a mãe de Jacob.
Ela sempre achou que eu não era boa o bastante para o filho dela. Sempre me desprezou.
Assim que abri a porta, ela me lançou um olhar cheio de desdém.
— Passou a noite fora de casa. Foi parar onde? Esqueceu que as tarefas da casa são responsabilidade sua? Além de preguiçosa, não consegue nem dar um filho ao meu filho. Nunca entendi o que ele viu em você!
Com o rosto frio, já não fazia questão de agradar ela como antes.
— Eu já me mudei daquela casa. Jacob não te contou? E além do mais, a companheira dele agora é a Molly. As tarefas da casa, você devia cobrar dela, não de mim.
— A Molly tá grávida! Como vai fazer tarefas domésticas? — Elizabeth revirou os olhos com desprezo. — Nunca esteve grávida, né? Não faz ideia do que uma mulher sente!
Cerrei os dentes com força.
Claro que eu sabia o que era estar grávida.
Eu também já carreguei um filho de Jacob, mas perdi o bebê ao arriscar minha vida para salvar ele. Quase morri naquela ocasião.
Quando descobri que talvez nunca mais pudesse engravidar, chorei como nunca.
Naquele dia, com os olhos vermelhos, fui abraçada com força por Jacob. Ele me disse que tudo bem não termos filhos, que me amaria mesmo assim, pra sempre.
Eu acreditei. Não imaginava que era só mais uma mentira dele.
Segurei o calor que ardia nos olhos, sem querer me desgastar ainda mais com a mãe de Jacob.
Mas Molly apareceu, com aquele jeito frágil e sofredor de sempre.
— Elizabeth, não briga com a Zoey. Ela tá certa. As tarefas são minha responsabilidade.
— Eu tô bem, de verdade. Só tô um pouco enjoada, com o estômago meio virado, mas nada que me impeça de ajudar... eu dou conta...
Antes que terminasse, levou a mão à boca e começou a fazer que ia vomitar.
— Olha só pra ela! — Elizabeth lançou um olhar furioso pra mim. — A Molly passando mal desse jeito, e você ainda quer que ela trabalhe? Não tem vergonha?!
Sem aviso, ela me empurrou com força.
Dei alguns passos pra trás, tentando me equilibrar. Foi então que o filhote de lobo que salvei apareceu, cambaleando, abanando o rabo, e se colocou na minha frente como se quisesse me proteger.
Eu ia me abaixar pra pegá-lo no colo, mas Molly foi mais rápida.
— De quem é esse filhote?
Parecia assustada por um segundo, mas logo forçou um sorriso.
— Que coisa mais fofa!
Enquanto sorria docemente, apertava com força a pata ferida do filhote, bem na junta machucada.
O lobinho uivou de dor e, no reflexo, mordeu Molly.
— Ai! Sai daqui!
Molly gritou e, com lágrimas nos olhos, jogou o filhote no chão.
Corri até ele, desesperada, mas Jacob entrou na mesma hora e me empurrou com força:
— Zoey, o que você fez com a Molly?!