Era uma manhã tranquila em Sateraite, e Free estava com Sheele na sala de aula esperando as aulas começarem, quando os alunos estavam entrando, Lean veio ao encontro de Sheele, que estava sentada ao lado de Free.
— Olha só, e não é que nos encontramos de novo? — Lean fala rindo desdenhosamente. — Eu disse que iria infernizar bastante a vida dela, e cá estou eu de novo! — Lean completa puxando a cabeça de Sheele pra trás com força. — Você é desprezível, mesmo! — Free responde encarando Lean nos olhos. — Vai fazer o quê? Eu sou intocável aqui... — Lean responde, sendo interrompido ao levar um soco no rosto vindo de Free. — Escuta aqui, eu já me cansei de você mexendo com ela... — Free ressalta, o tom firme. — Você ficou maluco por acaso?! — Lean avança contra Free, sendo derrubado e logo depois imobilizado. — Você não me deu outra opção, fora que já me irritei demais com você. — Free responde com uma voz séria. — Nunca mais ouse encostar um dedo na Sheele, ouviu bem? — impôs Free. — Free, já tá bom... O professor já está vindo! — respondeu Sheele, olhando para Free. Ao ver a cena, o professor de artes logo expulsou Lean da sala de aula e após isso, Free foi verificar se Sheele estava muito machucada. — Ele te machucou muito? — perguntou Free, preocupado. — Pelo menos não dessa vez... — respondeu Sheele, a voz baixa. — Você não acha que exagerou um pouco? — perguntou ela, com um tom de curiosidade. — Ele não me deu escolha... — respondeu Free, examinado Sheele para ver se ele não tinha deixado nenhuma marca visível. — Obrigada por me proteger hoje... — agradeceu Sheele, sentando-se ao lado de Free. Lá fora, Lean estava no terreno baldio ao lado da escola, planejando sua vingança contra Free. O terreno baldio ao lado da escola era um lugar desolado, com montes de entulho, mato alto e o ar seco que parecia sufocar. Lean vasculhava o local, chutando pedras e revirando o solo com a ponta do sapato, enquanto seus pensamentos giravam em torno de sua próxima jogada contra Free. De repente, algo chamou sua atenção. Um brilho dourado sob a luz fraca do sol destacava-se em um pequeno monte de terra. Quando se aproximou, percebeu que era um escorpião amarelo, com o corpo reluzente e patas tingidas de marrom, que se movia lentamente, a cauda erguida em posição de ataque. — Opa, olá! — Lean sussurrou, seus olhos brilhando com uma ideia maliciosa. Ele estendeu a mão e, com cuidado, pegou o escorpião. O pequeno animal contorceu-se em sua palma, a cauda balançando perigosamente, mas Lean não parecia se importar. — Você vai me servir de grande ajuda... — murmurou, com um sorriso perverso enquanto procurava algo para guardá-lo. Encontrou uma latinha velha jogada entre os entulhos e colocou o escorpião lá dentro, fechando-a com cuidado. — Eu sei que eu não posso com aquele lobo protetor de meia banca, mas a Leonheart... Ah, ela é outra história. — Lean sorriu enquanto balançava a latinha levemente, ouvindo o leve som do escorpião se movendo dentro. — Eu sei bem da alergia dela, e vou usar isso a meu favor. É só jogar nela e pronto, o resto acontece sozinho. — Sua risada ecoou pelo terreno vazio, fria e cruel. Ele se levantou, sacudindo a poeira das calças, e olhou em direção à escola com um olhar sádico. — Quero ver se aquele protetor vai prever isso. Em breve, a Leonheart vai sentir o gosto do inferno... — Lean ri baixo, mas sadicamente. Com passos decididos, Lean saiu do terreno baldio, apertando a latinha com o escorpião em sua mão, como se segurasse uma arma mortal. Enquanto isso, a escola seguia em sua habitual calmaria. No refeitório, Sheele e Free estavam sentados em uma das mesas, conversando tranquilamente. O som das risadas e conversas dos outros alunos preenchia o ambiente, mas tudo parecia mais leve enquanto os dois compartilhavam uma conversa descontraída. De repente, a voz de Lean interrompeu o