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Entre a Fé e o Acaso
Entre a Fé e o Acaso
Por: Vivi Azevedo
Dois mundos, Um algoritmo

O despertador tocava, mas Ane já estava acordada. O cheiro do café preparado pela mãe vinha da cozinha e misturava-se ao barulho das panelas e da TV ligada em volume alto demais para aquela hora.

A vida em Salvador tinha dessas coisas: barulhenta, viva, cheia de gente em volta. As cores vibrantes das casas coloniais, o burburinho constante das ruas e o calor úmido que abraçava a cidade eram parte intrínseca de sua existência, moldando sua resiliência e seu jeito de encarar o mundo.

Ela amava a energia caótica, a forma como a vida transbordava em cada esquina, mas às vezes, a intensidade a deixava exausta.Aos 42 anos, Ane equilibrava a rotina de ex pedagoga com o caos da casa que dividia com duas mulheres: a mãe, de 68 anos, e a filha de 22, estudante de Direito, determinada e cheia de opiniões.

Às vezes, parecia que Ane tinha duas adolescentes sob o mesmo teto, cada uma querendo dar a última palavra. A dinâmica familiar era um espetáculo à parte, com discussões acaloradas sobre tudo, desde a política local até a melhor forma de cozinhar.

Ane, navegava por essas águas turbulentas com um sorriso no rosto, sabendo que, no fundo, era tudo amor.— Mãe, você sempre deixa a TV muito alta! — resmungava a filha.

— E você fala alto demais, menina! — retrucava a avó, sem tirar os olhos da novela reprisada.

Ane ria, acostumada. Apesar das pequenas discussões, sabia que tinha sorte: a mãe era seu apoio, e a filha, sua esperança.

A solidão, no entanto, era uma sombra persistente, um vazio que nem mesmo o amor da família conseguia preencher. Ela ansiava por uma conexão mais profunda, um parceiro para compartilhar os altos e baixos da vida.

Ainda assim, havia dias em que sentia falta de algo — ou de alguém.“Deus, eu sei que tudo tem seu tempo... mas o meu relógio já está cansado de esperar”, pensou, ajeitando o cabelo diante do espelho. A fé de Ane não era dogmática, mas uma crença profunda na ordem do universo e na existência de um propósito maior, uma força que guiava seus passos e a mantinha de pé.

Do outro outro lado do mar, em Cienfuegos, Moreno percorria a orla ainda vazia. O sol nascia, refletindo na pele negra e alta de 1,84m que carregava a disciplina de quem já fora atleta. O cheiro salgado do mar e a brisa suave da manhã eram seus companheiros diários, um lembrete constante da simplicidade que ele buscava na vida. Agora, aos 42, ele ensinava jovens a amar o esporte como ele um dia amou competir, transmitindo não apenas técnicas, mas também a paixão e a dedicação que o esporte exigia.

A vida dele, no entanto, era simples demais. Poucos amigos — quase nenhum. Apenas colegas de trabalho, duas irmãs mais velhas, alguns sobrinhos, e os pais, com quem dividia a casa.

Os dois tinham 68 anos, e mesmo aposentados, o pai ainda saía cedo para trabalhar. Moreno sentia o peso da rotina, a ausência de um propósito maior além do trabalho e da família. Ele ansiava por algo que o tirasse da monotonia, algo que reacendesse a chama da vida.

Moreno não se iludia: já tinha vivido relacionamentos intensos, mas em muitos fora trocado, descartado. Carregava cicatrizes no coração. Apesar disso, ainda acreditava no amor, mesmo sem acreditar em Deus. Sua descrença não era uma negação, mas uma constatação de que a vida era feita de escolhas e consequências, e que o amor, para ele, era uma construção humana, não divina.

Naquela noite, cansado, pegou o celular. Rolou a tela sem ânimo, até que o aplicativo de namoro piscou.

No Brasil, Ane, quase por impulso, tinha feito o mesmo. Preencheu o perfil sem grandes expectativas. “Se não der em amor, pelo menos dá pra rir das histórias”, murmurou.Foi então que o destino — ou talvez o algoritmo — entrou em cena.Na tela de Ane surgiu Moreno: olhar profundo, sorriso carregado de histórias, semblante que misturava força e melancolia.

Na tela de Moreno apareceu Ane: uma mulher de postura firme, mas com um brilho escondido que denunciava doçura e fé.Ela hesitou. Ele também. Mas quase ao mesmo tempo, deslizaram o dedo para a direita.E assim, com um simples “olá”, duas rotinas diferentes se chocaram.Ane e Moreno ainda não sabiam, mas aquela conversa mudaria tudo.

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