Jacob franziu as sobrancelhas com força, claramente em conflito.
Foi então que outra curandeira entrou às pressas, escancarando a porta e gritando com urgência:
— Alfa Jacob, a Luna Molly perdeu muito sangue! Ela precisa de uma transfusão imediatamente!
A hesitação de Jacob sumiu no mesmo instante. Ele se virou para mim:
— Zoey, sua loba é forte. Você vai aguentar. Por favor, salve meu filho.
A voz aguda da mãe dele cortou o ar:
— Tirem logo o sangue dela! Não tem tempo a perder!
A curandeira me lançou um olhar incerto. Eu engoli o choro que ardia nos olhos e estendi o braço, revelando as veias azuladas sob minha pele pálida:
— Pode tirar. Esta é a última coisa que faço por Alfa Jacob e Luna Molly.
"Depois disso, não teremos mais nenhum laço. Com esse sangue, eu pago os cinco anos de amor e entrega que dei a ele." Pensei.
Jacob ficou paralisado por um momento. Me olhou com o cenho franzido, como se não soubesse o que dizer.
— Anda logo! Vai deixar meu neto morrer? — Gritou Elizabeth, interrompendo qualquer sinal de dúvida.
Virei o rosto e fechei os olhos, sentindo a agulha perfurar minha pele.
Na sombra daquele quarto, sem que ninguém visse, uma última lágrima escorreu, a última que eu deixaria cair por Jacob.
O sangue encheu a bolsa depressa.
Mas a voz estridente de Elizabeth voltou a ecoar:
— Isso não é suficiente! Tirem mais! Façam várias bolsas, pra ter reserva pro meu neto!
A curandeira hesitou:
— Senhora, se tirarmos mais, a Zoey não vai aguentar.
— Mãe, chega! Uma bolsa já é o bastante! — Jacob olhou pra mim com preocupação e lançou um olhar irritado à própria mãe.
— Bastante? Se ela não tivesse trazido aquela cria maldita, a Molly não teria entrado em choque! O seu filho ainda tá no ventre dela, Jacob! — Elizabeth disparava as palavras como veneno. — Ela não consegue nem dar um filho pra você! No fim das contas, o sangue é a única coisa de útil que ela tem!
Jacob cerrou os punhos, em silêncio.
Se aproximou devagar, tocou meu rosto já pálido com suavidade:
— Querida, eu vou te compensar por tudo isso, prometo.
Virei o rosto. Nem protestei. Nem disse nada.
E, quando ele se virou para ir embora, mais uma lágrima caiu, a última que chorei por ele.
A segunda bolsa de sangue também encheu rapidamente. Eu sentia a força escoar do meu corpo, pouco a pouco.
Quando começaram a terceira, meu corpo começou a tremer. A respiração ficou pesada, e minha visão se apagava aos poucos, indo e voltando em ondas de escuridão.
Olhei para o canto da sala, onde tinham jogado o filhote de lobo que trouxeram à força com a gente. Repeti pra mim mesma: "não posso desmaiar."
Meu filho ainda estava esperando que eu o levasse de volta pra casa.
Mas, no instante em que a terceira bolsa ficou cheia, tudo escureceu de vez.
— Zoey!
Ouvi Jacob gritar meu nome com desespero. Mas, pra mim, o mundo já tinha se calado.
Quando abri os olhos de novo, a sala de tratamento estava vazia, exceto por mim e o filhote, que continuava ao meu lado, firme.
Apoiei meu corpo fraco, peguei ele nos braços e tentei voltar pra nossa casa.
Mas, antes de dar muitos passos, vi a sala de tratamento do outro lado. Pela porta entreaberta, vi Jacob sentado na beira da cama, segurando a mão de Molly e dizendo com ternura:
— Ainda bem que você e o bebê estão bem.
O rosto dela estava corado. O contraste com o meu, pálido e esgotado, era cruel.
Levei a mão ao peito, tentando conter a dor que queimava por dentro. Eu não queria mais ver aquilo.
Estava prestes a me virar, quando esbarrei com Elizabeth.
Os cabelos dela estavam bagunçados, a roupa suja e amassada, como se tivesse acabado de lutar com alguma fera e perdida.
Quando me viu, as lágrimas nos olhos dela se tornaram alegria:
— Eu disse que você ia acordar logo! Mas o Jacob não acreditou!
— Já que você acordou, vá caçar alguma coisa agora mesmo! A curandeira disse que a Molly precisa de proteína. Ela adora carne de javali...
— Eu acabei de desmaiar por causa da doação de sangue e você ainda quer que eu vá caçar javali?
— E por que não? Foi só um pouco de sangue! Você não morreu, e seu corpo é forte, já deve ter se recuperado!
A voz estridente dela chamou a atenção de Jacob.
Quando ele saiu da sala, Elizabeth logo se agarrou ao braço dele, choramingando:
— Jacob! Você quer mesmo que a pobre da sua mãe vá caçar javali?
Jacob olhou pra mim com um ar desconfortável, claramente dividido:
— Zoey, minha mãe não tem como fazer isso. E eu... eu preciso ficar com a Molly. Se você ainda estiver se sentindo mal, pode descansar um pouco antes de ir...
Não respondi. Só fiquei olhando fixamente pra ele, enquanto seu rosto denunciava o incômodo crescente.
Vendo que eu não me movia, Elizabeth gritou, impaciente:
— Descansar o quê! Ela tá fazendo cena porque não quer ir! Vai logo! Ou quer que eu te arraste até lá?
Ela apontava o dedo no ar como se ele fosse meu rosto, cheia de raiva:
— Carne é carne! Se não quiser ir, eu pego logo aquele filhote maldito que você acolheu e faço um ensopado pra Molly!
Jacob não disse nada. Não impediu. Só ficou ali parado, com a testa franzida, me observando. E nos olhos dele, eu já não enxergava mais nenhum traço do amor ou da ternura que um dia existiram.
Engoli em seco, a garganta ardendo. Minha voz saiu rouca:
— Tudo bem. Eu vou.
Apertei o filhote contra o peito, reuni minhas últimas forças e caminhei, passo a passo, até a porta.
— Zoey...
Ouvi Jacob me chamar, com a voz baixa, carregada de culpa.
Mas eu não olhei pra trás.
Porque, dali em diante, eu nunca mais olharia para trás.