— Aí estão as minhas duas garotas favoritas. — Meu pai entrou no quarto, logo que voltamos do passeio.
— Oi, papai. — Fui até ele e o abracei.
Porém, Cass abaixou a cabeça:
— Olá, Alfa Devlin.
— Nada disso, Cassie. Quando estamos só nós, já te falei pra me chamar de Dev. — Cass ficou corada e assentiu. — Posso falar a sós com minha filha, só por um minuto?
— Claro, Alfa. — Cass me lançou um olhar com um toque de pânico ao se afastar. Tentei tranquilizá-la, mas não pude fazer muito. Ela sabia exatamente do que essa conversa se tratava. Segui meu pai até o escritório e me sentei com ele e com Ronnie.
— Pode falar.
— O que está acontecendo nessa alcateia, pai?
— Do que você está falando?
— Por que fêmeas sem posto estão se aproveitando dos lobos mais fracos? — Olhei para Ronnie, que desviou o olhar. — Você obviamente sabe do que estou falando. A Beta e a Gama daqui estão fazendo o quê, exatamente?
— Ei! — Ronnie me encarou. — Isso não é justo com elas.
— Não estou dizendo que é justo. — Olhei de volta para meu pai. — Você está deixando sua alcateia se desfazer por dentro e eu quero saber o motivo. — Encarei meu pai nos olhos até que Loki começou a rosnar pra mim, mas Nix rosnou de volta.
Recusei-me a recuar, afinal percebi que a alcateia que eu amava desmoronava. O rosnado da ameaça dele aumentou, mas me mantive firme. Meu pai finalmente sorriu e Nix recuou.
— Você cresceu, filha.
Assenti, mas levantei a sobrancelha e meu pai suspirou.
— Não era pra tudo ruir tão rápido.
— Do que você está falando?
— Foi o plano do Ronnie. — Meu pai começou, e virei os olhos para meu tio, que ficou um pouco pálido.
— Olha, eu achei que funcionaria.
— E qual é esse plano, para quê?
— Achei que, se sua mãe visse os amigos e a família dela se desfazendo, ela voltaria. — A voz do meu pai foi ficando mais baixa a cada palavra.
Levantei as mãos, frustrada.
— Ela não fala mais com ninguém daqui. Pediu ao Alfa que proibisse qualquer um de falar com ela sobre a alcateia, acreditando que só assim ela encontraria paz. — Balancei a cabeça. — Em que mundo isso parecia uma boa ideia?
— Eu não estava pensando com clareza. — Meu pai levou as mãos ao rosto. — Já são anos, Amy. Anos sem minha companheira.
— Eu sei. — Levantei-me e o abracei de lado. — A mamãe acha que você a traiu e ainda está bem abalada com isso.
— Eu sei. Mas achei que os deveres de Luna falariam mais alto que a traição. — Meu pai me encarou, e eu ri da cara dele.
— Você é um homem estúpido, pai. — Apenas balancei a cabeça e me sentei de novo. Virei para o Ronnie. — E você também, tio.
— Ei! — Ele protestou, mas só o encarei até ele assentir.
— Neste verão, também teremos que fazer sua alcateia voltar ao que era. Não vou conseguir voltar pra alcateia da mamãe sabendo que essa palhaçada continua.
— Tá bom, querida. A gente vai consertar isso.
— Não, não arruma, não. — Senti Nix concordar com meus pensamentos antes mesmo que eu os dissesse. — Isso é algo que as mulheres vão resolver. Quero que a Beta e a Gama se reúnam comigo, antes da festa dessa noite.
Meu pai se jogou pra trás, surpreso por eu saber da festa, e eu ri.
— Você pediu pra minha melhor amiga esconder uma surpresa de mim, pai. Primeiro: erro de principiante. Você sabe que ela não guarda segredo. Segundo: mesmo que ela não tivesse deixado escapar, eu teria descoberto alguma coisa pela Aurora. — Lancei um olhar cortante para meu pai e vi seu rosto se fechar.
— Aff, agora você acionou o gatilho. — Ronnie respirou fundo e se recostou.
— Fiz o quê?
— Toda vez que alguém fala o nome dela, ou ele a vê, os olhos dele vidram e ele não para de falar nela.
— Ela é tão linda. A mulher mais linda que eu já vi.
— Até mais bonita que minha mãe. — Joguei, sem pensar, achando que ele diria que não, mas pra minha surpresa, sem hesitar, ele respondeu que sim.
— Claro, sua mãe nem chega perto da beleza da Aurora. — Levantei-me e fui até ele, segurando seu rosto ao sentir que havia algo errado.
Os olhos dele ainda estavam desfocados.
— É sempre assim quando falam o nome dela?
— Aham. Por pelo menos uns cinco minutos, depois ele volta ao normal como se nada tivesse acontecido. — Ronnie revirou os olhos.
— E isso é normal pra você? — Olhei pra Ronnie por cima do ombro e percebi que os olhos dele também estavam desfocados.
— É, por que não seria? — O olhar dele atravessava o vazio. E eu soube que havia algo errado.
— Pai? — Segurei o rosto dele e passei minha bochecha na dele, soltando um pouco da minha aura ao mesmo tempo, e meu pai recuou.
— Querida, como você chegou aqui? — Meu pai sorriu, e senti minhas pernas ficarem fracas. Algo estava terrivelmente errado aqui e eu não tinha muito tempo pra descobrir o que era.