Em Piedras Negras, Dario firmava novos acordos de confianças, buscava nossos assistentes para substituir Jose e Luiz, enquanto estudava Eagle Pass. — Informações. - Dario enviou a mensagem para seu contato.— Quais? - Recebia a mensagem, de imediato. — Gregory Matthew Stuart. Eagle Pass. Atual. Endereços. - Dario instruía. - Localização. Atual informação. Helena Jones Brown. - Ele dava os limites do que queria. Recebia, horas depois, uma ligação de voz, da loja de penhores. — Como vai, Mictlán? - Dario ouvia a voz de seu contato. - Helena Jones Brown agora é Helena Jones Dawson Matthew Stuart, Major. Foi mandada para a reserva. Psiquiatria. Dizem que perdeu a memória. - Johnson informou. - Não tem endereços desse cara em Eagle Pass, somente na base e em Austin. Na capital, são uns bons vinte endereços. O que está procurando, especificamente? - Dario entrava em choque com a informação.— Está me dizendo que ela casou com esse cara? - Dario se indignada. - Quando?— Ontem. Acabamos
Dario tentava imaginar uma solução. Voltou para a cidade, ainda com aquilo em mente. Avaliava soluções. Brinquedos pareciam as melhores: pequenos drones e carrinhos camuflados. Ambos tinham problemas: águias e serpentes ou lagartos. Ele se irritava.— Argh! Como ela faz isso? - Dario bradou, irritado, desferindo o soco, carregado de raiva, contra a parede. Saiu para espairecer, observava o prédio da imigração, com um café e um cigarro na mão, sentado em um ponto de ônibus. Ser latino tinha suas vantagens. Percebia aqueles jovens saírem, com mochilas, fardados e conversando animadamente. Ele se forçava a lembrar dos vídeos e das descrições de campo dela. Havia um traço comum, ela sempre referia ações de "antigamente", sem equipamentos, sem tecnologia, confiando em si e em suas habilidades, treinava para aquilo. O homem decidia estudar os arredores daquela prisão luxuosa em que Helena estava. Via Gregory chegar na academia, apresentar-se e entrar pelo portão eletrônico. Descia do carro,
Dario precisava acessar Scarlet, precisava saber sobre Helena, algo, dentro dele, apertava a garganta, algo ruim parecia perturbá-lo. Na van, vigiava a entrada do prédio. Todo o lugar parecia agitado, perturbado, havia aquele peso no ar, de algo terrível, que acontecia, uma força que se movia. Ele desceu da van e se aproximou de um grupo de velhotas na calçada, senhoras entediadas, certamente. — Boa tarde, senhoras. Tudo bem? - Dario, com o macacão azul preso a cintura e o bonito peitoral, de pele bronzeada, sob a regata branca, se apresentava, sorridente e sedutor, com a sombra de uma barba rala, que se formava, já com alguns fios brancos, que lhe davam um ar provocante. Eram velhas senhoras, de seus mais de setenta anos. — Olá! - Uma das senhoras, mais ousada, respondia, com um olhar que arrepiava Dario de medo. - Boa tarde. Nada mal. - Ela respondeu, sorridente.— O que aconteceu? As pessoas parecem nervosas? - Dario insinuava. — Oh! Nada além do esperado. Vê. Tem esse homem qu
Dario parou a van, acomodando Helena no banco do passageiro, estava fria e tremia muito. As lágrimas cessaram em algum ponto depois que ela adormeceu, respirava com dificuldade, como se estivesse gripada. Os pulmões pareciam cheios, ela precisava de alguma paz. Tempo para se recuperar, longe daquela loucura toda de disputas entre aqueles chefões da fronteira. Quatro horas e um bom contorno até passarem pela fronteira. Estavam de volta ao abrigo do deserto. Dario a levou até seu médico de confiança, ela tinha sinais de afogamento. Ele preferia não presumir nada, mas se vingaria se descobrisse que o marido tinha sido responsável por aquilo. Estava tão frágil, tão drogada, que tirá-la do torpor seria a beira do inviável. Dario não queria deixá-la na cidade, mas o isolamento poderia ser cruel. Ele tinha várias propriedades em Piedras Negras, optou por uma com dois quartos, em um bairro antigo e bem estruturado, tinha um parque onde ela poderia correr quando estivesse melhor. Com carinho
