|05| Ajuda

Quando o Sr. Evans saiu do café, eu voltei a me sentar e fiquei mais alguns minutos ali apenas observando a movimentação para tentar descobrir o que pode ter inspirado ele.

Vi os garçons servindo as mesas, outros as limpando, pessoas comendo, outras tomando café, gente sentada lendo, outras olhando livros em prateleiras e algumas apenas conversando entre si. Na rua a movimentação estava menor, o trânsito estava mais tranquilo e nada fora do normal aconteceu, nada que pudesse inspirar um livro, ao menos para mim.

Eu estou ferrada para descobrir o que Oliver Evans quer.

Voltei para a editora frustrada e estressada sem saber o que dizer para ele quando me perguntasse sobre a bendita essência do seu livro. Infelizmente minha bola de cristal está com defeito e eu não consegui adivinhar o que ele quer, ainda não aprendi a ler mentes.

— E aí, como foi? — É a primeira coisa que a Tasha me pergunta quando nos encontrarmos para almoçar mais tarde naquele mesmo dia.

— Precisou usar o spray de pimenta? — Agora é a Yara que pergunta.

— Foi tranquilo — foi tudo que respondi enquanto analisava o cardápio que eu já sabia decorado apenas para fugir do assunto.

— Quero mais detalhes — Tasha insistiu e retirou o cardápio da minha mão para que desse atenção para ela.

— Desembucha — Yara retrucou.

Respirei fundo e soltei todo o ar para não explodir de vez. Eu sabia que teria que contar ou elas não me deixariam em paz.

— Ele é maluco — iniciei com o óbvio. — Nossa reunião foi em um café, muito aconchegante por sinal, ele me disse que me levou lá para que eu sentisse a essência do seu livro e para que eu entendesse o que ele quer transmitir aos leitores. 

— Achei que fosse pior — Yara disse me fazendo olhar para ela com a cara mais fechada da vida. — O quê? — Perguntou diante do meu mau-humor. — Ele quer que você entenda sobre o livro, acho que todo escritor quer isso.

— O problema não é ele querer isso. O problema é ele me deixar no escuro — falei irritada. — Ele disse que aquele café foi onde teve a ideia de escrever este livro, quando perguntei o que mais precisava fazer para sentir a essência ele disse: Eu espero que você descubra sem que eu tenha que explicar — imitei a voz dele dando um ar mais presunçoso que o normal. 

— Mas ele te falou algo mais sobre o livro? — Tasha perguntou.

— Não — respondi rapidamente. — Ele não me disse absolutamente nada. Então, me diz como eu vou fazer isso? Como eu vou saber o que diabos ele quer transmitir se ele não me diz nada? Eu estou ferrada, arrisquei meu cargo, talvez até o meu emprego com isso e vou perder tudo — falei esgotada. Passei as mãos pelo rosto e esqueci que estava de óculos e manchei as lentes. — Merda — os tirei para limpar com um guardanapo.

— Primeiro, calma — Yara disse ao ver meu estado. — Segundo, você não vai perder porra nenhuma — falou em um tom mais alto. — Terceiro, você já pegou o manuscrito?

— Quando eu disse que ele não me falou nada, foi nada mesmo — falei, tentando ser o mais clara possível. — Viu a gravidade? — Coloquei os óculos no rosto assim que terminei de limpar.

— Você ao menos já pediu a ele? — Perguntou, franzindo o cenho.

— Não — falei já cansada de tudo aquilo — Ele nem me deu a oportunidade de tocar nesse assunto.

— Virou amadora agora, Jane? — Tasha reclamou. — Peça o manuscrito e o estude como se fosse fazer a prova da sua vida sobre ele.

— Na verdade, ela vai fazer — Yara respondeu. — Ela precisa desse contrato, então dá no mesmo.

