capítulo 3
Jacob franziu as sobrancelhas com força, claramente em conflito.

Foi então que outra curandeira entrou às pressas, escancarando a porta e gritando com urgência:

— Alfa Jacob, a Luna Molly perdeu muito sangue! Ela precisa de uma transfusão imediatamente!

A hesitação de Jacob sumiu no mesmo instante. Ele se virou para mim:

— Zoey, sua loba é forte. Você vai aguentar. Por favor, salve meu filho.

A voz aguda da mãe dele cortou o ar:

— Tirem logo o sangue dela! Não tem tempo a perder!

A curandeira me lançou um olhar incerto. Eu engoli o choro que ardia nos olhos e estendi o braço, revelando as veias azuladas sob minha pele pálida:

— Pode tirar. Esta é a última coisa que faço por Alfa Jacob e Luna Molly.

"Depois disso, não teremos mais nenhum laço. Com esse sangue, eu pago os cinco anos de amor e entrega que dei a ele." Pensei.

Jacob ficou paralisado por um momento. Me olhou com o cenho franzido, como se não soubesse o que dizer.

— Anda logo! Vai deixar meu neto morrer? — Gritou Elizabeth, interrompendo qualquer sinal de dúvida.

Virei o rosto e fechei os olhos, sentindo a agulha perfurar minha pele.

Na sombra daquele quarto, sem que ninguém visse, uma última lágrima escorreu, a última que eu deixaria cair por Jacob.

O sangue encheu a bolsa depressa.

Mas a voz estridente de Elizabeth voltou a ecoar:

— Isso não é suficiente! Tirem mais! Façam várias bolsas, pra ter reserva pro meu neto!

A curandeira hesitou:

— Senhora, se tirarmos mais, a Zoey não vai aguentar.

— Mãe, chega! Uma bolsa já é o bastante! — Jacob olhou pra mim com preocupação e lançou um olhar irritado à própria mãe.

— Bastante? Se ela não tivesse trazido aquela cria maldita, a Molly não teria entrado em choque! O seu filho ainda tá no ventre dela, Jacob! — Elizabeth disparava as palavras como veneno. — Ela não consegue nem dar um filho pra você! No fim das contas, o sangue é a única coisa de útil que ela tem!

Jacob cerrou os punhos, em silêncio.

Se aproximou devagar, tocou meu rosto já pálido com suavidade:

— Querida, eu vou te compensar por tudo isso, prometo.

Virei o rosto. Nem protestei. Nem disse nada.

E, quando ele se virou para ir embora, mais uma lágrima caiu, a última que chorei por ele.

A segunda bolsa de sangue também encheu rapidamente. Eu sentia a força escoar do meu corpo, pouco a pouco.

Quando começaram a terceira, meu corpo começou a tremer. A respiração ficou pesada, e minha visão se apagava aos poucos, indo e voltando em ondas de escuridão.

Olhei para o canto da sala, onde tinham jogado o filhote de lobo que trouxeram à força com a gente. Repeti pra mim mesma: "não posso desmaiar."

Meu filho ainda estava esperando que eu o levasse de volta pra casa.

Mas, no instante em que a terceira bolsa ficou cheia, tudo escureceu de vez.

— Zoey!

Ouvi Jacob gritar meu nome com desespero. Mas, pra mim, o mundo já tinha se calado.

Quando abri os olhos de novo, a sala de tratamento estava vazia, exceto por mim e o filhote, que continuava ao meu lado, firme.

Apoiei meu corpo fraco, peguei ele nos braços e tentei voltar pra nossa casa.

Mas, antes de dar muitos passos, vi a sala de tratamento do outro lado. Pela porta entreaberta, vi Jacob sentado na beira da cama, segurando a mão de Molly e dizendo com ternura:

— Ainda bem que você e o bebê estão bem.

O rosto dela estava corado. O contraste com o meu, pálido e esgotado, era cruel.

Levei a mão ao peito, tentando conter a dor que queimava por dentro. Eu não queria mais ver aquilo.

Estava prestes a me virar, quando esbarrei com Elizabeth.

Os cabelos dela estavam bagunçados, a roupa suja e amassada, como se tivesse acabado de lutar com alguma fera e perdida.

Quando me viu, as lágrimas nos olhos dela se tornaram alegria:

— Eu disse que você ia acordar logo! Mas o Jacob não acreditou!

— Já que você acordou, vá caçar alguma coisa agora mesmo! A curandeira disse que a Molly precisa de proteína. Ela adora carne de javali...

— Eu acabei de desmaiar por causa da doação de sangue e você ainda quer que eu vá caçar javali?

— E por que não? Foi só um pouco de sangue! Você não morreu, e seu corpo é forte, já deve ter se recuperado!

A voz estridente dela chamou a atenção de Jacob.

Quando ele saiu da sala, Elizabeth logo se agarrou ao braço dele, choramingando:

— Jacob! Você quer mesmo que a pobre da sua mãe vá caçar javali?

Jacob olhou pra mim com um ar desconfortável, claramente dividido:

— Zoey, minha mãe não tem como fazer isso. E eu... eu preciso ficar com a Molly. Se você ainda estiver se sentindo mal, pode descansar um pouco antes de ir...

Não respondi. Só fiquei olhando fixamente pra ele, enquanto seu rosto denunciava o incômodo crescente.

Vendo que eu não me movia, Elizabeth gritou, impaciente:

— Descansar o quê! Ela tá fazendo cena porque não quer ir! Vai logo! Ou quer que eu te arraste até lá?

Ela apontava o dedo no ar como se ele fosse meu rosto, cheia de raiva:

— Carne é carne! Se não quiser ir, eu pego logo aquele filhote maldito que você acolheu e faço um ensopado pra Molly!

Jacob não disse nada. Não impediu. Só ficou ali parado, com a testa franzida, me observando. E nos olhos dele, eu já não enxergava mais nenhum traço do amor ou da ternura que um dia existiram.

Engoli em seco, a garganta ardendo. Minha voz saiu rouca:

— Tudo bem. Eu vou.

Apertei o filhote contra o peito, reuni minhas últimas forças e caminhei, passo a passo, até a porta.

— Zoey...

Ouvi Jacob me chamar, com a voz baixa, carregada de culpa.

Mas eu não olhei pra trás.

Porque, dali em diante, eu nunca mais olharia para trás.
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