Isabella Duarte Ricci O sol da manhã filtrava-se através das cortinas da sala de estar, banhando o chão frio de mármore com um brilho dourado. O silêncio da mansão era quebrado apenas pelo som ritmado dos meus saltos contra o piso, cada passo ecoando de forma quase solene. Eu não costumava acordar tão cedo, não por escolha, pelo menosas hoje era diferente. Hoje, eu estava pronta para partir. A mala de couro preta estava ao meu lado, elegante, discreta, mas pesada o suficiente para fazer qualquer um pensar que eu estava fugindo do país ao invés de apenas viajando para a Espanha. Respirei fundo, ajustando a alça e logo comecei a puxar a mala de carrinho, quando ouvi o som familiar da porta da frente se abrindo. —Isabella! — A voz de Luara soou animada demais para aquele horário. Virei-me e lá estava ela: Luara, com os cabelos loiros levemente desalinhados, ainda com uma expressão de quem mal dormiu. Provavelmente passou a noite toda na casa de Anthony,o que não era nenhu
Isabella Duarte Ricci O barulho suave dos motores do avião particular preenchia o silêncio enquanto eu subia as escadas, cada degrau ecoando mais alto do que eu gostaria. O vento da manhã bagunçava meus cabelos, mas minha mente estava distante demais para me importar. Luara estava logo atrás de mim, falando ao telefone com Anthony, enquanto eu entrava na cabine luxuosa do avião. Poltronas de couro impecáveis, cortinas finas balançando levemente e uma mesa de vidro ao centro tudo tão sofisticado e frio, como se o luxo ao meu redor não combinasse em nada com o turbilhão que acontecia dentro de mim. — Gostou? — Luara perguntou ao entrar, jogando sua bolsa em um dos assentos e desabando ao meu lado. — Não é a primeira vez que você voa em um avião, mas sempre parece surpresa. Eu não respondi. Apenas deslizei a bolsa pelo meu colo e retirei o envelope que, até agora, parecia queimar meus dedos. O papel timbrado ainda estava impecável, como se nada pudesse manchar a seriedade do q
Dimitri Carter A manhã chegou como um peso sobre meus ombros. O sol atravessava as cortinas pesadas do meu quarto, mas sua luz parecia distante, quase artificial. Era sempre assim dias começavam, noites terminavam, e eu continuava aqui, preso entre o ontem e o hoje. Levantei-me, sentindo o chão frio sob meus pés descalços. O silêncio da casa ecoava em cada parede, como um lembrete cruel da solidão que escolhi carregar. O banheiro estava tomado por um vapor leve quando abri o chuveiro. A água quente escorreu pelo meu corpo, mas não levou nada embora, nem a tensão, nem os pensamentos que, ultimamente, tinham um nome e um rosto: Isabella. Fechei os olhos, mas em vez de encontrar paz, vi a imagem dela,seus cabelos caindo,os olhos faiscando quando me desafiava, aquele sorriso meio travesso, meio doce. Isabella tinha o dom de entrar onde não devia, na minha cabeça, no meu espaço, no que restava do meu coração. — Maldição… — murmurei, passando a mão pelo rosto enquanto a água cont
Isabella Duarte Ricci A Espanha tinha um cheiro próprio. Um misto de café forte, ruas antigas e aquela brisa que refrescava e ao mesmo tempo esquentava.Quando saí do avião particular, me vi envolta por um calor suave, o tipo de calor que não queima, mas acaricia. Luara e eu seguimos para o hotel, um lugar elegante, com paredes de vidro que refletiam a cidade vibrante ao nosso redor. Eu mal conseguia apreciar a beleza ao meu redor minha mente estava longe, perdida em um certo magnata frio e irritante. Por que eu estava pensando nele mais do que qualquer outra coisa? Afundei-me na cama macia do quarto, ainda vestida, olhando para o teto como se ele fosse me dar respostas. O ar-condicionado sussurrava baixinho, e, por um momento, o silêncio pareceu gritante. Será que ele notou minha ausência? A ideia me fez rir sozinha. Dimitri parecia o tipo de homem que ficaria feliz por alguém desistir dele, como se isso provasse o ponto que ele sempre tentava martelar: que era intocáv
