Capítulo 2

-E assim começa mais um ano. -Falei e respirei profundamente.

-Alexia, me prometa que independente do que acontecer esse ano, se sofrermos bullying novamente, se nos excluírem ou qualquer coisa do tipo, você vai ser forte e encarar de frente, está bem? Promete também que não iremos nos separar por brigas infantis ou por paixões? 

O olhei nos olhos e não pude evitar não rir.

-O que? -Jake perguntou sorrindo.

-Não é nada. Eu só achei bem fofo. -Voltei a minha atenção para a entrada da escola. -E é claro que eu prometo.

Enfim entramos e a primeira coisa que reparei foi o quanto o corredor está cheio. A maioria são as pessoas do ano passado, apenas alguns são novos.

-Tenho que ir na coordenação, preciso pegar o número do meu armário. -Falei tentando não demonstrar o quão nervosa estou para esse novo ano letivo.

-Vou com você, também preciso.

Concordei e enfim começamos a andar pelo longo corredor aonde possui centenas de alunos. Todos estão ocupados com alguma coisa. Alguns estão paquerando, outros pegando material, já outros apenas conversando.

Por algum motivo não muito aparente, os alunos começaram a se separar e um espaço se formou no meio do corredor.

Ah não, já até sei.

Clair se aproximou de mim e de Jake. Suas amigas que não a deixam por um minuto sequer, estão ao seu lado. Todas com o rosto completamente carregado pela maquiagem.

Argh, mal amanheceu.

-Veja se não é a quatro olhos e o seu amiguinho idiota. -Sorriu e senti seu olhar ir de cima a baixo sobre mim. -Sabe, eu estava tão confiante de que vocês não estudariam mais aqui. Eu estava tão, mas tão feliz. Na verdade, todo mundo estava, mas vocês tinham que chegar e estragar tudo, não é mesmo? -Inclinou a cabeça para o lado.

Alysson, que está ao seu lado, sorriu de um jeito irônico.

-Você não tem mais o que fazer não, Clair? -Respondeu Jake. -Vir encher a paciência dos outros logo cedo, pelo amor de Deus. -Pegou em minha mão e começou a me puxar para longe delas.

Assim que já estávamos longe o suficiente, dei uma olhada para trás e encontrei as três se entreolhando tentando entender o que havia acabado de acontecer. Até mesmo eu não estou acreditando.

Comecei a rir e fiz Jake parar de andar.

-Isso foi hilário.

-Foi bom, né? Nem eu estou acreditando que fiz isso. -Sorriu.

-Você nunca tinha enfrentado elas assim, Jake. -Tentei controlar a risada. -E tenho que dizer que amei ver você fazendo isso.

-Eu te disse que esse ano ia ser diferente. -Começou a caminhar mais uma vez e eu o segui.

-Ela nem teve a chance de revidar. -Arrumei minha mochila nas costas.

-É bom que ela vai ficar pensando sobre isso. -Jake sorriu mais uma vez e abriu a porta que dá acesso a diretoria.

Assim que adentramos o lugar, Olívia olhou em nossa direção e sorriu.

Olívia é uma velha amiga minha e de Jake. Desde quando entramos aqui na escola, ela sempre nos ajudou muito e sempre tentamos encontrar algo pra fazer em retribuição a isso.

-Alexia, Jake, oi. O que posso fazer por vocês? -Se inclinou na cadeira. 

-Oi. Viemos aqui para pegar nosso número do armário e o nosso horário de aula. -Parei diante de sua mesa e peguei o porta retrato em que está ela e seu filho Thomas.

-Ah, é claro. Esperem só um segundo. -Olívia começou a mexer no computador.

Enquanto isso, olhei para Jake e o encontrei admirando os novos quadros daqui da secretaria. São realmente bem bonitos.

-Aqui está. Agora vocês só precisam fazer as combinações e enfeitarem do jeito que quiserem. Se precisarem de mais alguma coisa, podem vir aqui. -Estendeu o papel em nossa direção. Os peguei e sorri em forma de agradecimento.

-Obrigada, vejo você mais tarde. -Saímos e fomos na direção aonde está os nossos armários. -O meu é o número 212 e o seu é 245.

-Poxa, são longes. -Ele disse.

-Bom, então a gente se vê depois. Minha primeira aula é de Química. Vou direto pra sala, ver se a professora precisa de ajuda em algo.

