Cláudio voltou, parecendo exausto, segurando um buquê de flores.
Ele veio até mim, sem o menor sinal de culpa ou remorso.
— Letícia Lima, trouxe suas lisianthus preferidas.
Lisianthus, símbolo de amor fiel e único. Ver Cláudio segurando aquelas flores parecia uma grande piada.
Peguei o buquê. Cláudio achou que meu humor havia melhorado e começou a se explicar:
— Gabriela Nunes descobriu que está com câncer ósseo. O único desejo dela é se casar comigo. Nós crescemos juntos e eu não podia deixá-la sem que seu desejo se realizasse. Por isso, vamos noivar daqui a três dias.
— Você sempre foi tão compreensiva, tenho certeza de que vai me entender.
O tom dele não era de explicação, e sim de aviso. Noivar com Gabriela em três dias?
Que coincidência, porque em três dias eu também estava planejando ir embora.
Eu apenas concordei silenciosamente.
Cláudio sempre detestou meu temperamento de “patricinha”. Ele dizia que, por qualquer coisinha, eu precisava de atenção e ficava perguntando se ele me amava.
Com o tempo, mudei e aprendi a ter paciência.
Agora que eu não estava fazendo cena, nem o questionando se me amava, Cláudio me olhou surpreso.
— Amanhã vou me mudar para morar com Gabriela. Nos próximos meses, você vai ter que se virar sozinha.
— Gabriela é uma paciente, ela precisa de mim mais do que você.
Dei uma risadinha e larguei as flores. Vendo que eu não me opunha, Cláudio se aproximou para tocar meu rosto.
Eu me esquivei sutilmente. Havia uma marca de batom na gola da camisa dele, e o cheiro enjoativo do perfume me dava ânsia.
Ao ser rejeitado, Cláudio ficou irritado. Ele ficou em silêncio por alguns segundos e então saiu da sala apressado.
Eu joguei as flores e o bolo no lixo e comecei a arrumar minhas coisas.
Não queria as flores, não queria Cláudio, e não sentia mais apego a esta casa onde moramos por seis anos.