Capítulo 13 - Weenny: Alguns Mistérios São Revelados

― Peço licença para tirar a Weenny de perto de vocês por alguns instantes, muitas pessoas desejam vê-la e não queremos incomodá-los ou causar tumulto. – Eros diz olhando para Victor e Filipe.

Depois de um discreto cutucão de Marília, eles respondem com um sinal afirmativo. Eros segura a minha mão e me conduz para a mesa dele, me sinto incomodada com os olhares que parecem ser tanto de curiosidade quanto de inveja, já que, aparentemente, muitas mulheres estão interessadas nele desde que ele entrou nesta boate.

Michele levanta para nos acompanhar, mas acredito que algo a detém.

Na mesa do Eros estão seis casais que conheço muito bem e outras duas mulheres que aparentam ser francesas, mas ainda não as conheço. Paramos diante deles, os doze rapidamente ficam em pé, curvo minha fronte para cumprimentá-los, então todos correm para me abraçar e festejar.

Ah, como sinto falta de cada um deles e de todo esse carinho!

Conversamos por algum tempo e quando retorno para a mesa do Victor, todos estão me olhando com certa estranheza.

― Por que nunca nos contou? – rapidamente Samara me questiona.

Tento entender o que Samara quer saber.

― A Michele disse que você é bailarina principal de uma companhia de dança. Por que você nunca nos contou? – Carol me pressiona.

― Ela não sabe quem é o seu ex? – Mayara pergunta.

― Quer dizer que você dançava com um cara enquanto... – Victor não consegue terminar a frase.

― Ok, vou lhes dizer resumidamente. Sim eu sou bailarina, desde dois mil e onze, faço parte de uma companhia de dança específica para casais, por isso tenho um partner. Não é segredo para ninguém o quanto meu ex era ciumento e possessivo e que jamais suportaria me ver dançar com outro homem, então me senti obrigada a escolher entre essa paixão e o sonho de dançar, é claro que abandonei meu sonho, mas não podia imaginar o quão infeliz eu seria depois de dessa escolha. – esclareço.

― Não estou entendendo muito bem. – Mayara realmente parece confusa.

― É que eu... – Victor começa a explicar.

― Esqueçam sobre esses relacionamentos porque são parte de um passado que faço questão de enterrar. Peço apenas que continuem a chamar os rapazes de Victor e Filipe. – Victor quer tentar explicar, mas eu sou mais rápida ao interrompê-lo.

Prefiro não esclarecer tudo para não nos expor ainda mais. Victor ainda está com um olhar de arrependimento, confusão e ciúmes. Filipe parece triste e com raiva, enciumado talvez.

― Por que seu ex-namorado sentiria tanto ciúmes a ponto de você precisar escolher entre a dança e o seu namoro? E quem é esse partner? – Melissa está curiosa.

― Por que nossas coreografias são muito sensuais. Ele é o... – começo a responder, mas sou interrompida pela presença do Eros.

Mudo de assunto rapidamente, as meninas convidam Eros para sentar conosco, ainda que seja por alguns minutos, ele acaba aceitando por educação.

― O que houve? – pergunto porque vejo uma certa preocupação em seus olhos.

― Eles foram tomados por uma alegria tão grande ao te ver, que foi impossível esconder das examinadoras quem você é. Aquelas mulheres, que estão na minha mesa, são Anne e Marie, as examinadoras da especialização. – ele explica e suspira com pesar.

Faço um gesto pedindo que prossiga.

― A última e mais importante avaliação da especialização é composta por duas notas, a do trabalho de conclusão do curso e a da apresentação final. Desde o começo eu sabia que seria impedido de receber o diploma porque não poderia fazer a apresentação final, já que deveria ser com a minha partner... – Eros revela.

― Continue. – eu peço.

― Até agora, tudo o que elas sabiam a seu respeito era o seu nome e os elogios às nossas performances, mas agora elas sabem quem você é e estão exigindo que façamos a apresentação final aqui mesmo, ainda esta noite. – termina seu desabafo.

Procuro entender na profundidade do seu olhar o motivo para ele ter arriscado não concluir a especialização, afinal Michele pode dançar com ele!

― Tenho apenas uma partner e ela é insubstituível. – Eros sussurra a resposta para a minha pergunta não verbalizada.

― Qual coreografia? – pergunto, agitada e temerosa.

― Precisa ser uma coreografia complexa, por isso penso em “A magia do tango”. O que me diz? – Eros pergunta, sei que aguarda a minha resposta com inquietação.

― Mas será que ainda sou capaz? Sem ensaio e sem as roupas adequadas? – digo isso ao constatar que meu vestido está bem longe de ser o ideal para essa dança, além do receio de ter esquecido a coreografia.

Noto o silêncio e que todos estão inclinados para ouvir a nossa conversa, mas não me importo.

― Você sempre foi magnífica nas pistas de dança, ensaios nunca nos fizeram falta, você sabe disso. Ah, a figurinista da faculdade desejava ver as roupas das nossas coreografias e eu trouxe para ela, estão todas no micro-ônibus, inclusive a desse tango... Então a decisão é sua. – Eros diz.

