O Grito e a Ferida Exposta
Lila Duarte
Eu não consegui dormir. A confissão de Aaron ecoava nas paredes de madeira do meu luxuoso e solitário quarto. A neve caindo lá fora parecia abafar o mundo, deixando apenas a minha raiva e a minha atração como ruídos audíveis. Eu sabia que ele estava no quarto ao lado, e a proximidade era uma tortura.
Eu havia me virado na cama pela décima vez, quando o som me fez sentar bruscamente.
Não era um barulho de queda ou um ranger de madeira. Era um grito alto e estridente, misturado com o som de vidro se quebrando. Um som de dor pura, não de raiva. Meu coração disparou.
A questão é que somente tinha eu e Aaron Meneses aqui nesse lugar.
O chalé era isolado. O mordomo morava em uma ala separada e não estava de plantão à noite. Éramos apenas nós dois, a montanha, o silêncio e o pânico.
Não hesitei. A fúria da noite anterior foi substituída pelo instinto de socorro. Eu era a pragmática, a que resolvia crises. E, apesar de tudo, ele ainda era o meu pacien