Três

O dia amanheceu e não passava outra coisa na TV que não fosse a respeito do assassinato de Dino Galaretto, filho do bilionário Antony Galaretto. Michael acabara de acordar quando viu uma pequena aglomeração no seu bar, em frente a Tv.

— Que porra é essa que está acontecendo aqui? Vocês não têm mais o que fazer, ao invés de ficarem parados vento TV? — questionou por não gotas de moleza.

— Já estamos indo, patrão. — respondeu Richard. — É que a cidade está preocupada com a morte do filho de um bilionário mafioso!

— Filho de um mafioso? Que porcaria é essa que tu tá dizendo, Rich? — M perguntou, aproximando-se para saber mais.

“A polícia investiga o assassinato brutal do empresário italiano, Dino Galaretto. Segundo informações da própria polícia, Dino se encontrava em seu apartamento, quando ontem, por volta das dez horas da noite, um assassino conseguiu burlar a segurança. Um disparo certeiro na cabeça teria sido a causa da morte, segundo os legistas”. Dizia a repórter, em seguida, a chamada foi cortada para o pai da vítima. “Minha família sempre prezou pelo bem e pela decência desta cidade a qual aprendi a amar. Vocês não sabem o quanto estou de coração partido por ter perdido o meu filho dessa maneira. Mas como todo bom cidadão, eu irei deixar que a justiça faça o seu trabalho e confio de que irão punir com rigor, os responsáveis.”

A entrevista termina com uma multidão de jornalistas fazendo inúmeras perguntas, certamente que nenhuma obteve resposta. Antony já era um homem velho e por conta disso, seus assessores temiam que se emocionasse muito. Antony Galaretto chegou a Nova York ainda rapazote, com sua família vinda da Itália. Seu pai começou ganhando a vida como mecânico, mas foi durante a segunda guerra mundial que a família começou a se destacar. Com a reviravolta sofrida pelo mundo, o patriarca da família começou a se envolver com a máfia, tornando-se o você depois do chefe. Ele conseguiu a confiança do patrão de tal maneira que acabou se casando com a filha do mesmo e dessa união nasceu Antony. Devido ao fracasso da máfia na Itália, Antony decidiu maquiar a origem de seu dinheiro, passando-se por um empresário automobilístico. Sua empresa fabricava caros de luxo, mas a verdade era que por trás da empresa de fachada havia um poderoso e organizado esquema de tráfico de drogas, prostituição, chantagem a políticos e muito mais. Só que nos últimos anos, os Galaretto se viram a ter que baterem de frente com um poderoso rival. Simon Rulle. Natural de Nova Orleans, ele chegou a Nova York e passou a recrutar imigrantes para montar sua rede de tráfico, sexo e sequestros. Rulle também tinha o respaldo da temida máfia irlandesa, mas todos sabiam que ele agia sozinho. Quando Simon começou a crescer, Antony percebeu que aquilo não seria nada bom para os diversão, uma vez que o rival estava recrutando muitas pessoas para trabalharem para ele e então decidiu mandar um recado. Ele infiltrou espiões em seus estabelecimentos, plantou drogas em locais estratégicos, mas o golpe mais duro foi quando uma de suas prostitutas foi mandada para que desarticulasse a rede de Simon, de dentro para fora. O plano não funcionou e Natasha acabou sendo assassinada.

Michael olhou assustado para a imagem de Galaretto, que ficou congelada na tela da Tv. Imediatamente ele subiu para o quarto e ordenou que ninguém o interrompesse. Lá ele pega o telefone e tremendo, fala com seu chefe.

— Simon, fala pra mim que tu não tem nada a ver com isso!

— A ver com o que, M? — respondeu o cafetão.

— Cara! Mataram o Dino Galaretto. Você faz ideia do que isso vai causar?

— Eu faço, por que fui eu quem mandou matar aquele desgraçado para pagar pelo que fez!

— Você ficou maluco, cara!? — reclamou Michael, em desespero. — Por que você não falou comigo antes de cometer essa burrada?

