Ponto de Vista de ScarlettSebastian coloca o celular entre nós, no modo alto-falante.Em silêncio, abraço meus joelhos e encolho os dedos dos pés para que não toquem no celular dele. Ele me lança um olhar significativo enquanto atende a Ava: — Vou ligar para o Jack antes de mandar um médico. Tente descansar se puder, senão não vai conseguir ir à sua própria festa de aniversário... Ava explode em choro e eu me afasto do celular.Sebastian pega o telefone e o coloca ao lado, longe de mim. Ele se aproxima um pouco mais e coloca sua mão quente na minha canela, massageando lentamente com uma força suave. Dou uma franzida de nariz para ele, digitando no meu celular:[Você está fazendo isso só pelo bem do bebê!]Ele quase solta uma risada quando vejo minha tela, tendo que limpar a garganta para disfarçar o riso.— Sebastian? — O murmúrio de Ava, magoado, sai pelo telefone, insistindo quando ele não responde a tempo.— Desculpe, o que você disse? — Sebastian olha para o celular, co
Ponto de Vista de Scarlett— Sinto muito... — Sebastian agarra a moldura da nossa porta com tanta força que seus dedos ficam brancos. — Eu... Eu...Ele gagueja por um longo tempo, mas nenhuma palavra sai.O que ELE poderia dizer? Horas. Apenas algumas HORAS depois de ter dito "não", ele está a caminho de vê-la, no meio da noite.Porque Ava cortou o próprio pulso.— Eu... Eu não vou fazer nada inadequado com ela. Eu só... — Com a luta evidente nos olhos, Sebastian tenta se explicar, para mim ou para si mesmo. — Quero dizer, você pode vir junto se...Levanto as sobrancelhas e ele imediatamente acrescenta:— Sinto muito! Eu não quis dizer isso, não estou pedindo para você vir ajudá-la! Eu juro!Suspiro. Só algumas horas atrás, eu pensei que poderíamos recomeçar. Eu pensei que, se Sebastian ficasse ao meu lado contra Ava, talvez tivéssemos uma chance de manter nossa família unida. Eu estava errada. Enquanto Ava existir no coração dele, ela pode cavar um buraco em nossa família, não
Ponto de Vista de ScarlettBom, tudo bem, se o “logo” for como cinco minutos!Mal consegui me sentar na cama antes dele voltar. Nem ouvi o som do motor se aproximando. Não ouvi nada até ele abrir a porta. Quer dizer, eu nem percebi se ele saiu de fato, porque estava irritada. Talvez ele nem tenha saído.— Ainda estou irritada, mesmo que você tenha saído por cinco minutos! — Resmungo para mim mesma, contando os segundos depois de ouvir ele fechar a porta lá embaixo.Fracassei completamente em segurar meus lábios de se curvarem.Eu realmente não achava que ele voltaria. Quero dizer, a vida da Ava está em jogo. Fiquei surpresa o suficiente por ele não ter me pedido para ir ajudá-la.Não sei se ele teria voltado se eu não estivesse grávida, mas mesmo que tenha feito isso mais pela criança...Talvez tenhamos uma chance de fazer o casamento dar certo.Eu não sabia que ele se importava tanto com o bebê. Depois de desligar com a Ava, o idiota me fez mil perguntas sobre a criança. Eu nã
Ponto de Vista de ScarlettForço minha mente a não pensar na probabilidade de que Sebastian tenha sido o responsável por desenterrar minha velha caixa de arte, talvez movido pela saudade, mantendo-a perto de onde ele dorme, cuidando dela.Salvar meu bebê é o mais importante agora. A arma é apenas um último recurso. Eu realmente gostaria de não precisar usá-la. Não tenho intenção de lutar contra ninguém com um peso de vários quilos na barriga.Chamar por ajuda seria o ideal. Mas como? Como, sem meu celular?Meus olhos se fixam no sistema de segurança da janela. Qualquer janela ou porta danificada na casa dispararia instantaneamente um alarme. O número de telefone de emergência registrado é o meu, então, se eu não ignorasse ou desligasse o alarme, a empresa de segurança viria verificar.Mas quebrar a janela significa expor a minha existência.Preciso disparar o alarme o quanto antes, mas, uma vez acionado, todos os que estão na casa virão atrás de mim. Quanto tempo eu conseguiria s