― Não quero envergonhá-lo e também não posso lhe negar esse pedido. – eu confesso.

Eros abre um largo sorriso, seguido de um discreto suspiro de alívio.

― Vou providenciar tudo e já volto. – ele diz e toca na minha mão, pede licença e sai da nossa mesa.

Eu o observo por um breve momento, noto que ele vai até o gerente, fala algo e o homem aponta para o lado direito da pista de dança, Eros agradece com um aperto de mão. Logo em seguida retorna para sua mesa, fala algo para as examinadoras e segue para o estacionamento.

Olho para minhas amigas, Melissa, Marília, Victor e Filipe, noto que estão confusos com tudo o que têm visto e ouvido.

― Seu partner então é o Eros? - Samara e Carol perguntam ao mesmo tempo.

― Aquele gato maravilhoso? – Marília diz e ganha um cutucão do irmão.

― Vão mesmo dançar agora? E um tango? – Melissa parece maravilhada com essa possibilidade.

Já sinto a ansiedade dar sinais de sua presença, vou voltar a dançar depois de tanto tempo e assim de repente e sem nenhum ensaio.

― Sim, Eros é e foi meu partner desde que formamos a companhia de dança. – resolvo confessar.

― Ah não Weenny, você não vai dançar com esse cara... – Victor esbraveja.

― Não lhe devo satisfações! – respondo para Victor com raiva nos olhos.

O gerente vem até a nossa mesa.

― Senhorita Weenny? Sou Raul, o gerente desta casa. Há um pequeno camarim disponível para a senhorita, ao lado direito do palco, sua roupa já foi levada para lá, quando estiver pronta, farei o anúncio de sua apresentação com o Senhor Eros. – ele diz.

Agradeço a gentileza do Raul e a rapidez ao nos atender.

Levanto e vou até esse camarim, fecho a porta, vejo meu vestido pendurado em um cabide próximo ao espelho, olho para ele enquanto lembro das muitas vezes que ensaiamos esse tango, estávamos prontos para apresenta-lo quando eu abandonei tudo.

Coloco o vestido, ele é longo, tem um decote profundo nas costas e uma generosa fenda que deixa quase que toda minha perna direita a mostra. Prendo meus cabelos em um coque.

Pego a minha bolsa, estou satisfeita por ter tido a idéia de trazer a maquiagem, principalmente o lápis para os olhos e outra cor de batom, faço a maquiagem, decido usar um batom vermelho vivo.

Vinte minutos depois, volto para a minha mesa, eles me olham com certa estranheza, nenhum deles havia me visto com uma roupa tão provocante.

― Cadê o resto da roupa? – Samara provoca e sorri maliciosamente.

É uma brincadeira que costumamos fazer quando achamos que a roupa está muito curta ou mostrando demais, ouço e não respondo nada.

Estou ansiosa, mas tento me controlar, vejo a bebida da Samara e peço um pouco, eu não costumo beber nada alcoólico, mas preciso relaxar, no primeiro gole que dou, engasgo.

― Não adianta, não consigo beber. Agora tenho que ir. – digo isso enquanto devolvo a bebida dela.

Vejo Michele sair da mesa do Eros e vir em minha direção.

― Quebre a perna! Finalmente a nossa rainha está de volta. – Michele expressa o desejo de sorte como os bailarinos costumam fazer, além de celebrar o meu retorno a companhia de dança, sorrio para ela.

Eros agora veste um terno preto, está em pé perto do bar, ao lado do gerente, faço um sinal para que ele saiba que estou pronta, nós ainda conversamos pelo olhar.

Ele caminha em minha direção e oferece sua mão direita, sempre age assim quando quer me conduzir, ponho a minha mão esquerda sobre a dele e vamos até a pista de dança.

― Agora vocês terão o prazer de assistir Eros e Weenny em a magia do tango. – o gerente faz questão de anunciar.

É uma sensação deliciosa estar no palco novamente, fecho os olhos por um momento e me posiciono atrás do Eros para o início da coreografia, a música começa e acaricio o tórax dele, recebo um carinho em minha mão e logo ele me agarra em seus braços fortes e me conduz nessa coreografia intensa.

Dançamos com tanta sensualidade que é difícil ter autocontrole, abusamos do contato entre os nossos corpos, percebemos uma certa agitação das pessoas que nos assistem, quando nos aproximamos mais ou quando nossas mãos percorrem o corpo um do outro.

Assim que terminamos o tango, os homens da companhia de dança se levantam e jogam rosas vermelhas em nossa direção, Eros pega uma das rosas no ar, a usa para acariciar meu rosto e depois a coloca no meu cabelo. Posso sentir que todas as mulheres do salão querem estar em meu lugar neste momento.

De mãos dadas, caminhamos na direção dos nossos amigos bailarinos, que nos esperam em pé, nos aplaudem e se curvam diante de nós, sorrimos em retribuição.

Então seguimos para a minha mesa, onde estão minhas três amigas, Victor, Filipe, Marília e Melissa.

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