— Vocês têm razão — me dei conta que sim, eu precisava dele. Do manuscrito no caso. — Eu preciso ler esse manuscrito. Mas talvez ele não dê já que não temos um contrato fechado ainda.

— É, tem isso também — Tasha concordou reflexiva. — Ele não fechou o contrato, então pode não querer te entregar o manuscrito já que ele é famoso e são as editoras que estão indo atrás dele, não o contrário. Desse homem eu espero tudo.

— Pois é, mas para que a Jane entenda a porra da essência que ele quer, precisa ao menos saber sobre o que se trata a droga do livro — Yara rebateu alterada.

— Eu vou falar sobre isso com ele na próxima reunião — falei, totalmente convicta que era o melhor.

— E quando será? — Tasha perguntou.

— E onde? — Yara completou.

— Ainda não sei responder — respondi confusa, já que com Oliver Evans não tem como saber nada.

— Ele não te disse nada? — Ela perguntou.

— Não, apenas falou que entraria em contato para me informar — eu já estava esgotada, sinceramente.

— Então só resta esperar o rei dar a ordem — Tasha disse irônica.

— Rei? — Franzi o cenho.

— É isso que ele acha que é — completou revirando os olhos.

— Capaz dele querer que você adivinhe o que tem escrito no livro dele, imagina? — Brincou, mas eu fiquei séria cogitando aquele absurdo em minha mente. — Eu estou brincando — falou ao ver que fiquei séria demais.

Eu estava mesmo ficando louca com isso ao ponto de levar uma coisa dessas em consideração. Oliver Evans não pode ser tão louco a esse ponto. 

Pode?

❝ ❞ 

Voltei com as minhas amigas à editora para terminar alguns trabalhos e informar ao Sr. Kim como foi a reunião, claro que para ele eu não contei os detalhes sórdidos, apenas disse que foi uma boa reunião e que tínhamos grande chance de fechar contrato.

Eu sei que coloquei minha cabeça na forca com isso, mas eu não podia dizer que Oliver Evans é louco e que é pouco provável que feche o contrato conosco já que não sei o que ele quer de mim.

Eu preciso me esforçar bastante para reverter essa situação e convencê-lo que o melhor é ficar com nossa editora. Mas eu sei que pra isso preciso entender melhor o que ele quer, como as meninas disseram, essa será a prova da minha vida. Decifrar o Oliver e seu livro.

Ao chegar em casa, guardei minhas coisas e fui direto ao banheiro para tomar banho. A água morna sempre me relaxa, passei uns bons minutos embaixo do chuveiro para relaxar os músculos. As meninas me chamaram para jantar, mas tenho que parar de gastar tanto para ajudar meus pais. Mamãe não trabalha mais, então a renda diminuiu um pouco e eu quero poder ajudar no que precisarem.

Quando saí do banho fui à cozinha para preparar meu jantar, tendo o cuidado de fazer algo saudável porque minha mãe sempre me alertou e disse que no dia que chegar aqui em casa e encontrar apenas "besteiras" em meu armário, eu volto a morar com eles. Não que eu não gostasse de morar com os meus pais, mas é bom poder ter privacidade, ter um lugar para chamar de meu, ainda que seja pequeno. Eu sinto falta deles, mas gosto do meu apartamento.

Assim que terminei de cortar os legumes, meu celular vibrou com uma nova mensagem do assessor do Sr. Evans perguntando se posso me reunir com ele amanhã de manhã em sua casa. Eu confirmei, claro, espero que dessa vez eu tenha algum progresso.

Na manhã seguinte eu acordei cedo e me preparei psicologicamente para enfrentar mais uma reunião inusitada com o escritor. Organizei alguns documentos em minha pasta, peguei tudo que precisava e dirigi seguindo o GPS até o endereço enviado por Heitor ao meu celular.

Quando cheguei ao meu destino, estacionei o carro em frente a casa dele. Era uma casa bonita, tinha um portão grande e um jardim bem cuidado. Desci do carro e toquei a campainha, segundos depois ouvi a voz do seu assessor através do interfone.