-Está bem. -Nos separamos e fomos para os nossos armários. Coloquei minha codificação e abri. Coloquei minha mochila e peguei somente o que vou usar na primeira aula. Fechei-o e fui para a sala de experiências.

Chegando, vi a professora Clarice sentada preparando as coisas para a aula.

-Bom dia, professora. -Ela levantou a cabeça de seu caderno e sorriu ao me ver.

-Alexia, senti sua falta. Como você está? -Tirou seus óculos e os colocou em cima da mesa.

-Estou bem. Precisa de ajuda em alguma coisa? -Apertei os meus livros mais contra mim.

-Ótimo, que bom que perguntou. Você é a única aluna que faz isso, e isso me deixa super feliz. -Sorri.- Bom, preciso que você coloque essas folhas em cima dos balcões. Por favor.

Coloquei meus livros aonde eu irei sentar e peguei as folhas com ela. Quando terminei de colocar a última folha, o sinal tocou.

-Obrigada. Pode se sentar.

Concordei e fui até lá. Alguns alunos começaram a entrar e se sentaram em lugares diferentes. Eu até estava feliz pensando que não teria aula com Clair, mas quando a vi entrando na sala, fiquei bem decepcionada. Ela foi direto pro fundo sentar com algumas meninas. Quando todos entraram, a professora fechou a porta e foi para a frente de todos os balcões.

-Bom dia alunos, pra quem não me conhece, eu sou a professora Clarice, tenho 27 anos e dou aula nessa escola faz 2 anos. Dou aula de química e física. Esse ano será bem mais puxado do que o ano passado, então por favor, estudem. Não deixem para a última hora. Ano que vem todos vocês irão para alguma faculdade com certeza, bom, alguém gostaria de dizer o que pretende estudar?

Levantei minha mão.

-Tinha que ser. -Clair falou lá do fundo e todo mundo riu.

-Clair por favor, vamos respeitar a decisão da colega. Então Alexia, diga, o que pretende estudar?

-Eu estou pensando em fazer medicina e...

Quando eu estava terminando de falar, a porta se abriu e a atenção de toda a sala foi levada para lá.

Droga, mil vezes droga.

-Zack, bom dia, pode entrar. Acabamos de começar.

Zack é o típico garoto babaca do ensino médio. Jogador do time da escola e namorado da popular, é claro. Pode-se dizer que Zack acabou de sair de um filme americano clichê.

A diferença é que ele é realmente insuportável.

É claro que ele é um completo gostoso, mas é claro também que ele nunca vai ficar sabendo que eu acho isso.

Assim que Zack entrou na sala, quase consegui escutar todas as meninas suspirando diante de tanta beleza vinda de um cara completamente babaca.

-Amor, senta aqui. -Clair disse. Ele passou por todos os balcões e foi em direção ao último, onde ela está.

Zack e Clair possuem uma espécie de relacionamento. Na verdade eu nem sei se posso chamar isso de relacionamento. Até porque ambos ficam com outras pessoas mas no final voltam mais uma vez.

-Nada disso. -A professora se direcionou a eles dois. -Ontem nós já conversamos e ambos estão cientes de que não tolero mais os casais sentados juntos em minhas aulas.

É isso aí, professora. Mandou muito bem.

-Então pode vir se sentar aqui com a Alexia. O parceiro dela faltou hoje e tem um lugar vazio te aguardando bem aqui na frente.

Espera, o que?

Zack levantou de seu lugar e começou a vir até mim. Me virei para frente e implorei mentalmente para isso ser mentira.

Como é que vou tolerar esse insuportável durante a manhã toda?

-Parece que vai ser eu e você hoje, quatro olhos. -Escutei seu sorriso assim que ele jogou suas coisas em cima do balcão e se sentou ao meu lado no banco.

-Não sabe o quanto estou feliz com tudo isso. -Falei com a intenção dele não ouvir.

-Eu acabei esquecendo um caderno lá na sala dos professores e terei que sair por alguns minutos, mas já já estou de volta. Por favor, não façam bagunça.

Respirei fundo já sabendo que isso não vai acontecer.

-Antes de ir, -Parou de frente para a porta. -Alexia, será que você poderia entregar os materiais de proteção, por favor?

-Sim, é claro. -Forcei um sorriso.

Ela enfim saiu e eu me obriguei a ficar de pé. Fui até o armário na lateral da sala e peguei as luvas, óculos e jalecos. Fui nos balcões de todos e distribui. Assim que estava passando pelo meu, acabei tropeçando em alguma coisa e caí.

