Narrado por Cobra
Fala aí, mano. Sou o Fábio, mas no corre sou conhecido como Cobra. Tenho 45 anos. Comecei no comando como aviãozinho, subindo degrau por degrau até ser reconhecido como o melhor executor do Complexo. Desde os 15 anos, sou o cara que faz a “limpeza”, aquele que apaga sem deixar rastro. Hoje, o nome Cobra pesa nos becos e vielas como sentença de morte.
Aos 25, conheci a mulher que mudou minha vida. A filha de um dos donos de morro mais temidos. A nossa história começou como proibida, mas era amor de verdade. Fugiu numa noite chuvosa pra minha casa, dizendo que não aguentava mais ser controlada. O pai dela jurou vingança, deixou claro que nunca deixaria nossos filhos nascerem. Mal sabia ele que ela já carregava duas vidas no ventre.
Naquela manhã, lembro como se fosse ontem. Acordei e percebi que a cama estava vazia. Ouvi barulhos no banheiro. Corri até lá e encontrei minha mulher ajoelhada, chorando e vomitando.
— O que tá acontecendo? Tá passando mal? Quer que te leve