Pois não? — Disse.

— Oi, Heitor, cheguei para a reunião — falei dando a entender que reconheci sua voz. — É a Jane — e completei pro caso dele não ter reconhecido.

Ah! Senhorita Becker — pareceu surpreso. Ficou em silêncio por um tempo, como se pensasse antes de finalmente voltar a falar. — Pode entrar.

O portão foi liberado e eu passei por ele indo em direção a porta de entrada. Bati na porta e uma moça veio atender.

— Bom dia, senhorita Becker — ela me recebeu educadamente. — Entre, por favor — se afastou um pouco para que eu passasse.

— Obrigada — agradeci meio sem jeito ao ver como a casa era bonita por dentro.

— Sente-se — indicou a sala onde havia um sofá branco e grande, duas poltronas na cor bege e uma cadeira de madeira com assento acolchoado também bege. — Aceita algo para beber?

— Não, eu estou bem, obrigada.

— Tudo bem — abriu um pequeno sorriso. — Fique à vontade. O Sr. Evans já virá recebê-la.

— Obrigada — assenti e me sentei no sofá.

Quando a moça saiu, aproveitei para observar melhor o local. Uma estante grande com vários livros ocupava uma boa parte de uma das paredes, o que entregava o gosto pela leitura do dono da casa e uma mesa de centro enfeitava o ambiente em frente aos sofás. Mas o que me chamou a atenção foi o ambiente que dava pra ver através da grande porta de vidro que ficava de frente pro sofá onde eu estava sentada.

Era um ambiente externo com sofás organizados em círculos de frente para uma piscina, do lado dava pra ver um jardim bem cuidado com algumas flores coloridas. Eu me levantei para ir até a porta e matar minha curiosidade de até onde aquele jardim ia, mas parei assim que ouvi um grito.

— EU ODEIO ELE! — Era a voz do escritor mais alta e alterada que o normal.

— Por favor, acalme-se! — Ouvi a voz terna de Heitor.

— É impossível — o outro rebateu com a voz ainda alta.

Um silêncio estranho foi instalado depois disso, eu ainda conseguia ouvi-los conversando, mas não consegui assimilar o que diziam. Fiquei assustada com o que pudesse estar acontecendo, então voltei para o meu lugar e me sentei no sofá permanecendo quietinha ali.  Alguns minutos depois Heitor apareceu na sala em que eu estava.

— Senhorita Becker — disse um tanto constrangido ao me ver. — Me desculpe fazê-la esperar tanto.

— Não faz tanto tempo assim — me adiantei em falar, mas fazia sim. — Não se preocupe.

— Obrigado por entender — me mostrou um sorriso sem graça. — Mas lamento dizer que o Sr. Evans não está se sentindo muito bem — disse um tanto tenso. — A senhorita se incomodaria em remarcarmos a reunião para um outro dia?

— Ele está doente? — Tentei puxar assunto e descobrir o motivo dos gritos.

— Ele apenas está indisposto — respondeu, mas não senti credibilidade alguma em sua voz. — Eu deveria tê-la avisado antes, sinto muito pelo inconveniente e…

— Heitor! — O escritor gritou novamente interrompendo a fala do seu assessor. O que o assustou já que dessa vez o grito foi diferente do outro que ouvi. Foi um grito angustiado antecipado por um barulho de vidro sendo quebrado.

— Minha nossa! — O assessor saiu da sala aterrorizado sem dizer mais nada. 

Sem saber o que fazer, eu fui atrás dele.

Chegamos em um escritório e o Sr. Evans estava sentado em sua cadeira com a mão ensanguentada rodeada por cacos de vidro em cima da mesa e um monte de papel jogado pelos cantos, além de objetos quebrados pelo chão e o cheiro de álcool no ar.