— Mais alguma regra? - Dario se interessava. — Algumas: as identidades têm que ter a mesma idade que nós, por erro de um ano no máximo, para cima ou para baixo, mas que não escape da nossa condição física. Os registros, virem de oficiais que incendiaram ou sofreram perdas por catástrofes naturais naquele ano escolhido. Não pode ser gente morta ou, se for, não devem estar registradas. Houve um tempo que as digitais não eram colhidas, a gente tem que se aproveitar disso. - Helena tinha uma estratégia precisa. — Fez muito esse serviço? - Dario se interessava.— Bastante. Nem sempre fui Major. - Helena sorria, ainda que amargamente. - Vamos ver mais perto das bordas internas do deserto, as cidades que atendam esses requisitos. Pode ser uma linha local, descartável, a princípio.— Por que quer uma linha de Detroit, coração? - Dario perguntou. O apelido carinhoso lhe causava certa náusea, conseguia ouvir a voz de Gregory.— Preciso resolver pendências com o General. Fiquei magoada por ser
O deserto era implacável. O vento soprava a poeira douradas, fazendo parecer que o tempo congelava. No oásis, Helena relaxava lentamente, os olhos já não estavam tão pesados, a respiração, ainda que fraca, não era tão dolorosa. Agora, o toque frio da água fresca lhe dizia que estava, verdadeiramente, viva.Dario estava ali, ao lado dela, observando cada pequena reação. O homem que Helena acreditava ser seu inimigo, a quem deveria procurar e destruir, aquele que deveria capturar, agora cuidava dela com paciência infinita. Ele trocou tantos curativos, manteve-a segura, ofereceu seu melhor e mais dedicado carinho. Era meticuloso, como se cada gesto significasse algo maior do que apenas salvar uma vida, era como se estivesse resgatando algo que havia perdido há muito tempo.Helena, fragilizada, não resistia aos pensamentos selvagens que a empurravam de volta para seu dilema. Pela primeira vez em anos, permitia-se ser cuidada. Seu corpo, ainda exausto e ferido, buscava recobrar a força. Er
O beijo silencioso, gentil, era o bálsamo que acalmava as feridas de um passado doloroso, enchia a alma de algo poderoso, leve e morno, invadia-os, conectava as almas de Dario e Helena como há décadas, o sofrimento e a distância, a memória daquela conexão havia se perdido e os reivindicava agora. Aquele instante era a expressão de um amor que era atemporal, que não se importava com nada além de existir. Não havia luxúria, era um toque sereno, adorável, que docemente os resgatava do caos, formava certezas. Ambos estavam ali, por si, um pelo outro e por um plural, o coletivo de uma só alma que expressava o único que eram, juntos. — Eu ainda te amo. - Dario ouvia a prece de Helena, sussurrada como um segredo, na voz de um anjo, que apenas ele ouvia, com o coração batendo, fortemente, emocionando o duro bandido, que o deserto, silencioso, forjou em penas e caos. Aquele momento precioso, único, se tornava algo além de corpos, eram todos que se uniam, sob o milagre pelo qual ele tanto esp
Helena tratava a estrutura das operações de forma corporativa e militar. Havia um certo conforto com aquilo, a identidade dos grupos por suas tarefas, a descentralização. Ela arquitetava com base em conhecimentos conjuntos e Dario se satisfazia. Em pouco tempo, tanto as perdas quanto as falhas diminuíam, Helena blindava operações. Dario acompanhava, aprovando ou não as modificações, sempre cuidando que tivessem um "horário comercial". A quem os visse, na rua, eram só um casal que trabalhava em escritórios, gente comum, a quem não se dava atenção efetiva, passavam despercebidos e conseguiam sair para coisas simples, como um passeio na rua e um sorvete em uma tarde qualquer. — Cinema? Pipoca? Namorar? - Dario sugeria, fagueiro, da porta do escritório dela. — Topo. - Ela disse. Havia uma espécie de pacto silencioso entre eles: Dario a buscava todos os dias quando era hora de parar e trabalhavam em pontos diferentes da cidade, pela discrição e pela segurança. Ela cuidava dos negócios