A sala inteira começou a rir e eu me virei, tentando ver no que tropecei. Foi assim que consegui pegar Zack puxando o seu pé.

É óbvio que foi esse idiota.

Me levantei como se nada tivesse acontecido e coloquei o material em cima da bancada. Em seguida olhei na direção dele e fui até a porta. A abri e saí.

Assim que já estava no meio do corredor, escutei a porta sendo aberta mais uma vez.

-Quatro olhos, espera, o que está fazendo?

Não dei ouvidos a ele e continuei caminhando em direção ao banheiro.

-Aonde você vai? -Escutei ele vindo correndo até mim. -Espera.

-Opa, o que houve?

Me assustei ao bater com a professora no momento em que ia virar no corredor.

-Professora... -Tentei não demonstrar qualquer reação.

-Meu Deus, o que houve com sua perna?

Neguei com a cabeça e desviei meu olhar do seu.

-Não foi nada, professora. -Respondeu Zack. -Ela só acabou caindo lá no meio da sala.

-Eu acabei caindo, seu idiota? -Me virei para ele. -Acha que eu não vi o seu pé?

-Tudo bem, eu já entendi o que aconteceu. Se resolvam por favor. Só que não na minha aula. Vão para a diretoria.

-O que? -Voltei minha atenção para ela, sem acreditar no que acabei de ouvir. -Mas eu não tive nada a ver com isso. Por que tenho que ir também?

-Só explica para o diretor o que acabou de acontecer, está bem? -Ela saiu caminhando e eu permaneci parada, ainda não acreditando nisso. 

-Muito bem, então. -Escutei a voz de Zack e tive vontade de arrancar suas cordas vocais fora. -Você vem ou...

-Cala a boca. -Falei e comecei a andar até a diretoria.

-É isso ou o que? Vai me bater? -Chegou ao meu lado e eu me recusei a olhar para o seu rosto.

-Não seria o suficiente para expressar o quanto você me estressa.

Senti seu olhar sobre mim e ele sorriu logo em seguida.

-Olha só, ela realmente voltou bravinha esse ano. -Enfiou as mãos dentro da jaqueta do time da escola. -Mas e aí, me conta, o que te fez mudar? Você era tão... quietinha.

-Eu sei muito bem o que você está tentando fazer. Quer se fazer de legal só para eu não contar a verdade ao diretor, mas fique sabendo que não vai rolar.

-Muito bem. -Pigarreou. -Não falo mais nada também.

Neguei com a cabeça e continuei olhando para frente.

-Sabe uma coisa que eu acabei percebendo por agora? Até que você não é tão chata como eu pensava.

-Óh, muito obrigada por mudar o seu pensamento quanto a mim, senhor. -Revirei os olhos e isso o fez rir.

-Você até que é engraçada.

Chegamos em frente à diretoria e abri a porta. Tivemos que ficar aqui na secretaria, já que o diretor está ocupado conversando com uma mãe.

-Isso não vai dar em nada, só estamos perdendo tempo. -Zack cruzou as pernas, colocando o tornozelo em cima do joelho. -Eu já perdi a conta de quantas vezes vim pra cá e ele só me deixou em detenção.

Permaneci em silêncio.

-Vai ser assim, então? Depois do nosso papo super agradável lá fora você irá me deixar falando sozinho?

-Eu não devia nem ter falado com você. -Peguei uma revista que há aqui em cima da mesinha e comecei a folhear.

Agora ele que ficou quieto. Olhei para meu joelho e vi que ainda continua sangrando.

Eu só queria ter ido ao banheiro para poder limpar. Não ter vindo parar na diretoria.

-Foi mal... Não achei que iria te machucar. -Olhei séria pra ele. -Juro, não queria que se machucasse. Eu só queria fazer alguma palhaçada com você, afinal, essa é a graça. Bom, pelo menos era. Agora que está virando uma garota rebelde, estou ficando com medo de continuar. -Essa última frase fez com que eu sorrisse. -Olha só, ela sabe sorrir.

-Cala a boca . -Tampei a boca para não sorrir novamente.

A mulher que estava lá dentro da sala do diretor abriu a porta e começou a sair. Assim que nos viu sentados no sofá, parou por um segundo e ficou encarando na direção de Zack.

-Zack...? É você mesmo?

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