momento. Ele se aproximou com um sorriso falso e uma postura relaxada, mas seus olhos traiam suas intenções. — Que coincidência, encontrei meus melhores amigos aqui juntos! — Lean exclamou com ironia, as palavras escorrendo como veneno. Free imediatamente estreitou os olhos, a expressão séria enquanto encarava Lean — O que você tá planejando, Lean? — perguntou, o tom rígido, como se já antecipasse que algo estava errado. Lean deu de ombros, a teatralidade evidente em seus gestos. — Nada demais... — Ele então virou o olhar para Sheele, o sorriso se ampliando de forma assustadora. — Só vim fazer uma surpresinha pra você, Leonheart. — completou ele. Antes que Free pudesse reagir, Lean abriu rapidamente a lata que segurava e jogou o escorpião em direção a Sheele. O pequeno animal, assustado, voou pelo ar antes de aterrissar no ombro dela. Em segundos, ele subiu em direção ao pescoço e cravou o ferrão. — Ahhh! — Sheele soltou um grito de dor, antes de começar a se engasgar, o corpo perdendo força enquanto desabava da cadeira, batendo no chão com um impacto surdo. — O que você fez com ela?! — gritou Free, correndo até Sheele enquanto o pânico tomava conta de seu rosto. Lean cruzou os braços e deu um passo para trás, observando a cena com um olhar satisfeito. — Você é cego ou quer que eu desenhe? — respondeu com desprezo. Sheele levou as mãos ao pescoço, tentando desesperadamente puxar ar, mas a reação alérgica já tomava conta de seu corpo. — So...co...rro... — murmurou, a voz quase inaudível enquanto os olhos começavam a se encher de lágrimas. Free sentiu o desespero tomar conta. Ele se ajoelhou ao lado dela, tentando ajudá-la. — Aguenta firme, Sheele! Eu vou te tirar daqui, eu prometo! — disse, enquanto seu coração batia acelerado. Mas então, a raiva tomou conta dele. Ele se levantou em um movimento rápido e segurou Lean pela gola da camisa, puxando-o para perto. — Escuta aqui, Lean. Se algo mais grave acontecer com ela, eu acabo com a sua raça! — gritou, os dentes cerrados de fúria. Lean apenas riu, o som gelado e cruel. — Então tente... — provocou, com um brilho de prazer perverso nos olhos. Ele parecia se alimentar da visão de Sheele sofrendo no chão, lutando por sua vida. Sem perder mais tempo, Free largou Lean e voltou sua atenção para Sheele, que agora estava caída no chão, os lábios ficando azulados e os movimentos cada vez mais fracos. A expressão de dor no rosto dela perfurava o coração de Free como um punhal. Ele gritou por ajuda, sua voz ecoando pelo refeitório enquanto o pânico tomava conta do ambiente. — Sabe o que eu acho, Goshui? — Lean começou, sua voz impregnada de crueldade, enquanto observava a cena com um sorriso satisfeito. — Bem feito pra você! Ninguém mandou meter o dedo onde não foi chamado... — completou ele. — Olha aqui... — Free se virou para ele, o olhar transbordando fúria e lágrimas represadas. — Se ela morrer por causa disso, eu vou caçar você até no inferno se for necessário! — As palavras saíram como um rosnado, carregadas de ódio e desespero. Lean recuou um passo, mas manteve seu tom zombeteiro. — Ui, tô com medo! Olha como eu tô tremendo! — Ele ergueu as mãos teatralmente, rindo de forma desdenhosa, enquanto seus olhos brilhavam com um prazer doentio. Antes que Free pudesse fazer qualquer coisa, a coordenadora chegou, empurrando alguns alunos para abrir espaço. Ela rapidamente avaliou a situação, o olhar sério como aço. — Free, acompanhe-a até o hospital! Ela vai precisar de você agora mais do que nunca! — ordenou a coordenadora, enquanto os paramédicos finalmente entravam no refeitório com uma maca. Free assentiu com determinação. — Certo! — respondeu, ajoelhando-se ao lado de Sheele enquanto os médicos se aproximavam. Ele segurou a mão dela com força, sentindo o frio da pele dela contra a sua. Os paramédicos trabalharam rapidamente, injetando epinefrina em Sheele