Derick A luz do quarto de hotel era fraca, mas suficiente para que eu pudesse ver o teto. Não que isso importasse muito. Tudo o que eu via, de verdade, era o peso do passado pressionando meu peito. O colchão era macio demais para um corpo acostumado a dormir em lugares que variavam entre o chão sujo de galpões abandonados e os bancos de trás de carros velhos. Eu inspirei fundo. O ar gelado queimou minha garganta. E, antes que eu pudesse impedir, as lágrimas vieram. Silenciosas, amargas. Não era só a dor física que ardia em cada músculo do meu corpo mas a dor que se aninhava em algum lugar mais profundo. Fechei os olhos e apertei os punhos, como se isso pudesse conter o peso no meu peito. Eu não sabia quanto tempo fiquei assim, imóvel, tentando conter as lágrimas. Mas, de repente, senti algo quente envolver a minha mão. Abri os olhos e me deparei com ela. Isabella. — Está sentindo dor, não é? — A voz dela veio baixa, quase um sussurro. — Toma esses remédios. Pisquei alguma
Derick A comida estava quase toda devorada, e eu não sabia se estava mais impressionado com a fome da Isabella ou com a maneira que ela conseguia comer tanto e ainda parecer impecável. Eu, por outro lado, sentia cada músculo do meu corpo protestar a cada movimento. Cada garfada parecia um esforço, mas a fome venceu a dor. Isabella empurrou o prato vazio para o lado e suspirou, satisfeita. — Comida de hotel nunca decepciona quando você pede tudo do cardápio. Eu ri, mas me arrependi no mesmo instante. A dor no meu lado fez questão de me lembrar que eu estava longe de estar inteiro. — Você sempre resolve a vida com comida? Ela deu de ombros, limpando a boca com o guardanapo. — Normalmente sim. Comida resolve 80% dos meus problemas. Os outros 20%, eu resolvo sendo eu mesma. Fiz uma careta enquanto me ajeitava na cama, tentando encontrar uma posição que doesse menos. Ela percebeu e me lançou um olhar curioso. — Quer mais um remédio? — Não. Quero que meu corpo pare de par
Dimitri Carter A casa estava silenciosa. Silenciosa demais. O tipo de silêncio que me deixava irritado e eufórico. A única luz acesa era a do abajur ao lado do sofá. Eu estava ali há horas, com um copo de vinho na mão, girando o líquido de um lado para o outro sem realmente beber. A mente vagava, inquieta, sempre voltando para a mesma pessoa. Isabella. Onde ela estava? Cansou de joguinhos, ou estava jogando comigo com esse sumiço? Pisquei, forçando os olhos a focarem no copo. Ridículo. Eu não era do tipo que ficava remoendo coisas, principalmente por uma mulher. Mas, com Isabella, era diferente. Ela me desafiava. Me tirava do controle. E o pior de tudo? Eu gostava disso. Deixei o copo na mesa de centro e me afundei no sofá, passando a mão pelo rosto. Eu precisava dormir. Esquecer Isabella por algumas horas. Como se o universo estivesse rindo da minha cara, o celular vibrou no bolso da calça. Peguei o aparelho rapidamente e acabei o deixando cair embaixo do sofá, eu caí no c
Isabela Duarte Ricci A manhã em Sevilha estava morna, banhada por uma luz dourada que filtrava pelas cortinas do hotel. Eu estava acordada há algum tempo, mas me mantive deitada, encarando o teto, organizando mentalmente o plano do dia. Derick. Ele seria meu prisioneiro por mais alguns dias, até que eu o arrastasse de volta para a Itália. Depois de um longo suspiro, levantei-me, peguei uma camiseta larga e uma calça jeans, e logo tomei um banho e me arrumei, em seguida saí do meu quarto. Caminhei pelo corredor silencioso até a porta de Derick. Dei duas batidinhas leves. Nada. — Derick? — chamei, inclinando-me um pouco. Revirei os olhos e, sem paciência, girei a maçaneta. A porta estava destrancada. Homens, sendo homens Entrei sem cerimônias, já pronta para arrancá-lo da cama se fosse necessário, mas congelei ao vê-lo parado próximo à janela, de costas para mim, apenas de toalha. Gotas de água deslizavam por suas costas nuas, destacando músculos que, sinceramente, e