POV da ScarlettMeus ciclos menstruais nunca foram regulares, mas, ainda assim, eu deveria ter percebido.Náusea, cansaço, mudança no paladar... Você acharia que seria óbvio, mas você só percebe, depois, quantos sinais ignorou.Assim como eu venho ignorando os sinais gritando para mim de que o homem com quem eu estava casada nunca me amaria de volta, por mais que eu tentasse.Eu vim para a consulta de saúde pensando: "Qual é a pior coisa que pode acontecer? Se fosse câncer, eu conseguiria lidar."Mas com isso eu não conseguiria lidar.Um bebê.A melhor coisa chegando no pior momento.Não sei quando sentirei aquele amor materno poderoso que sempre ouvi falar, mas tenho certeza da reação DELE. Ele vai odiar o bebê.É melhor que seja apenas um câncer. Pelo menos isso faria um de nós feliz.Sentada no lobby movimentado do andar da maternidade, sozinha, tento absorver a notícia. Meus esforços são em vão. De repente, meus olhos se enchem de lágrimas, enciumada pelos casais felizes e amorosos
POV da ScarlettSentada no táxi a caminho de outro hospital – o hospital onde ELA está, para vê-lo. Eu me sinto mal. Enjoo de carro, enjoo matinal, ou apenas... enjoo dessa viagem.Essa é a viagem que mais odeio, e é uma viagem que venho fazendo há dez anos: ela está sempre no hospital, e ele está sempre perto dela, mesmo antes do nosso casamento.Isso é o que acontece quando o homem de quem você gosta ama sua irmã que tem a doença de von Willebrand, combinada com o tipo sanguíneo RH-, nada menos.Sim, a doença em que a pessoa não pode se curar de sangramentos, com o tipo sanguíneo que apenas 0,3% das pessoas possuem.Até mesmo um pequeno corte no dedo pode ser letal para ela. Por isso, ela é o tesouro mimado de toda a família, a intocável, o milagre que consegue tudo o que quer só por existir.Eu? Até a minha existência é ignorada.Meus pais só têm Ava em seus olhos. Meu irmão me odeia como se eu tivesse roubado a minha saúde de Ava.Não, eu apenas roubei o homem dela.Mas eles já me
POV da Scarlett— O transplante de medula óssea foi há três meses, boba.A risada de Sebastian segue o pedido dela até o corredor vazio.Coloco minha mão na maçaneta da porta, mas não consigo encontrar forças para girá-la. Já vi o quanto eles são carinhosos um com o outro, tantas vezes, por tanto tempo.Como se fosse uma tortura, eu simplesmente fico ali parada, ouvindo.— Hoje é só um check-up de rotina, e o resultado tem sido bom todas as outras vezes, não é? — Sebastian conforta.Eu podia ver o sorriso carinhoso dele na minha cabeça enquanto ele acalma o amor de sua vida, sua mão poderosa acariciando a cabeça dela como se ela fosse a flor mais delicada do mundo.Esse calor e esse amor são algo que eu só experimentei uma vez dele e, naquela única vez, eu pensei que tinha tocado o sol. Por aquele único momento de luz que vi na minha vida sombria, eu me joguei em direção ao sol, apostando com tudo o que tinha.E, assim como o sol, ele me queimou.Não importa o quanto eu o amasse, não
POV da ScarlettApago o cigarro na lixeira quando a porta dela se abre.Sebastian franze a testa para mim, permanecendo na porta, a meio corredor de distância de mim. Ele me odeia fumando. Ele me encararia, me repreenderia ou, como agora, ficaria longe, com nojo estampado no rosto.É um hábito nojento, mas uma mulher precisa de ALGO para liberar a dor no peito ou ela vai explodir. Mas, pensando bem, se sua delicada Ava pudesse ter esse hábito, ele com certeza se juntaria a ela.— Então?Ele coloca uma mão no bolso, me encarando enquanto finalmente se aproxima. Ele faz isso quando está impaciente. Como, o tempo todo comigo.Olho para o rosto dele, bonito e dominante, igualzinho ao dia em que ele me encontrou naquela floresta. Mas, naquela época, aqueles olhos eram claros como cristal, com brilhos como a Via Láctea. Agora, são pura escuridão de ódio.Ele estala os dedos para chamar minha atenção.— Desculpe...Eu desvio os olhos para o chão, puxando os papéis do divórcio. Ele estica a mã