Dois dias se passaram desde a cirurgia, e a recuperação de Marcus começava a mostrar pequenos avanços. As dores ainda eram frequentes, mas controladas, e a equipe médica estava satisfeita com os primeiros resultados. Eveline não desgrudava do marido, mas agora dividia com mais tranquilidade os cuidados com Helena, o que lhe permitia espaços curtos para descansar ou respirar.Naquela manhã, Marcus acordou mais disposto. Os olhos estavam menos pesados, e seu humor, embora ainda sensível, tinha traços de leveza. Quando Eveline entrou no quarto com uma bandeja de café trazida pela enfermagem, ele esboçou um sorriso discreto.— Você parece melhor hoje — ela comentou, ajeitando os travesseiros para que ele se sentasse.— Estou me sentindo menos... destruído — ele brincou, com voz rouca. — Deve ser a sua presença. E esse café com cheiro de amor.Eveline riu, tocando suavemente seu rosto. Era bom vê-lo assim, mesmo que por instantes. Enquanto ele comia, conversaram sobre pequenos assuntos cot
Três dias depois, como previsto, Marcus recebeu alta do hospital. Ainda com os curativos em parte do rosto e orientações médicas rigorosas sobre o repouso, ele foi levado para casa com toda a discrição que a família Castelão sabia manter. Cláudio, o motorista de confiança, conduzia o carro com cautela, enquanto Eveline permanecia ao lado do marido, segurando sua mão e acariciando suavemente seus dedos durante todo o trajeto.Na chegada à mansão na capital, Helena e Eduardo aguardavam na entrada, acompanhados de alguns dos funcionários da casa. A governanta da mansão, Dona Beatriz, estava à frente, organizando os detalhes finais da recepção simples, mas acolhedora. Tudo havia sido preparado com cuidado: flores discretas, o aroma leve de lavanda preenchendo os corredores, e o quarto do casal impecável, com lençóis macios e cortinas abertas para permitir a entrada da luz natural.— Bem-vindo de volta, meu filho — disse Helena, emocionada, abraçando Marcus com carinho.— Estamos felizes q
Uma semana se passou desde que Marcus retornara à mansão na capital. A rotina, apesar de tranquila, estava recheada de cuidados. Eveline seguia com zelo absoluto nas orientações da equipe médica, que agora fazia visitas regulares à casa para acompanhar a evolução da cirurgia.Naquela manhã, dois profissionais compareceram à residência: o enfermeiro-chefe da clínica de reabilitação e a doutora Lorena Viana, uma cirurgiã plástica auxiliar conhecida não apenas pela competência, mas também pela beleza estonteante e jeito desinibido. Alta, de curvas marcantes e um sorriso marcante, Lorena não demorou a se destacar no ambiente.Durante o procedimento de retirada dos primeiros curativos, Eveline observava com atenção cada movimento. Lorena, no entanto, não parecia se importar com a presença da esposa ao lançar olhares longos para Marcus e falar com um tom que beirava a intimidade.— Marcus, você está cicatrizando incrivelmente bem. É um paciente exemplar... e muito forte. Confesso que poucos
Vinte dias haviam se passado desde a cirurgia e, enfim, Marcus estava de rosto novo. Ainda não podia sair ao sol nem fazer grandes esforços, mas a recuperação era considerada um sucesso. A equipe médica viera até a mansão para a avaliação final e autorizou seu retorno gradual ao trabalho, ao menos dentro do escritório de casa. Helena e Eduardo estavam presentes, emocionados com a transformação do filho.Naquela manhã, toda a família Castelão reuniu-se discretamente na sala de estar da mansão. A tensão era palpável quando Marcus apareceu, agora com o rosto parcialmente revelado, ainda sensível, mas visivelmente reconstruído. Os olhos marejados de Helena e o aperto de mão forte de Eduardo diziam tudo.— Meu filho... você está lindo — disse Helena, abraçando-o com delicadeza.— Um novo rosto para uma nova fase, não é? — respondeu ele, olhando para Eveline com ternura.Ela assentiu, o coração acelerado de emoção. A cada dia, sentia-se mais ligada a ele, orgulhosa de sua coragem e encantad