Isabella Duarte Ricci Dias depois, finalmente chegamos a Itália, até o ar era familiar, tinha muitas pendências no meu trabalho e eu sabia que ficar dias ausente das minhas obrigações, seria arriscado, mas também foi a vida que escolhi, o caos de ser parte da máfia, de comandar tudo, e por isso eu não abriria mão do amor, eu precisava de um homem que me desse amor e que fosse tão leal a mim, quanto eu era a máfia da minha família. O aeroporto estava movimentado, como sempre. Pessoas indo e vindo, malas sendo arrastadas, vozes misturadas em diversos idiomas. Mas, para mim, tudo isso parecia ruído de fundo. O único som que realmente importava era o da voz do Dimitri, e a única visão que importava era Dimitri, parado mais à frente, nos esperando. Ele estava ali. Alto, imponente, vestindo um terno impecável, como sempre. Mas, diferente das outras vezes, algo em seu semblante parecia diferente. Seus olhos, normalmente carregados de frieza e controle, estavam suavizados por uma emoção q
Dimitri Carter A noite caiu sobre a Itália com um charme quase cruel. As ruas pareciam mais silenciosas, como se até mesmo a cidade estivesse aguardando algo. Ou talvez fosse apenas minha mente tentando justificar o peso que sentia no peito, o incômodo inexplicável que me acompanhava desde o momento em que a vi no aeroporto, com aqueles olhos determinados e um sorriso que parecia um desafio. Quando o relógio marcou dezenove horas, eu estava parado em frente ao hotel dela, ela era misteriosa, e me passou o endereço do hotel e não da sua casa, mas para mim, era melhor assim.O meu carro preto brilhando sob a luz dos postes, e meu reflexo rígido no espelho retrovisor. Eu odiava estar ali. Isabella saiu pela porta do hotel como uma maldita tempestade silenciosa. Um vestido preto justo, que parecia mais perigoso do que elegante, desenhava cada curva do corpo dela. O cabelo estava solto, balançando ao ritmo do vento noturno, e os lábios, pintados de um vermelho que gritava tentação, s
Dimitri Carter A noite estava fria quando saímos do restaurante. A brisa cortante da Itália parecia zombar de mim, como se até mesmo o vento soubesse que eu estava perdendo o controle e pior, para ela. Isabella saiu primeiro, o vestido preto justo moldando suas curvas enquanto ela andava até o carro. O som dos saltos contra o chão ecoava pela rua deserta, cada passo me provocando como uma gota d’água insistente batendo no mesmo ponto. Ela sabia o que estava fazendo. Eu segui logo atrás, cada músculo do meu corpo tenso. Por que eu ainda estava aqui? E cedendo a ela, aos desejos dela. Eu poderia simplesmente abrir a porta, deixá-la em casa e encerrar essa farsa de jantares, esses encontros ridículos que, ao que tudo indicava, estavam começando a me afetar mais do que eu estava disposto a admitir. Mas, claro, isso seria fácil demais. Entrei no carro, as mãos firmes no volante, o meu maxilar estava travado, eu estava nitidamente incomodado e irritado. Isabella des
Dimitri Carter Eu fiquei ali, parado em frente ao hotel, olhando para a porta por onde Isabella tinha desaparecido. O eco dos saltos dela ainda estava martelando na minha cabeça ou talvez fosse o som do meu próprio orgulho se estilhaçando. A noite estava gelada, mas eu me sentia quente, como se tivesse acabado de correr uma maratona. Ótimo. Um beijo. Um maldito beijo e eu estava assim. Entrei de volta no carro e bati a porta com mais força do que o necessário. Minhas mãos apertavam o volante como se fossem capazes de esganar alguém. A Isabella, talvez. Ou, mais provavelmente, a mim mesmo. Eu não conseguia pensar direito. Tudo o que vinha à mente era a sensação dos lábios dela: rápidos, mas incrivelmente macios. Por que ela fez isso? A resposta era óbvia, Isabella queria me testar. Ela queria ver até onde conseguia me empurrar, como se eu fosse um brinquedo novo que ela estava determinada a desmontar só para descobrir como funcionava. Mas eu não era um brinque