POV KAEL
O espelho diante de mim parecia zombar da minha existência.
Olhei para o próprio reflexo e não me reconheci.
Os olhos, outrora de um âmbar vivo, agora ardiam em tons metálicos, como se houvesse fogo derretendo sob a íris. A pele pálida, marcada por olheiras fundas, denunciava o que eu tentava esconder até de mim mesmo: estava me desfazendo.
O quarto da mansão Vescari era silencioso demais.
O tipo de silêncio que não traz paz — traz lembranças.
E as minhas vinham em ondas: Aurora. A risada baixa. O toque hesitante. O olhar que me implorava por respostas que eu não podia dar. Seu corpo se misturando ao meu em meus lençóis.
“Você prometeu”, ecoava a voz dela dentro da minha cabeça.
E eu havia prometido. Eu a escolheria, custasse o que custasse.
Mas o custo, agora, era eu mesmo.
A porta se abriu devagar atrás de mim.
Vitória entrou, o salto dos sapatos ecoando pelo piso de mármore.
Ela estava impecável — como sempre. Um vestido vinho marcava sua silhueta e o perfume d