5- A professora da minha filha

*Ponto de vista do Scott*

Nem sei descrever o que senti quando olhei para minha filha e ela estava machucada, a raiva tomou conta de mim e eu queria culpar alguém, mesmo sabendo que o culpado por ela estar naquela situação era eu mesmo... minhas atitudes não estavam acabando apenas com a minha carreira, estavam machucando minha garotinha e isso eu não ia suportar, faria qualquer coisa para evitar que ela se ferisse, faria qualquer coisa por ela. Eu sei, você deve estar me julgando e perguntando "então porque não participa na escola?". Eu não sei, ta bom? Tenho medo, medo dessa condição nova que descobri... ela é tão perfeita, porque tinha que ter isso...essa tal dislexia... e o que isso quer dizer exatamente... minha fila é deficiente? Eu não entendo, tá bom? Me desculpa se não sou perfeito, se não sei sobre essas coisas... passo boa parte do meu tempo trabalhando e a outra parte criando uma filha... me julgue se quiser.

Tá, desculpa o desabafo... onde eu estava? Ah sim, logo que Hope disse que aquela era a tal professora, a mesma que me mandou o bilhete mal-educado, eu deixei a raiva tomar conta e perguntei se era assim que ela fazia o seu trabalho. Vi que ela até respirou fundo para não socar a minha cara, pelo menos foi essa a expressão dela, de quem queria muito me dar um soco (e acho que eu merecia mesmo) e depois ela me lembrou de pensar no motivo da briga... e Hope logo defendeu sua professora, percebi que ela estava tremendo, será que estava com medo de mim? Quando a professora disse que não estávamos brigando, me dando um olhar mortal, entendi que a Hope estava tremendo de nervoso, por medo da iminente briga entre nós dois. Só a abracei e saímos em direção à sala do diretor.

Após uma bronca e vários pedidos de desculpa, as crianças voltaram à aula e os pais foram dispensados, eu decidi ir atrás daquela professora petulante, mas quando a vi nervosa pegando água no bebedouro da sala dos professores, decidi tentar ser gentil, pela Hope, que pelo jeito era muito apegada a ela.

- Obrigado, Professora Kelly, a Hope gosta muito de você e hoje entendi o motivo.- eu disse entrando na sala dos professores e ela levou um susto, mas logo se recompôs porque olhou para mim com indiferença e respondeu de forma até um pouco grosseira

- É mesmo? E qual seria esse motivo, senhor Lapisch?

- Pode me chamar de Scott.- Eu disse, eu estava tentando levantar uma bandeira branca, será que ela não tinha percebido? será que queria mesmo manter a paz só na frente da Hope?- Creio que ela gosta muito de você porque você a entende.

- Aham.- Ela bebeu sua água e ficou pensativa por um momento, mas logo continuou- Mais alguma coisa, Senhor Lapish?

- Sinceramente, pensei que você fosse mais velha, sabe? Mas é bem jovem para tanta sabedoria.- Tentei de novo, acho que estava fazendo papel de tolo, mas como eu disse, é pela minha filha.

- Isso é sarcasmo?- Ela falou pensando que eu estava brincando com ela e nessa hora eu me irritei, mas ainda assim me controlei para falar de forma bem tranquila para tentar desarmar essa mulher, que garota mais difícil de conversar, meu Pai do céu.

- Estou tentando ser gentil. Você insistiu tanto para eu vir aqui e falar sobre a Hope com você, agora estou aqui na sua frente e tudo o que você faz é se irritar ainda mais comigo? Tem certeza que é assim que quer aproveitar essa reunião? Você não tinha milhares de coisas para me explicar?

- Eu... não sabia que era uma reunião, sente-se por gentileza.- ela pareceu entender e se acalmou, acho que baixou a guarda um pouco.

Antes de falar, pensei por um momento no porque ela parecia ter tanta raiva de mim... nunca a vi antes... ou será que vi e não me lembro? Tomara que não seja isso... alguma garota com quem já saí e nem me lembro...enfim, logo voltei a mim e comecei a falar.

