Eu arrastei minha mala até um motel caindo aos pedaços na beira do território.
Cheirava a mofo e a cigarro.
O papel de parede estava descascando, e o tapete estava coberto de manchas.
Mas para mim, uma excluída, era o único abrigo que eu tinha.
No meio da noite, uma dor forte me arrancou de um pesadelo.
A agonia da Deterioração da Alma da Loba era como mil agulhas de prata espetando meus ossos.
Cada respiração era um tormento.
Eu me enrolei sob o cobertor fino enquanto memórias da minha infância vieram à tona.
Eu só tinha doze anos na época, quando estava começando meu treinamento de combate.
Lydia sempre ajudava a arrumar meu uniforme de treinamento.
Mas toda vez que eu vestia o uniforme que ela havia preparado para mim, minha pele queimava.
A coceira era tão intensa que eu desabava nos campos de treinamento.
Todos pensavam que eu era delicada demais, incapaz até de lidar com o material do uniforme.
Só eu sabia que era pó de prata.
— Elena é tão frágil. Ela não consegue aguentar nem uma pequena irritação — o treinador da época havia dito com um balançar de cabeça.
E Lydia corria com preocupação. — Irmã, você está bem? Eu vou buscar um remédio para você.
Aos quatorze anos, durante um exercício de caça, alguém me empurrou de um penhasco.
Eu quebrei a perna e fiquei deitada em uma caverna por uma noite inteira.
Quando a equipe de busca me encontrou, eu estava delirando com febre alta.
Os olhos de Lydia se enchiam de lágrimas. — A culpa é toda minha. — Ela soluçava. — Eu devia ter protegido minha irmã. Eu devia tê-la encontrado mais cedo.
Ela se tornou a heroína, e eu, me tornei o fardo.
Mas a pior parte eram as chamadas ervas curativas.
Sempre que eu me machucava, Lydia se encarregava de cuidar de mim. Ela preparava pessoalmente o remédio e o dava gentilmente para eu tomar.
Eu pensei que fosse um gesto de amor fraternal.
Mas eu só ficava mais fraca.
Olhando para trás, percebi que aquelas ervas deviam estar misturadas com acônito.
Isso vinha, lentamente, destruindo meu espírito de lobo.
Todos, inclusive eu, acreditavam que eu tinha nascido fraca.
No final das contas, eu estava sendo envenenada aos poucos desde os meus doze anos.
Enquanto isso, no escritório do Alfa, Caleb estava sentado à sua mesa, incapaz de se concentrar em um único documento.
Os sinais de dor do nosso vínculo de companheiros o deixavam agitado.
A dor vinha em ondas, rasgando por dentro, como se uma faca cega perfurasse sua alma.
— Que inferno! — Ele se levantou num salto, jogando os papéis da mesa para o chão.
Ele sentiu uma necessidade irresistível de me encontrar imediatamente, para ter certeza de que eu estava segura.
Mas o orgulho dele não o permitia.
Ele precisava de um motivo para agir.
Quando a conexão mental soou na minha cabeça, a dor do meu corpo morrendo quase me fez desmaiar.
Foi uma comunicação de Caleb, com o tom dele frio como gelo.
—Elena, volte e peça desculpas à Lydia imediatamente. Não pense que você pode resolver alguma coisa fugindo de casa.
Eu não respondi. A fraqueza era tanta que eu não tinha forças para dizer algo.
Eu me questionei se restava nele ao menos um pingo de consideração por mim.
Mas isso já não importava. Restava apenas um dia para o fim da minha vida.
No dia seguinte, à tarde, um entregador do restaurante da Rosa deu umas batidas na minha porta.
Ele era um garoto Ômega gentil, com os olhos tão claros quanto uma nascente.
— Moça, a dona do estabelecimento me mandou trazer-lhe algo para você comer.
Ele estendeu cuidadosamente uma tigela de sopa bem quente, com o aroma de ervas curativas a exalar dela.
Naquele momento, meus olhos se encheram de lágrimas.
Ainda existia, neste mundo, alguém que tinha consideração por mim, uma excluída abandonada por todos.
Bem na hora em que eu ia aceitar a sopa com um aceno de cabeça, Lydia apareceu.
Ela estava vestida com uma roupa preta justa, com um sorriso perfeito no rosto.
— Irmã Elena, finalmente te encontrei.
Ela se aproximou e empurrou o garoto para o lado.
A sopa quente respingou no piso, respingando na minha perna e provocando em mim um gemido de dor.
— Ai, meu Deus, me perdoe. — Lydia simulou uma desculpa. — No entanto, é provável que seja para o seu bem você não ingerir coisas dadas por desconhecidos, irmã.
O garoto a encarou com raiva. — Por que você fez isso?
— Garotinhos não deveriam se meter nos assuntos dos adultos. — Zombou Lydia, liberando uma onda de seus feromônios dominantes.
O rosto do garoto empalideceu, e ele deu um passo para trás, cambaleando.
— Aliás, aquele funcionário do conselho foi demitido. — Disse Lydia, num tom que tentava parecer despreocupado. — O Alfa o demitiu pessoalmente. Por ter ousado processar o seu ritual de rompimento.
— Viu? Você é tão inútil que arrasta todo mundo para baixo com você. — Disse Lydia — Agora toda a alcateia sabe que você é uma traidora ingrata.
Ao ouvir suas palavras, meu mundo pareceu desmoronar.
Até a única pessoa que estava disposta a me ajudar tinha sofrido por minha causa.
Eu era uma maldição para todos que conhecia.
— Por quê? — Sussurrei, como se aquela única palavra tivesse levado embora toda a força que me restava.
— Porque eu odeio você!
Lydia soltou uma risada cortante e cheia de escárnio, um som penetrante no quarto silencioso.
— Se você vai morrer, então morra de uma vez. Por que fica ainda por aqui na Alcateia da Lua Negra, como uma pedra no sapato?
Está esperando que o Caleb acredite em você? Esquece. Desde sempre, você nunca foi nada além de um peso para ele.
Essa era a sua verdadeira face. Essa era a Lydia perfeita que todos adoravam.
Minha voz estava calma enquanto eu falava.
— Lydia, posso dizer com sinceridade que nunca fiz nada para te prejudicar.
— Por que você me odeia tanto?