— O que aconteceu? — Heitor correu em sua direção. Pegou alguns lenços de papel que estavam sobre a mesa e tentou limpá-lo com cuidado.

— Eu apertei o copo com força e ele quebrou em minha mão — explicou e soltou um gemido de dor quando o assessor pegou seu pulso. Dava pra ver alguns cacos de vidro grudados em sua pele.

Heitor começou a tirar cada um com cuidado enquanto o escritor soltava gemidos de dor a cada ato seu. 

— Acho melhor lavar — eu falei ao me aproximar e ver que sua mão estava sangrando muito e seria difícil ver todos os cacos miúdos. 

— Senhorita Becker? — Me olhou com estranheza. — Achei que já tinha ido — disse ríspido.

— Eu já estava indo, mas ouvimos o seu grito e... Depois explico, melhor cuidar disso antes — apontei para a sua mão.

— A senhorita pode ajudá-lo, por favor? — Heitor pediu. — Preciso limpar isso, a bebida que estava no copo e o sangue acertaram alguns documentos importantes…

— Não precisa — o escritor resmungou ranzinza interrompendo a fala do outro. — Eu mesmo lavo — se levantou, mas se desequilibrou e quase caiu se o Heitor não o segurasse antes.

— Eu disse que não era uma boa ideia beber de estômago vazio — repreendeu-o antes de olhar para mim. — A senhorita pode ajudar? — Eu assenti e fui em direção a eles assumindo a sua posição.

Passei o braço do escritor por meus ombros e comecei andar com ele para fora do escritório. Não foi tão fácil porque além dele ser maior que eu, estava mole, o que aumentou o peso do seu corpo contra o meu. 

— O senhor terá que me indicar onde fica o banheiro — falei ao sairmos.

— Final do corredor, a porta de frente — falou meio embolado. Sua voz e o cheiro forte de álcool não escondiam que ele estava bêbado. 

Eu assenti em silêncio e segui pelo corredor arrastando ele até chegarmos a porta indicada por ele antes. A abri com um pouco de dificuldade, mas fiquei besta ao perceber que era seu quarto. Um quarto muito luxuoso, diga-se de passagem. Eu fiquei olhando embasbacada ao redor, as cores harmoniosas com o preto predominando, uma janela enorme de vidro de frente para a cama que tinha vista pro jardim. Eu olharia mais se não fosse a voz do escritor me chamando.

— Você pode olhar meu quarto depois, preciso ir ao banheiro agora — disse me fazendo voltar à realidade.

— Desculpe — pedi envergonhada por ter sido pega bisbilhotando.

— Ali, naquela porta — indicou uma porta grande ao lado.

Assenti mais uma vez e caminhei com ele até lá. Atrás da porta tinha um closet e uma porta de vidro transparente revelando o banheiro.

E que banheiro, quero morar nele. Foco, Jane!

Levei-o até lá e o ajudei a lavar as mãos na pia. Tive que fazer um malabarismo na verdade, porque eu tinha que segurá-lo para que não caísse e ajudá-lo a lavar a mão.

Com cuidado retirei os pequenos cacos de vidro que estavam grudados em sua pele, limpei todo o resquício de sangue, depois consegui fazê-lo sentar-se no vaso sanitário. Ele me mostrou onde ficava a caixinha de primeiros socorros, então me ajoelhei em sua frente, passei remédio nos cortes, coloquei alguns curativos e enfaixei sua mão para que ele não se machucasse ao mexê-la. 

— Ainda está doendo muito? — Perguntei ao ver sua cara mais aliviada quando terminei.

— Só arde um pouco, mas não está doendo — respondeu encarando a própria mão.

— Quer que eu pegue algo para vestir? — No percurso do escritório até seu quarto ele apoiou a mão no corpo e sujou a camisa de sangue. — Sua camisa sujou — apontei.

— Não quero dar mais trabalho — resmungou.