-Eu não sei o que fazer.- Fui sincero, não entendo nada de Dislexia...

- Como assim?- Ela perguntou confusa, pareceu ler minha alma e ver que eu não falava somente da Hope, essa mulher tem algo que me dá medo...

- Eu recebi o diagnóstico da Hope durante as férias, o médico não explicou nada, só me deu um papel para trazer pra escola, eu trouxe e pensei que era tudo o que eu precisava fazer a respeito.- Falei um pouco na defensiva.

- Certo, esta falando da Dislexia. Olha, senhor Lapisch.

- Scott.

- Esta bem, olha Scott, é uma condição neurológica, pense que o cerebro de Hope funciona de forma diferente e processa as informações de forma diferente, vou te enviar alguns links de pessoas que explicam muito bem para pais que estão embarcando agora nessa jornada com seus filhos e creio que vai te ajudar a compreender como funciona a mente da Hope, mas a questão não é somente ajudar ela por causa da dislexia, quando eu o chamei, foi porque a Hope precisa de você aqui, temos filhos de diplomatas, de cirurgiões e de políticos nessa escola, e sempre tem uma pessoa da família nas atividades deles, mas a Hope, ela sempre esta sozinha, cada apresentação de teatro, cada competição de natação, cada reunião de pais, tenho visto que ela esta triste, Scott e isso parte meu coração.

- Você gosta muito dela né?- Me emocionei com o jeito dela falar sobre Hope, ela verdadeiramente se importa.

- Ela se parece comigo quando eu era criança, eu também tive muita dificuldade, eu também tenho uma condição neurológica diferente, tenho TDAH, que é o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, essa condição afeta a capacidade de uma pessoa de manter a atenção, controlar impulsos e gerenciar a hiperatividade.

- Nossa, e você se tornou professora mesmo assim, isso é incrível.- Falei admirado.- Mas, me desculpa, você pode me explicar como são os sintomas disso?

- Claro, O TDAH é caracterizado por três sintomas principais: desatenção, hiperatividade e impulsividade. As pessoas com TDAH podem ter dificuldade em se concentrar em tarefas, ficar quietas ou controlar suas ações e reações.- Ela falou e eu me reconheci em cada palavra... será que era isso que acontecia comigo? Eu tenho muita dificuldade de controlar minhas reações... só a música me ajuda a focar.

- Será que eu tenho isso? Eu me vi em tudo o que você descreveu, professora.

- Kelly, pode me chamar apenas de Kelly. O diagnóstico, Scott é geralmente feito por profissionais de saúde mental, como psicólogos ou psiquiatras, que avaliam os sintomas e o histórico da pessoa. Como profissional da educação, tenho certo conhecimento, até porque me especializei nisso para ajudar outras crianças como eu e a Hope.

- Entendi, que interessante, mas nossa, parece que você abriu minha mente, muita coisa faria sentido, vou procurar um profissional para conversar.

- Que bom Scott, espero que você encontre ajuda, assim poderá ajudar sua filha também. O TDAH pode ser desafiador, Scott, sou a prova viva disso, mas com o tratamento adequado, muitas pessoas conseguem gerenciar seus sintomas e levar uma vida plena e produtiva.

- Entendo, mas agora, sobre a Hope... sobre eu participar das atividades na escola, nem sei por onde começar.

- Esse sábado Hope vai se apresentar na noite de talento com umas coleguinhas, elas vão dançar "Shut Up and dance", foi a Hope que escolheu essa música.

Me peguei sorrindo bobo quando ela falou da música e Kelly me olhou confusa, então expliquei.

- Eu danço essa música com ela em casa, sei que é bobo, mas quando ela fica triste eu canto com ela e dançamos juntos, fazemos a maior festa.

- Isso explica o fato de ela convencer as amigas a dançar com ela, esta sentindo sua falta.- Kelly falou mas sem me julgar dessa vez então tive uma ideia brilhante.

- E se eu fizesse uma surpresa para ela?- Falei animado.

- Sou toda ouvidos.- Kelly respondeu curiosa

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