Capítulo 229 — Cartas da areia
O segundo amanhecer em Rashalah trouxe um silêncio diferente: não era o vazio da cidade ferida, mas a pausa de quem puxa ar antes de falar alto. O porto recomeçava a mover os ombros — guindastes acordando, água caindo em cisternas, motores testando sorte. Do alto do Palácio do Porto, Isabela prendeu o cabelo num coque improvisado, vestiu uma túnica azul sem adornos e desceu as escadas como quem conhece o caminho desde sempre.
No pátio coberto, seu primeiro Conselho de Bairro já a esperava: doze cadeiras em círculo, sem cabeceira. Pescadores com mãos marcadas de sal; duas parteiras de véu escuro; o professor com giz no bolso; a dona de um armazém; jovens da cooperativa recém-formada; um imã de voz mansa; uma representante das mulheres de doca.
— Bom dia, Sheikha — disse o professor, erguendo-se, cerimonioso.
— Bom dia, vizinhos — devolveu Isabela, puxando uma cadeira e sentando-se no mesmo nível. — O que precisa ser resolvido primeiro?
A mulher do armazém