— Olha aqui, M, o que já está feito, já está feito. Não tem mais volta. Agora é vida que segue, falou?

— Eu só espero que isso não traga retaliação pra cima da gente. Você sabe muito bem que o Galaretto fala uma coisa e faz outra!

M desligou o telefone assim que terminou. Sua preocupação era visível e por isso decidiu não abrir o bar naquela noite. Pegou o telefone e ligou para a única pessoa com a qual poderia confiar.

— Atende, Ariadne! — mas o telefone chamou até a ligação cair na caixa de entrada. — O que será que aconteceu? Mandou mensagem para Simon, perguntando da moça, mas o mesmo também não respondeu. — Cada segundo que passa, eu fico mais desconfiado dessa história!

***

Era pouco mais de meio dia, quando Jack finalmente chegou a uma propriedade. Ele dirigiu por cerca de cinco horas, depois da troca de tiros com o assassino de Dino. Ariadne desceu do carro logo depois de Jack dizer que era seguro. A casa parecia ser bem melhor do que a anterior. Pelo menos era o que dava a notar da parte exterior.

— Que lugar é esse? — perguntou ela.

— Estamos a cinco horas de onde estávamos, isso equivale há uns 300kms. — respondeu ele.

— Mas, em que lugar?

— E isso interessa pra você? Eu não costumo revelar os meus esconderijos! — friamente, voltou a responder. — Agora entre, esse lugar é diferente do anterior!

Era uma casa pequena e tudo ali até que estava limpinho. Ariadne logo sentou-se no sofá. Por estar apenas com o casaco, suas belas pernas ficaram à mostra, revelando parte de sua intimidade.

— Acho que deve ter um vestido por aqui! — falou subindo as escadas. — Vou lá no quarto pegar!

Ariadne notou que o homem subiu as escadas, mas não deixou de olhar para trás, olhar para ela. Envergonhada, a mulher pega uma almofada e coloca por cima de suas pernas. “Lá vai ela me deixando de pau duro, de novo!” Pensou. Abriu um baú de madeira e lá estava um vestido florido que mais parecia aqueles usados pelas mulheres da década de 1950. Desceu e o entregou para ela.

— Nossa, vou me sentir uma vovó dentro desse vestido! — falou sorrindo, recebendo a peça.

— Melhor do que andar com essa xereca de fora e me fazendo pensar besteira! — disse ele, sem querer olha-la nos olhos.

— Por que? Eu te faço pensar besteira?

— Eu não sou feito de ferro, mas também não me rebaixo transando com prostitutas!

Ariadne puxou profundamente a respiração. Pensou em revidar, mas estava perturbada demais para iniciar uma discussão. Precisava entrar em contato com Simon e Michael, mas para isso ela também precisava da proteção de Jack.

— Será que eu posso me trocar lá em cima?

— Esteja à vontade!

Jack aproveitou para descansar um pouco. Retirou o colete à prova de balas e o pendurou no mancebo de madeira que ficava perto da estante. A sala era decorada com móveis não muito antigos, mas também não eram modernos. O sofá na cor rosa claro tinha algumas almofadas brancas sobre ele. Uma mesa redonda perto da janela que dava vista para o campo e uma lareira ao fundo. A cozinha era equipada com um fogão a gás, além de um a lenha. Uma geladeira pequena, armários feito de madeira, uma pia e um forno elétrico. Uma mesa com quatro cadeiras e tudo o mais que uma cozinha simples necessita. Do quarto no qual Ariadne se trocava, ela olhou pela janela e enxergou uma imensa plantação de milho. O terreno arenoso indicava que estavam em uma área de deserto. Mas como? Vestiu o vestido e ao abrir o guarda-roupas, viu algumas cuecas ali. Pegou a mais apertada e vestiu como calcinha.

— Quero ver aquele imbecil falar gracinhas comigo de novo!

Ao descer pegou Jack sentado no sofá e com os pés na mesa de centro. Estava sem os sapatos e também sem camisa.

