Emmy Zack Acordei com um sobressalto silencioso, como se meu corpo soubesse antes da minha mente que algo estava fora do lugar. A primeira sensação foi a do toque macio dos lençóis contra minha pele nua — linho dourado, de um brilho discreto e elegante, como ouro velho sob a luz tênue do amanhecer. Pisquei várias vezes, ainda confusa, tentando reconhecer onde estava. O teto acima de mim era pintado com as fases da lua — um ciclo eterno pairando sobre mim, julgando-me em silêncio. Meus olhos desceram para a cabeceira esculpida com runas e ornamentos lunares. A atmosfera era carregada, quente demais, como se ainda estivesse mergulhada na intensidade da noite anterior. Meu corpo doía em lugares que eu não sabia que podiam doer. Um incômodo doce, quase proibido. Então, percebi: eu estava colada ao peitoral nu de alguém. E do outro lado… outro corpo. O pânico me invadiu como uma maré noturna. Alec. Zayn. Meus pulmões pareciam pequenos demais para conter o ar que tentei puxar.
Alec FieldsA inquietação fervilhava sob minha pele, pulsando como brasas sob a carne. Havia algo corrosivo naquela lembrança — a noite com Emmy. Mesmo que o toque de Zayn tivesse invocado minha fera, meu senso, minha consciência... ainda estavam lá.Eu não estava ausente.Eu queria, ela também quis.Ela não disse "não".Se tivesse dito... eu teria parado. Teria rompido a névoa da magia que Zayn espalhou como veneno em nossos corpos.Eu teria resistido.Por ela.Deixei o campo de treinamento com os músculos tensos e os punhos cerrados, o suor escorrendo pelas têmporas enquanto tentava ignorar o ardor em minha mente.Passei pelos lobos de Chase, que agora viviam à espreita, alojados na ala nobre destinada ao herdeiro. Desde que Isaac nos proibira de atravessar os corredores da prometida, ficamos à margem, como predadores domesticados por ordens superiores.Mas isso nunca me impediu de ver Emmy. Ela mesma veio até mim, dias atrás, com os olhos carregados de ternura e decisão. Pediu que
Emmy ZackDOIS DIAS DEPOISConvencer Zayn e Alec a participarem do jantar não foi difícil. Eles estavam dispostos, talvez até ansiosos. — A verdadeira barreira era Chase.Chase, com seus silêncios longos e olhos que pareciam sempre no limiar entre mágoa e julgamento. Ele não disfarçava a decepção desde a última lua cheia.Foi ele quem me pediu, com um olhar sereno e uma voz baixa demais para o caos do momento, que eu fosse gentil com Zayn naquela noite. Foi dele a ideia de que todas as taças estivessem cheias, igualmente.Agora ele mal me dirigia a palavra.— Senhorita... — Wanessa se aproximou em um sussurro, como se temesse que seu tom violasse alguma regra não escrita do templo. — Está bem?Desviei o olhar da lareira acesa e a encarei. Seus olhos castanhos eram quentes, cuidadosos. Um contraste nítido com as paredes de pedra fria ao nosso redor.Wanessa era uma das jovens sacerdotisas do templo, pertencia à ala da Prometida da Casa Malac'h — uma ala de cortinas brancas, silêncios s
Chase FieldsHavia um silêncio que se estendia entre nós como uma névoa densa, feita de tudo o que não foi dito. As coisas que antes fluíam com naturalidade entre eu e meus irmãos — um olhar, um gesto, a confiança sutil entre nossos passos — agora me causavam inquietação. Porque eu vi Emmy naquela manhã, saindo daquele quarto. Vi o modo como caminhava, não como quem descansou entre braços seguros, mas como alguém que esteve entre selvagens.Ela passou uma noite com Zayn e Alec. Os dois homens que, de formas tão diferentes, reclamavam sua devoção. E mesmo que eu compreendesse o vínculo que a prometida deveria manter com a Casa Malac’h... mesmo que respeitasse o laço sagrado entre ela e todos nós... não podia suportar ver como Zayn perdeu o controle.Emmy depois de alguns dias parecia mais firme, mais contida. Como se tivesse engolido seus próprios medos. Mas ainda havia coisas que ela não dizia — coisas que aprendia com as sacerdotisas em silêncio.E isso me corroía. A forma como ela e