As semanas seguintes foram de celebração e avanços. Marcus, agora com seu novo rosto, retomava cada vez mais sua vida social e profissional. Seu carisma, já natural, agora se somava à autoconfiança restaurada. Com a nova linha gourmet das queijarias Castelão fazendo sucesso, os convites para eventos sociais da alta sociedade se tornaram inevitáveis.E foi num desses eventos — um baile exclusivo da elite empresarial e leilão de solidariedade — que os reencontros aconteceram.A noite estava impecável. O salão decorado com cristais, luzes suaves e música ao vivo recebia os maiores nomes do empresariado nacional. Helena e Eduardo chegaram acompanhando Marcus e Eveline, que estava deslumbrante em um vestido vinho de cetim que realçava suas curvas e sua elegância natural. Marcus vestia um terno sob medida, e seu novo rosto atraía olhares por onde passava.Entre brindes e cumprimentos, muitos comentavam sobre sua transformação.— Ele está irreconhecível! — sussurravam alguns.— Agora sim, um
O carro deslizava pela avenida iluminada, e a cidade parecia brilhar mais do que nunca naquela noite. Mas entre os bancos de couro, o silêncio pesava. Não era desconfortável, apenas denso. Cheio de pensamentos não ditos, de olhares trocados e respirações controladas.Eveline olhava pela janela, mas seus olhos estavam em outro lugar. Marcus dirigia com uma mão no volante, a outra descansando distraída sobre a coxa dela. Um gesto simples, mas carregado de eletricidade. O toque era quente, possessivo, quase protetor.— Você foi incrível hoje — disse ele, sem tirar os olhos da rua.Ela virou o rosto lentamente, o olhar ainda enevoado.— E você... parecia um rei. Ela não esperava por isso. Nenhum deles esperava.Marcus sorriu de canto. — Mas você percebeu, não é? A aproximação deles. Os elogios forçados, as palavras doces demais...— Eles têm um plano — respondeu Eveline, sem hesitar. — E eu vou descobrir qual é.Ele assentiu, sério. Mas no momento seguinte, a mão dele apertou mais a coxa
Horas depois, já no início da noite, Marcus estava no escritório de sua casa, um espaço amplo no primeiro andar, com paredes forradas de madeira escura e luz amarelada de abajures. Precisava revisar contratos, mas a cabeça estava inquieta.Abriu a caixa de e-mail por reflexo. Entre as mensagens comuns, uma o chamou atenção: remetente anônimo, assunto “Voce confia de mas”.Clicou.Uma sequência de fotos se abriu. Eveline com o Dr. Daniel. Conversando em uma cafeteria. Abraçando-o. Tocando o braço dele. Sorrisos cúmplices. E então… a imagem final. Um beijo.Mal editada, com falhas na sombra, mas realista o suficiente para um homem cego de ciúmes.Marcus congelou. O estômago revirou.O sangue ferveu.Levantou da cadeira com brutalidade, a respiração acelerada, os olhos já cheios de raiva.— EVELINE! — gritou, subindo as escadas feito um furacão. — EVELINE!O grito ecoou por toda a casa, assustando a todos. A mãe de Marcus, que estava na sala com o pai, levantou imediatamente. O pai o s
O silêncio daquela manhã tinha peso. Um tipo de vazio que nem o som dos pássaros ousava romper. Marcus acordou no quarto escuro, com a cabeça pulsando em dor. A boca seca, o gosto amargo do uísque ainda grudado na língua. A luz que escapava pelas frestas da cortina projetava linhas no chão de madeira. Mas não havia calor. Só um frio que parecia vir de dentro.Esticou a mão para o lado da cama. O lençol ainda guardava o calor que não estava mais ali. Eveline se fora. Não apenas do quarto — de toda a casa.Sentou-se devagar, os músculos pesados, como se carregasse concreto nos ombros. Passou as mãos pelo rosto e inspirou fundo. Sentia-se fraco. Vazio. Mas não arrependido. Não ainda. Porque o orgulho que havia inflamado na noite anterior ainda estava ali, latejando como uma ferida aberta.Desceu as escadas com passos arrastados. A mansão estava estranhamente quieta. Nenhum som de louça, nenhum cheiro de café. Nem mesmo os empregados pareciam querer estar por perto.Na sala, sua mãe estav