— Não é nenhum trabalho, já volto — me levantei e fui até seu closet. Fiquei totalmente perdida, por isso voltei para a porta do banheiro. — Pode me dizer onde eu acho uma camisa? — Perguntei sem graça.

— Lado esquerdo, terceira prateleira da primeira parte — respondeu depois de soltar uma risada nasalada.

Tinham várias camisas de manga longa, peguei a primeira, preta, e voltei até ele.

— Aqui — o entreguei.

— Posso abusar só mais um pouco da sua boa vontade? — Ergueu a cabeça para me encarar. 

— Pode, claro — respondi prontamente. 

— Me ajuda a lavar o rosto? Eu bebi de estômago vazio e como deu pra perceber estou um pouco tonto — falou.

— Claro — o ajudei a ficar de pé e segui com ele até a pia novamente.

Ele passou água com a mão boa no rosto e aproveitou para passar a mão molhada nos cabelos já que esses insistiam em cair em seu rosto.

Após ajudá-lo a se lavar, o ajudei a sentar no mesmo local de antes para que ele se vestisse e aproveitei para procurar algo na caixinha de primeiros socorros para ajudar com a tontura e a possível dor de cabeça que surgiria. Achei uns comprimidos e os peguei, quando me virei para ele o vi lutando para passar a camisa pela cabeça para retirá-la do corpo.

— Me deixe ajudar — deixei o remédio na caixinha e o ajudei com a camisa.

Quando retirei o tecido do seu corpo tive que me esforçar muito para não olhar para o seu peitoral desnudo. Não queria parecer uma pervertida, então me obriguei a olhar apenas para seu rosto focando em ajudá-lo a se vestir com a camisa limpa.

— Obrigado — murmurou quando já estava vestido.

— O senhor deveria comer alguma coisa — falei, após esboçar um pequeno sorriso aceitando seu agradecimento. — Depois tome um comprimido desse — tirei a cartela de remédio da caixa. — Vai ajudar com a tontura, esse outro aqui — mostrei o outro comprimido. — Caso sinta dor de cabeça.

— Não estou com fome — falou rápido. — Mas vou tomar o remédio — estendeu a mão para pegar.

— Não é uma boa ideia, o senhor já bebeu de estômago vazio, tomar remédio assim pode não ser muito bom — tentei alertá-lo.

— Eu vou ficar bem — disse ríspido. — Só preciso descansar um pouco — fez uma careta ao colocar a mão não machucada sobre a têmpora.

— Já está com dor de cabeça?

— Sim — afirmou seguindo de mais uma careta.

— Então, deveria fazer o que eu disse — falei com cautela para que ele não se irritasse mais. — Comer vai ajudar com a dor de cabeça também.

— Minha dor de cabeça não vai passar com remédio e comida, Becker — falou sério ao levantar o olhar para mim. — Só vai passar quando o causador dela me deixar em paz.

— Quer conversar sobre o que te deixou assim? — Perguntei com certo receio.

— Agradeço, mas eu não te conheço para te falar sobre minha vida pessoal — disse grosseiro. — Mesmo estando em minha suíte, não somos próximos e não te dei essa liberdade.

A forma que ele falou deu a entender que ele queria me lembrar de quem eu era e de quem ele era. 

"Não somos iguais, Becker, procure o seu lugar."

E eu entendi perfeitamente o recado.

— Desculpe, não quis ser inconveniente — pedi totalmente constrangida.

Ele ficou em silêncio me encarando com a feição séria como se concordasse que eu estava mesmo sendo inconveniente. 

— Eu já estou indo — entreguei os remédios em sua mão. — Aguardo o seu contato sobre nossa próxima reunião. Com licença, Sr. Evans — lhe dei as costas e saí sem ouvir sequer uma palavra a mais vinda dele.

Idiota!

Jay Virgin

Olá! Obrigada por estar aqui. Espero que esteja gostando da leitura.

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