Isabella Duarte Ricci Após tomar um banho e me vesti, depois sai, fui até o endereço que o detetive havia me passado. O beco estava escuro, úmido, e tinha um cheiro forte de álcool . Meu coração batia forte no peito, mas minha respiração era controlada. Eu já estive em situações perigosas antes, mas algo dentro de mim dizia que essa era diferente. Assim que virei a esquina, a cena diante dos meus olhos fez o sangue em minhas veias ferver. Havia um grupo de homens cercando alguém no chão. Um jovem. Ele estava coberto de sangue, os braços levantados em uma tentativa inútil de se proteger dos chutes que recebia. Um deles segurava um taco de madeira, pronto para dar mais um golpe. Eu não pensei duas vezes. Puxei a arma da minha bolsa e apontei para o grupo. — Eu no lugar de vocês pararia com isso. Minha voz cortou o ar como uma lâmina afiada. Os homens pararam e se viraram para mim. Primeiro, com surpresa. Depois, com desprezo. Um deles, um brutamontes careca e com uma ci
Isabella Duarte Ricci A sensação de que Derick me estudava, tentando me entender, como se tivesse me visto antes e não conseguisse lembrar de onde. — Você não vai perguntar o que aconteceu? — a voz dele saiu rouca, quebradiça, mas carregada de um tom provocativo. Meus dedos apertaram o volante, enquanto eu dirigia após sairmos do hospital. — Sei o suficiente — respondi sem tirar os olhos da estrada. Ele riu, um som seco que terminou em um gemido de dor. — Sei que foi espancado por um grupo de agiotas porque deve dinheiro. Sei que, se eu não tivesse aparecido, você estaria morto agora. E sei que Dimitri vai ficar feliz ao ver o irmão. Dessa vez, foi ele quem ficou em silêncio. O nome de Dimitri pairou entre nós como uma nuvem carregada, prestes a desabar. Olhei de relance para ele e vi sua expressão se fechar. Havia algo ali, algo profundo, um peso que ele carregava e que eu não conhecia, e isso era evidente. Eu não queria sentir pena. Mas senti. — Como você conh
Derick A luz do quarto de hotel era fraca, mas suficiente para que eu pudesse ver o teto. Não que isso importasse muito. Tudo o que eu via, de verdade, era o peso do passado pressionando meu peito. O colchão era macio demais para um corpo acostumado a dormir em lugares que variavam entre o chão sujo de galpões abandonados e os bancos de trás de carros velhos. Eu inspirei fundo. O ar gelado queimou minha garganta. E, antes que eu pudesse impedir, as lágrimas vieram. Silenciosas, amargas. Não era só a dor física que ardia em cada músculo do meu corpo mas a dor que se aninhava em algum lugar mais profundo. Fechei os olhos e apertei os punhos, como se isso pudesse conter o peso no meu peito. Eu não sabia quanto tempo fiquei assim, imóvel, tentando conter as lágrimas. Mas, de repente, senti algo quente envolver a minha mão. Abri os olhos e me deparei com ela. Isabella. — Está sentindo dor, não é? — A voz dela veio baixa, quase um sussurro. — Toma esses remédios. Pisquei alguma
Derick A comida estava quase toda devorada, e eu não sabia se estava mais impressionado com a fome da Isabella ou com a maneira que ela conseguia comer tanto e ainda parecer impecável. Eu, por outro lado, sentia cada músculo do meu corpo protestar a cada movimento. Cada garfada parecia um esforço, mas a fome venceu a dor. Isabella empurrou o prato vazio para o lado e suspirou, satisfeita. — Comida de hotel nunca decepciona quando você pede tudo do cardápio. Eu ri, mas me arrependi no mesmo instante. A dor no meu lado fez questão de me lembrar que eu estava longe de estar inteiro. — Você sempre resolve a vida com comida? Ela deu de ombros, limpando a boca com o guardanapo. — Normalmente sim. Comida resolve 80% dos meus problemas. Os outros 20%, eu resolvo sendo eu mesma. Fiz uma careta enquanto me ajeitava na cama, tentando encontrar uma posição que doesse menos. Ela percebeu e me lançou um olhar curioso. — Quer mais um remédio? — Não. Quero que meu corpo pare de par