No dia seguinte, cheguei ao escritório e imprimi minha carta de demissão.
Cláudio e eu nos conhecemos e namoramos na faculdade. Quando ele entrou para essa empresa de tecnologia, eu o segui, recusei os planos da minha família e o acompanhei desde que ele era um funcionário simples.
Quando estávamos juntos, eu mencionei sutilmente a ideia de casamento. Mas Cláudio estava ocupado com o trabalho e dizia que ainda não tinha uma carreira sólida e que tinha medo que meus pais não o aceitassem.
"Primeiro a carreira, depois a família" era a desculpa que ele sempre dava. Para não sobrecarregá-lo, eu trabalhei a cabeça dos meus pais e nunca revelei minha origem familiar, com medo de pressioná-lo.
Agora que ele era vice-presidente da empresa, quando encontrei o anel no bolso dele, cheguei a pensar que ele finalmente havia decidido me pedir em casamento, mas tudo não passou de um engano.
Uma colega de trabalho se aproximou e viu a demissão na tela do meu computador.
— Letícia, você vai ser promovida a diretora em breve, por que está se demitindo? — Surpresa, ela perguntou.
Eu sorri antes de responder:
— Vou me casar em breve. Talvez procure outro emprego depois.
Paula Sausa também sorriu e me parabenizou:
— Tanta gente no escritório com notícia boa... Ontem à noite, vi as fotos do vice-presidente no Instagram, dizendo que ia noivar!
— Não é à toa que o vice-presidente e a namorada se dão tão bem, dizem que são amigos de infância e que um é a paixão do outro.
Meu sorriso desapareceu. Peguei meu celular e vi que Cláudio havia me bloqueado no WhatsApp.
Ele havia me bloqueado e me apagado da sua conta principal na noite passada, depois que saiu de casa. A conta secundária, que ele usava para o trabalho, mostrava apenas conversas profissionais.
Nesse momento, Cláudio entrou no escritório com Gabriela.
Os dois estavam muito próximos. Gabriela estava com uma expressão radiante e um sorriso que não parecia nem um pouco de uma pessoa doente.
Cláudio, então, apresentou-a a todos:
— Esta é a nova diretora de tecnologia da empresa. Conheçam-na, e vamos trabalhar juntos.
Paula ficou chocada. Olhou de mim para Gabriela e se curvou para cumprimentá-la:
— Olá, senhora diretora Gabriela!
Eu não disse nada, segurando firmemente a carta de demissão, mas Cláudio me olhou insatisfeito:
— Letícia, todos cumprimentaram a nova diretora. Que atitude é essa?
Gabriela deu uma risadinha e estendeu a mão para mim:
— De agora em diante, vamos trabalhar na mesma empresa. Espero que possamos nos dar bem.
Quando estendi a mão, Cláudio puxou a mão de Gabriela de volta:
— Você é a diretora, não precisa se rebaixar para qualquer funcionária. Vamos, vou te apresentar o lugar.
Os dois saíram, me deixando com a mão estendida, parada, como uma palhaça.