Zayn Fields Os ventos cortavam os vales ao norte como lâminas afiadas, trazendo consigo o uivo distante das raposas do clã Ry'shara. Durante séculos, haviam habitado as encostas escondidas pelas brumas, mantendo-se neutros nas guerras e alianças do continente. Mas agora... agora eles rosnavam nas sombras, farejando sangue e oportunidade. A invasão de Matteo sob o efeito da lua cheia havia sido o estopim. Um único ataque, descontrolado e selvagem, fora suficiente para que os Ry'shara exigissem reparações. Mas nós sabíamos. Não se tratava de justiça. Era guerra disfarçada. Os líderes das duas facções do clã Ry'shara desceram até a Cidade Sagrada, suas presenças envoltas em túnicas bordadas com fios de prata e olhos carregados de acusação. Diziam-se ofendidos por não terem sido convocados para o ritual da Prometida da Casa Malac’h — Emmy — quando esta foi apresentada ao mundo. Alegavam que tinham o mesmo sangue divino correndo nas veias, que também descendiam da Deusa Superio
Emmy Zack O pavor que se espalhava pelos meus ossos era antigo, instintivo, como se um eco do passado estivesse despertando sob minha pele. Eu sabia. Mesmo sem conseguir ver, mesmo com a mente envolta em névoa, eu sabia que havia um homem ali. Algo — ou alguém — se materializara às minhas costas, e essa certeza me corroía feito fogo lento. Mas então tudo se dissolveu. Como se uma maré de lembranças me arrastasse, deixei de ser eu mesma. Deixei de ser presente. Tornei-me expectadora de um tempo que não me pertencia — e ainda assim, era como se tudo fosse meu. Ela era... eu. A mulher diante de mim, de pé sob um céu opaco, tinha o meu rosto. O mesmo corte nos lábios, os mesmos olhos marcados pela intensidade. Era como me olhar em um espelho esquecido por séculos. E, ao seu redor, ajoelhados diante dela, estavam Isaac e Zayn. Mas... não eram exatamente eles. Eram versões que jamais conheci, dobradas pelo tempo e por algo maior. A Deusa os observava com olhos de um azul sobrenatural
Emmy Zack Zayn ainda me beijava quando segurei seu rosto entre as mãos, sentindo o peso da força que ele lutava para conter. Cada músculo de seu corpo, rígido contra o meu, parecia vibrar com a necessidade crua que ele reprimia a custo. — Docinho... — ele sussurrou, roçando os lábios pela minha pele com uma devoção feroz — Eu só estive dentro de você por uma única noite... e tenho certeza que fiquei ainda mais insano. O timbre rouco de sua voz reverberou em mim, provocando um arrepio que desceu pela minha espinha. As mãos dele — possessivas, ansiosas — deslizavam pelo meu corpo por cima do vestido, cada toque declarando um direito que ele julgava inquestionável. Zayn admitia que era insano com frequência, isso poderia soar engraçado.. de alguma maneira, meu corpo acha isso excitante. — Zayn... — sussurrei, tentando agarrar os fiapos da razão, mesmo enquanto meu corpo já cedia, incendiado sob a magia que emanava dele. — O jantar... Meus olhos percorreram sua figura com uma
Emmy ZackEu teria que admitir para mim mesma que uma conexão sobrenatural me puxava para eles. Talvez isso soasse ainda mais insano a cada dia que eu passasse nesse templo, e, de algum modo, parecia mesmo que eu estava perdendo partes da minha sanidade, lentamente.Um dia, sonhei em estar aqui como uma simples sacerdotisa — apenas servir, ser útil em silêncio. Agora, carregava a responsabilidade de uma linhagem. Agora, eu era adorada como a futura deusa encarnada. Mesmo que explicações vagas sobre descender da linhagem de uma deusa fizessem sentido dentro da lógica deles, depois de Solac’h... depois de tudo que vi naquela memória... Eu só conseguia pensar que precisava recuar. Respirar.Mas não agora. Não esta noite.Esta noite, eu realmente os queria. Esta noite, eu escolheria um deles, mesmo que isso me despedaçasse depois. E, movida por um impulso incontrolável de descobrir mais sobre a Deusa antiga — ou talvez apenas de descobrir mais sobre mim mesma — escolhi Zayn."Resp