— Então... vamos conversar sobre isso enquanto caminhamos? — Olhei para Cassie, mas ela tinha o rosto fixo, olhando para a frente. — Cass?
— Podemos fingir que isso nunca aconteceu? — A voz dela saiu baixa, enquanto eu a puxava para um canto do corredor e me inclinava para ela.
— Fala comigo.
— O que você quer que eu diga? — Ela levantou as mãos. — É horrível ser tão fraca assim. Toda loba com mais poder fora da hierarquia manda a gente fazer o trabalho delas, ou os afazeres, e se ganhamos alguma coisa boa, elas tomam. — Cass me encarou, e eu senti a dor dela. — Aqui não temos uma Alfa fêmea que nos proteja. O Beta e o gama tentam, mas eles têm seus próprios deveres. — Cass limpou o rosto. — A gente aprendeu a lidar com isso, e somente quando a coisa fica realmente feia é que seu pai se envolve.
— Cass...
— Você não está aqui, e nem sua mãe. Se você se envolve demais, a gente só sofre quando você vai embora. — Ela me olhou e depois balançou a cabeça, se recompondo. — Vamos, vamos escolher umas joias para o seu vestido. Já decidiu qual vai usar?
— Não se preocupa com isso. Você vai lá em casa se arrumar comigo, né? Assim eu posso fazer sua maquiagem e seu cabelo.
— Eu não tenho nada para vestir. — Cassie desviou o olhar.
— Bobagem, você vai pegar o vestido dourado emprestado. Vamos escolher umas joias. — Enlacei meu braço no dela e a puxei até a loja.
— Posso mesmo usar aquela roupa? — Cass sorriu para mim, enquanto entrávamos.
— Claro que pode. Você é minha melhor amiga. — Dei uma leve esbarrada com o quadril no dela e fui até o balcão. Um conjunto com pedras de ônix chamou minha atenção. Era deslumbrante. Depois vi outro, dourado com diamantes. — Com licença?
— Pois não? — A vendedora veio até mim, e apontei para os dois conjuntos. — Você tem bom gosto. — Ela os pegou, e eu fiquei maravilhada.
— Eu vou levar os dois. — Sorri.
— Já vou embrulhá-los.
— Espera um momento. — Uma loba que eu nunca tinha visto entrou, acompanhada por Amanda. — Eu quero aquele dourado para a minha sobrinha.
Virei e sorri para o grupo de mulheres.
— Desculpa. Eu já decidi que vou comprar.
A nova loba estufou o peito e ergueu a sobrancelha.
— Foi você quem comprou o vestido antes da minha sobrinha?
— Deve ter havido um mal-entendido. Eu já tinha escolhido o vestido quando ela chegou na loja. — Sorri para ela, mas ela apenas ergueu o lábio e lançou sua aura. Era forte, com certeza, mas nem chegava ao nível gama.
— Não fale comigo desse jeito, garotinha.
— Tia... — Amanda começou, mas estreitei os olhos para ela.
— Escolha melhor com quem você fala assim. — Sorri e encarei Amanda.
“Nix, fale com a loba de Amanda e a proíba de contar para a tia dela quem eu sou.”
“Esperta.” Nix se afastou e eu observei Amanda se sobressaltar. Sorri.
— Quem você pensa que é? — A mulher rosnou, antes de se virar para a vendedora humana. — Quero aquele colar para a minha sobrinha. Essa pentelha não tem nem dinheiro pra isso.
— Quem disse que não tenho? — Arqueei a sobrancelha, surpresa com a audácia da loba.
— Fui eu que disse! Você faz ideia de com quem está falando? — Ela bateu o pé como uma criança mimada e eu apenas me virei, ficando de frente para o balcão. Não queria, nem precisava lidar com ela. — Não vire as costas pra mim!
— Não me importo com que seja, nem quero saber quem é.
— Eu sou a futura... esposa do homem que manda aqui. — Ela falou cheia de si, e Cassie e eu caímos na risada.
— Por favor, pode embrulhar esses para mim. — Sorri para a pobre vendedora e entreguei meu cartão preto.
Daquela vez eu usaria o cartão do meu pai, mas eu faria meu próprio dinheiro. Minha mente voltou à vida passada, quando a matilha do meu pai faliu por causa do Brandon, e Nix rosnou em minha mente:
“Dessa vez, ele não vai nos obrigar a assistir enquanto destrói essa matilha usando nosso laço de companheiros.”
“Não, ele não vai.” Eu prometi. “Dessa vez, ele se arrependeria de tudo o que fez conosco.”
— Eu disse que você não vai comprar! — A mulher tentou me segurar, mas eu me desviei.
— Não me toque. — Respondi. Nix rosnou em minha mente, mas segurei meu poder.
— Aqui está, senhorita. — A vendedora me entregou de volta a sacola com os dois conjuntos e meu cartão.
— Obrigada. — Sorri e envolvi meu braço no de Cassie novamente. Então me virei para o grupo de mulheres.
“Estão todas proibidas de revelar quem somos.” Nix avisou.
“Ótimo.”
— Vejo vocês mais tarde. — Sorri com deboche e me virei para sair, mas a tia, aquela mulher estúpida, segurou-me de novo, e deixei escapar um rosnado baixo. — Eu já disse uma vez para não me tocar. Pode até ser a futura esposa dele, mas eu conheço o homem que manda aqui e tenho certeza de que ele não gostaria de saber que você está colocando as mãos em garotas. — Lancei um olhar feroz contra ela.
— Seria melhor me dar esse colar. — Ela rosnou.
— E seria melhor você se lembrar muito bem desse momento essa noite. — Puxei meu braço da mão dela e levei Cassie para fora da loja. Quando já estávamos longe o suficiente, me virei para ela. — Quem era aquela?
— Aurora. Uma loba que se mudou para a matilha no ano passado. Ela está caidinha pelo seu pai, e ele parecia interessado, da última vez que os vi juntos.
— De jeito nenhum. — Balancei a cabeça enquanto íamos para meu restaurante de sushi favorito. — Meu pai jamais faria isso.
— Bom, alguns de nós acham que sim. E ela seria a pior escolha possível. É ela quem está incentivando os lobos sem hierarquia a nos oprimir. A Gama e a Beta não a enfrentam porque não querem contrariar seu pai, já que ele está dando atenção especial a ela.
— Eu vou falar com ele. — Sentamos na cabine onde o garçom nos colocou e bati palmas, animada. — Não vamos deixar que ela estrague nosso dia. Faz tanto tempo que não como sushi de esteira! — Eu praticamente gritei, e Cassie riu.
— Eu não sei por que você gosta tanto desse lugar.
— Porque é maravilhoso. — Peguei meus pratos. — Vamos comer, depois voltamos pra casa.
E foi exatamente isso o que fizemos.