Clara
O tribunal estava em silêncio, mas dentro de mim tudo gritava. Cada passo até aquele banco dos réus arrastava uma parte da mulher que um dia fui. As algemas nos meus pulsos já nem doíam mais. Eu estava dormente. Morta por dentro muito antes de qualquer sentença ser lida. O nome Clara Monteiro ecoava na sala como uma maldição, como se eu carregasse sozinha o peso de todos os pecados do mundo.
Vestia o uniforme da prisão. Os cabelos, antes sempre arrumados, estavam presos num coque frouxo. A pele sem maquiagem denunciava noites mal dormidas e dias vazios. Já não existia vaidade, nem orgulho, nem esperança. Só a verdade nua e crua.
Leonardo estava morto.
E eu matei ele.
Aquela frase não precisava ser dita em voz alta. Ela já pairava no ar como um espectro, alimentando olhares de reprovação, sussurros nos corredores e manchetes em letras garrafais. Não havia mais mistério, nem defesa. Existiam provas, testemunhas, laudos e, principalmente, um vídeo.
Leonardo tinha ido até mim na pen