Duetos de amor: histórias de amores impossíveis
Duetos de amor: histórias de amores impossíveis
Por: Patrick
livro II – O outro I

A viagem dos dois estava ótima. Levy e Enzo nunca imaginaram que poderia ser possível desfrutar de um romance no mundo moderno. Conheceram-se através de um app de pegação gay, o Grindr. Depois de dois dias de conversas intensas, foram para o W******p até que, uma semana depois, se encontraram pessoalmente na praça da Bandeira, centro de Teresina, Piauí, onde moravam, por volta das 10h da manhã de sábado acinzentado.

             Claro que encontros exigem omitir quem realmente somos, ou nada dá certo. Levy era um rapaz de classe média baixa, que estava iniciando mestrado em Direito Trabalhista. Além de muito inteligente, era lindo fisicamente, tinha corpo atlético resultante de muita malhação na adolescência, pele moreno claro e cabelos curtos estilo undercut. Usava um cavanhaque bem cuidado para um garoto de apenas 25 anos. Enzo também era um rapaz bem afeiçoado, de pele branca, como a neve, corpo esculpido naturalmente e muito bem definido e cabelo louro natural. Lembrava um modelo de capa da G Magazine. Quando se viram naquela praça, o clima não era muito favorável. Haviam muitas pessoas movimentado a região, carros passando o tempo todo. Levy usava uma camiseta lilás. Ao chegar, sentou-se próximo a um chafariz e esperou poucos minutos até reconhecer um rapaz louro sarado se aproximando sorrateiramente conforme as fotos que lhe fora enviada.

               – Prazer, cara! – disse Enzo. – Você é o cara do Grindr, não é?

            Meio tenso, Levy respondeu:

             – Sim, sou eu. Você é muito mais bonito pessoalmente!

            Os dois deram um sorrisinho desconfortável e se olharam brevemente nos olhos.

             – Obrigado. Você também é muito interessante. Vamos para um lugar mais reservado...

            – Motel? Já? – comentou Levy, assustado. – Não acha que é muito cedo?

            – Não, cara, relaxa! – Me referia a uma sorveteria ou lanchonete... Estou com fome.

           – Ah, sim. Também estou com fome. Um sundae cairia bem nesse calor escaldante daqui de Teresina. – sugeriu Levy. – Vamos ao Shopping Rio Poty, lá tem sundaes deliciosos, e aproveitamos e pegamos uma sessão de cinema, que tal?

           – Até topo o sundae, mas estou sem tempo para pegar sessão de cinema... Só se for outro dia. – disse Enzo encarando Levy nos olhos, como se escondesse algo que não quisesse revelar.

           – Hum...então vai querer me ver outro dia? – cochichou Levy, já sabendo de como funcionava as relações por aplicativos. – Quero muito te ver amanhã e outras vezes.

        Enzo ficou envergonhado e corou um pouco, mas gostou do que ouviu. Escondeu de Levy que viera de uma família rica e tradicional de Teresina. Caminharam uns quinhentos metros até chegarem onde estava estacionado o carro de Enzo, um corolla 2016 prata. Presava muito por discrição. Apenas um amigo próximo sabia de sua homossexualidade. Temia freneticamente caso alguém próximo ou de sua família descobrisse sua verdadeira condição sexual, pois seus pais eram católicos fervorosos e seu irmão gêmeo idêntico, Mário Lorenzo, era muito machista e conservador. Namorou em todos seus 27 anos apenas uma vez, com um rapaz muito interesseiro e, de lá pra cá, frustrou-se muito com relacionamentos, chegando a ter apenas algumas transas casuais.

        Levy morava em Picos, cidade a 310 km de Teresina. Viera morar recentemente na capital, após a seleção do mestrado. Sempre foi um garoto educado, estudioso e focado nos seus objetivos. Nunca teve problemas com sua condição sexual, sua família, amigos e a sociedade sabiam abertamente que ele era gay. Apesar de muito discreto, repudiava trejeitos afeminados e tinha problemas em se relacionar com outros caras discretos, devido ele ser assumido. Estava gostando de teclar com Enzo, apesar de notar nele certa frieza.

       Dentro do carro, a caminho do Shopping, não trocaram uma palavra nem olhares. Era uma situação extremamente desconfortável. Chegaram em dez minutos e seguiram diretamente para o Habib´s. Ambos pediram um sundae de chocolate com passas e cobertura de kiwi.

             – Você parece ser um cara legal. – disse Levy baixinho, pegando de mansinho nas mãos de Enzo, enquanto tomavam o sundae numa mesa.

Enzo não demonstrou estar incomodado com o gesto do moreno.

           – Obrigado! – sorriu Enzo. – O que quer fazer amanhã? Estou livre para um cineminha!

          – É um convite? Se for, aceito! – e apertou ainda mais forte a mão de Enzo.

            No dia seguinte, não só foram ao cinema na sessão das 22h, mas, também, jantaram num dos restaurantes mais badalados da capital piauiense, o Cabanã Del Primo. O clima entre os dois estava fluindo bem. Quando Enzo já estava indo deixar Levy em casa, aproveitou para beija-lo intensamente na boca, ainda no semáforo vermelho. Ao chegar frente à casa do rapaz, beijaram-se novamente, um beijo com pedida de mais, de uma noite toda de sexo selvagem. Sabia que depois daquele encontro rolaria algo a mais. Torciam para isso, especialmente... Enzo!

           Não demorou muito, dois dias depois, Levy, como quem não queria nada, pediu Enzo em namoro.

               – Olha, cara, sei que está cedo para isso, nos conhecemos por um aplicativo de pegação gay há menos de cinco dias, mas por mim sinto um clima descontraído entre nós... E eu queria levar isso adiante. Que tal? – falou Levy, nervoso, ao telefone. No seu íntimo, esperava levar um fora daqueles.

            – Isso é um pedido de namoro? Se for, a resposta é... – deu uma pausa demorada – claro que SIM! Você é um rapaz incrível e quero muito te conhecer melhor, viajar, sorrir chorar e compartilhar minha vida com você.

         Levy não era tipicamente romântico, mas, ao ouvir aquilo, ficou emocionado, os olhos marejados, a respiração ofegante.

          – Prometo te fazer o cara mais feliz do mundo! – A emoção que Enzo emitia era sentida do outro lado da linha. Levy deu breve suspiro e completou:

          – E eu sei disso e digo o mesmo!

            No dia seguinte, numa manhã caótica com o trânsito teresinense, Enzo foi levar Levy para faculdade de carro. Beijavam-se a cada parada nos sinais vermelhos. Em um momento mais picante dos dois, Enzo desceu a mão sobre o câmbio do veículo, após passar uma marcha, e a pousou na coxa de Levy, em cima do volume avantajado dele.

             – Melhor você descer essa mão boba daqui... Olha como me deixou? – disse Levy, levemente rubro.

            – Você que sabe! – riu Enzo, dando um sorrisinho enviesado e continuando a dirigir normalmente por aquelas avenidas abarrotadas de veículos e pessoas.

           Teresina é uma cidade tipicamente quente, mas não somente pelo sol, há também o calor humano. Em Picos, cidade onde nascera, Levy também se sentia bem recebido e acolhido, mas achava que em Teresina essa sensação era multiplicada por dez. No Piauí, as pessoas costumam ser muito hospitaleiras.

             – Aqui está ótimo. Obrigado! – falou Levy, ao chegarem próximo à Universidade Federal. – Mais tarde eu te ligo. – e deu um beijo de língua demorado no amado, descendo do carro em seguida.

­            – Ok, se cuida, viu! – e saiu.

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