— Seu quarto já está desocupado. Muito obrigada!

— De nada, mas aquele será o seu quarto! — respondeu, porém, continuou de olhos fechados.

— Obrigada mais uma vez. Mas eu não pretendo ficar por muito tempo!

Jack deu uma gargalhada e olhou para Ariadne, com deboche.

— E eu posso saber para onde vossa majestade vai? — perguntou.

— Por favor, não me chame mais disso!

— Oh, perdão, doa moça! — mais uma vez, ele ironizou.

— Você sabe o meu nome! Você sabe quem ou, o que eu sou e faço para ganhar a vida, mas não tem o direito de me tratar como se eu fosse um lixo! — com lágrimas nos olhos, ela desabafa.

Jack fez silêncio ao ver que a mulher começava a se desesperar.

— Tá bom! O que retende fazer, então?

— Preciso que você entre em contato com o Simon. Ele é o meu chefe e vai mandar vir me buscar e me proteger! — respondeu. Mais uma vez, Jack a surpreende com uma gargalhada. — Tá rindo do que? Posso saber?

— Claro que pode! Você sabe quem mandou matar o Dino Galaretto? Sim, foi o seu chefe que também mandou apagar você! — disse Jack. Ariadne ficou boquiaberta e sem querer acreditar. — Sabe por que ele mandou fazer isso? Por que o Galaretto soube que o Simon estava ganhando muito dinheiro com uma tal “Rainha de Nova York”. O velho cresceu o olho, ele queria recrutar você e por isso mandou o filho conferir se a mercadoria era boa mesmo — falou apontando para a mulher de olhos verdes — e eu fui encarregado de fazer a segurança do príncipe enquanto te comia no apartamento dele!

— Mentira! — retrucou com lágrimas nos olhos.

— Mentira? Simon e Michael sabiam que você não iria resistir à proposta do Dino e iria querer trabalhar para eles. O Simon descobriu isso quando os homens deles torturaram uma prostituta chamada Natasha. Antes de matá-la, ela entregou tudo a eles.

— Natasha! Eles me disseram que ela tinha ido para Nova Orleans!

— Isso é o que dizem de todas as que eles matam. — respondeu Jack. — Ou você pensou que a sua xereca era tão valiosa assim? Quanta ironia. Ariadne acabou caindo ela mesma no labirinto do Minotauro!

A jovem chorava e disse não acreditar em nenhuma palavra do que Jack falou, então, o homem de cabelos castanhos revelou saber quem era o assassino que a estava procurando.

— Quem é ele? — perguntou.

— Você não o reconheceu? — replicou Jack. — Não lembra da festinha particular que deu no seu apartamento assim que se mudou? Eu me lembro muito bem!

— Do que está falando?

— Cabelos loiros e cacheados, corpo atlético, um excelente guia para mostrar os apartamentos novos!

— Não! NÃO! — ela gritou, sentou-se no sofá e ficou com as pernas encolhidas, enquanto Jack prosseguia.

— Sim! Eliot Kavanag! Assassino de aluguel, frio, cruel e sem um pingo de honra! — o homem sentando-se ao lado da mulher de olhos verdes. — Eu também sou um assassino, mas não faço como ele. Tenho honra e não é todo serviço que aceito. Você é mesmo muito azarada, hein — falou olhando para ela — só dá para os caras errados!

— Ainda não consigo acreditar que o Simon fez isso! — disse ela, ainda em soluços. — Ele disse que eu era a mais valiosa de todas! E o Eliot? Nunca que iria imaginar que ele fosse um matador de aluguel e que iria acabar tentando me matar!

— É como diz o ditado, moça, “na vida, nada é insubstituível”! Mas não se preocupe, você é a principal testemunha do assassinato do Dino e pode ferrar com o Simon, se você quiser!

— Mas é claro que eu quero! — respondeu de imediato.

— Então eu vou entrar em contato com o Antony e contar tudo pra ele. Tenho certeza de que o velho está me odiando por não protegido o filho, mas certamente ele ainda vai querer ter você!

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