Enxuguei as lágrimas do canto dos olhos e olhei para o céu acinzentado do lado de fora da janela.
O outono em Manhattan continuava, como sempre, frio e sombrio.
O celular tocou. Era Norberto.
— Glória, você foi reclamar de mim para o meu pai de novo?
— Eu e Adriana finalmente conseguimos um tempo só para nós dois, mas você teve que arruinar tudo de novo!
— Estou avisando, se se meter de novo, cancelo todos os seus cartões de crédito na hora!
Se fosse antes, eu teria pedido desculpas automaticamente, abaixado a cabeça, mesmo que não fosse minha culpa.
Mas agora, respondi com indiferença: — Faça como quiser.
Do outro lado da linha, Norberto hesitou um instante, surpreso com a minha frieza, mas logo riu.
— Não tente bancar a esperta, Glória. Enquanto você continuar sendo minha esposa, tenho centenas de maneiras de acabar com você.
Eu já conhecia bem os métodos dele.
Lembro como se fosse ontem da primeira vez em que o peguei em flagrante. Ingenuamente, achei que o velho padrinho Sebastião defenderia a justiça, mas tudo o que consegui foi a vingança brutal de Norberto.
Ele ameaçou a vida da minha mãe, me obrigou a ajoelhar na sacada gelada, com temperatura abaixo de zero, bati repetidas vezes no meu próprio rosto, até ficar completamente inchado.
Naquela noite, ele estava no quarto ao lado, se divertindo com a amante.
E eu, por causa do frio extremo, fui parar no hospital.
A neve caía pesada naquele dia. Deitada na maca da emergência, tremia de dor.
Depois disso, não importava o quão cruel ele fosse, eu escolhia o silêncio.
Tornei-me uma máquina insensível, apenas mantendo a aparência de "Sra. Rios".
Suportei, aguentei, até agora. Minha mãe se foi, perdi nosso filho.
Esse casamento por conveniência finalmente chegava ao fim.
Desliguei o celular, levantei-me e liguei para o serviço funerário, marcando a cremação da minha mãe.
Ao voltar para a porta do quarto, uma figura familiar bloqueou meu caminho.
Norberto, de terno preto, estava parado diante da porta, olhando para mim friamente.
— Por que parou de fingir? — Ele deu uma risada sarcástica. — Acabou de sofrer um acidente, mas já consegue andar? Parece que está forte o bastante para não precisar mais de repouso.
Aproximou-se lentamente, falando com voz sombria: — Querida, pensei em trazer a Adriana para morar na casa. Ela é jovem, não sabe fazer nada... Quando receber alta, volte para ser nossa empregada.
Chegou perto do meu ouvido, a voz carregada de um prazer doentio: — Sua expressão de dor é o que mais me excita na cama.
Depois, segurou meu rosto, os olhos brilhando com um prazer distorcido.
Ele queria me ver chorar, queria me ver implorar como antes, submissa.
Mas não cedi. Olhei para ele como se olhasse para um estranho.
Norberto perdeu o interesse e me empurrou com força. Virou-se e chamou a enfermeira que estava ali perto.
— E meu filho? Já saiu o resultado dos exames? Traga-o para eu ver.
A enfermeira estava pálida, visivelmente nervosa.
Respondi baixinho: — O bebê... seu pai o levou. Nosso filho...
Antes que eu conseguisse dizer que a criança tinha falecido, o celular dele tocou.
— Alô?
Seu rosto mudou na hora, um medo apareceu em seus olhos.
— O quê?! Você sofreu um acidente?! Adriana, querida, está bem? Onde você está?!
Ele desligou na mesma hora.
Um tapa estalou forte no meu rosto.
— Glória, o que fez com a Adriana?! Se algo acontecer com ela, juro que não vai escapar!
Já enfraquecida, o tapa me lançou contra o corrimão de ferro atrás de mim, causando uma dor aguda no peito.
— Acabei de sair de uma cirurgia, o que eu poderia ter feito com ela...
A enfermeira me segurou rapidamente, aflita: — Senhor Norberto! Se continuar assim, pode acabar matando alguém!
Norberto me lançou um olhar furioso antes de sair apressado.
A enfermeira olhou para mim com compaixão.
Minha bochecha estava inchada e vermelha, o corpo mal conseguia se sustentar.