Dentro de uma das suítes do hotel, havia um ambiente elegante e iluminado.
Diante de uma torre de champanhe de dez andares, Simão segurava sua nova assistente, Nanda Santiago, pela cintura. Os dois, de mãos entrelaçadas, cortavam um bolo de aniversário com sorrisos nos rostos.
Ao ver Gisele entrando no salão, Simão não demonstrou o menor sinal de culpa. Pelo contrário, falou como se tudo fosse absolutamente normal:
— Nanda faz aniversário no mesmo dia que você. Como ela está sozinha nesta cidade, sem amigos ou família, decidi ceder sua festa de aniversário para ela. Depois faço algo para você daqui a uns dias.
O sorriso de Gisele congelou instantaneamente. Sua mão, que segurava a bolsa, começou a apertá-la involuntariamente. Era o dia em que ela completava 25 anos, e Simão havia prometido pedi-la em casamento nessa data especial.
Ela vestira o vestido branco delicado que ele lhe dera, arrumara-se cuidadosamente e viera ao hotel cheia de expectativas. Mas, ao se deparar com aquela cena, era como se tivesse sido atingida por um balde de água gelada.
No dedo de Nanda, a aliança com o diamante rosa de três quilates brilhava intensamente. Era o anel que Gisele havia escolhido a dedo, sonhando com esse momento há três anos.
Seus olhos ardiam de dor ao ver aquilo, e ela se aproximou de Simão, respirando fundo para tentar manter a calma. Apontando para o anel de Nanda, perguntou:
— E esse anel?
Simão deu de ombros, despreocupado:
— Foi tudo muito de última hora, não tive tempo de comprar um presente. Nanda gostou do anel, então dei a ela.
Aquela aliança era o símbolo do casamento com o qual Gisele sonhara por anos. E agora... estava no dedo de outra mulher.
Gisele sentiu seu coração se partir ao meio, como se pudesse ouvir o som dos pedaços caindo. Seus olhos se encheram de lágrimas enquanto ela, com a voz trêmula, questionava:
— E eu, Simão? O que eu sou para você?
Simão suspirou, impaciente, e respondeu com desdém:
— Por que você é tão infantil? Já comemorei tantos dos seus aniversários. Que diferença faz ceder um para Nanda?
"Por que eu sempre cedi aos outros?", pensou Gisele.
Simão sempre a colocava em segundo plano. Ele tirava os contratos que ela conquistava para promover Nanda. Permitira que Nanda derramasse café nela e, em vez de repreendê-la, dizia que Gisele estava exagerando. E, mesmo quando Nanda cometia erros do trabalho, era Gisele quem tinha que consertar, sob a desculpa de que "os mais capazes devem assumir mais responsabilidades".
Afinal, o que ela era para ele? Será que todos tinham mais valor do que ela?
Com lágrimas escorrendo pelos olhos, Gisele tentou preservar sua dignidade. Virou-se e foi para o banheiro sem dizer mais nada.
Do lado de fora, amigos começaram a tentar apaziguar a situação:
— Simão, dessa vez você passou dos limites.
— Você sabia o quanto Gisele esperava por esse pedido de casamento. Por que trazer a Nanda para provocá-la?
Simão, no entanto, continuava cortando o bolo e servindo pedaços para Nanda, como se não tivesse feito nada de errado.
Nanda, com um brilho de satisfação nos olhos, fingia nervosismo enquanto dizia:
— Sr. Simão, a culpa é minha. Eu não deveria ter causado isso. Vou pedir desculpas à Srta. Gisele depois...
Simão deu um tapinha tranquilizador no ombro de Nanda e respondeu:
— Isso não tem nada a ver com você. Gisele é que é mimada demais. Já passou da hora de corrigir esse hábito de fazer tempestade em copo d’água.
Um dos amigos tentou alertá-lo:
— E se Gisele ficar realmente chateada e recusar o pedido de casamento?
Simão riu, soltando um círculo de fumaça do cigarro antes de zombar:
— Você está brincando, né? Ela quer se casar comigo desde criança. Mal pode esperar para ser chamada de Sra. Valente. Gisele é tão submissa e dependente que nunca ousaria me deixar.
As palavras dele arrancaram gargalhadas do grupo:
— Esse é o Simão! Até a musa da Universidade São João está aos pés dele.
— Simão, por que você não nos ensina como controlar uma mulher assim?
— Primeiro, você precisa encontrar uma mulher que seja completamente devota a você.
Toda a cidade sabia que Gisele era a sombra de Simão.
Três anos mais nova, Gisele o seguira até a Universidade São João e, depois, ficara na mesma cidade para trabalhar em sua empresa.
Para ajudá-lo no início de sua carreira, ela abandonara seu sonho de estudar piano e se tornara sua assistente. Gisele trabalhava incansavelmente, chegando a passar noites em claro para fechar contratos e até bebendo com clientes até sofrer uma úlcera no estômago.
Os amigos dela sempre diziam que ela amava Simão mais do que a si mesma.
E Simão, ciente disso, aproveitava-se sem qualquer remorso, tratando-a com descaso e desrespeito.
No banheiro, Gisele segurava os ouvidos, tentando abafar o som das gargalhadas vindas do salão. Ela olhou para o próprio reflexo no espelho: uma mulher de olhos inchados e rosto pálido.
Gisele forçou um sorriso, mas o resultado foi ainda mais triste do que chorar.
— Gisele, já se passaram dez anos. Será que você nunca vai parar de ser tão patética? — Murmurou ela para si mesma.