enquanto verificavam os sinais vitais. Free observava cada movimento deles, o coração batendo em um ritmo frenético, a preocupação estampada em seu rosto. Enquanto Sheele era colocada na maca e levada às pressas para a ambulância, Free lançou um último olhar para Lean, seu rosto uma mistura de dor e raiva. Ele sabia que aquela história não terminaria ali. — Eu vou cuidar de você, Sheele... Eu prometo... — murmurou Free enquanto corria para entrar na ambulância. No hospital, Free estava sentado na sala de espera, a cabeça enterrada nas mãos, enquanto murmurava baixinho: — Meu Deus, por favor, não me deixe perdê-la... Ela é importante demais pra mim... Não quero perder mais ninguém nessa vida! Cada minuto que passava parecia uma eternidade. A preocupação consumia Free por inteiro, e, em sua mente, a imagem de Chelsea emergia como um fantasma do passado. Ele lembrava do olhar amoroso da irmã e das palavras que ela havia deixado na carta que encontrara. Um peso esmagador de culpa e medo parecia apertar seu peito. Depois de horas angustiantes, um médico se aproximou, chamando por ele. — Senhor Goshui? Você pode entrar agora. — chamou ele, enquanto Free o seguia. Free levantou-se num pulo, o coração batendo descompassado. — Ela está bem? — perguntou, a voz quase falhando. O médico, com uma expressão profissional, respondeu: — Se tivéssemos demorado mais um pouco, ela teria morrido ali mesmo. Ela tem sorte. — respondeu o médico, se dirigindo à Free. O coração de Free apertou ainda mais. — Ela está bem mesmo? — repetiu ele, com os olhos marejados. — Ela está acordada, mas vai precisar de observação até se recuperar completamente. — O médico assentiu, permitindo que Free entrasse no quarto. Ao entrar, Free viu Sheele deitada na cama, com o rosto pálido e os olhos cansados, mas vivos. A visão dela naquele estado trouxe um turbilhão de emoções, e ele não conseguiu segurar as lágrimas. — Sheele, me perdoe... — Ele se ajoelhou ao lado dela, segurando sua mão com cuidado. — Eu não sabia que você tinha alergia... — Free responde olhando para o chão. Ele abaixou a cabeça, a voz quebrando em soluços. — E pensar que eu quase falhei de novo, e da pior forma possível! — completou, lembrando de Chelsea. Sheele o olhou, com os olhos cheios de empatia, apesar de sua fraqueza. — Free, você fez o que pôde... Eu não te culpo por não saber desse detalhe... — ressaltou ela. Ele ergueu os olhos, as lágrimas correndo pelo rosto. — Eu achei que iria perder você... — Free responde enquanto passos se ouviam no corredor. Antes que Sheele pudesse responder, a porta se abriu com força. Mizuki entrou apressada, o rosto marcado pelo pânico. Assim que viu a filha acordada, seu corpo relaxou em alívio. — Vim assim que pude! Como ela está? — perguntou Mizuki, dirigindo-se a Free. — Vai precisar ficar em observação até se recuperar por completo... — Free respondeu, olhando novamente para Sheele, ainda segurando a mão dela. Mizuki aproximou-se da cama e colocou a mão no rosto de Sheele, os olhos marejados. — Minha filha... Graças a Deus você está viva. — Mizuki responde olhando para Sheele. Sheele sorriu, mesmo que levemente. — Mãe... Se não fosse o Free, eu não estaria aqui agora. — afirmou ela. Mizuki se virou para Free, seu olhar se suavizando. — Obrigada por salvar minha filha... — agradeceu ela, a voz cheia de gratidão. — Só fiz o que era certo... — respondeu Free, a voz firme, mas ainda carregada de emoção. Mizuki suspirou. — Cuide bem dela, Free. Eu não posso ficar muito tempo aqui... Tenho uma questão urgente pra resolver. — Pode deixar, senhora Leonheart. Ela estará em boas mãos. — Free assentiu, sua determinação refletida em seu olhar. Com isso, Mizuki saiu do quarto, deixando Free e Sheele sozinhos novamente. Ele voltou sua atenção para ela, prometendo a si mesmo que nunca mais deixaria algo assim acontecer. — Muito obrigada por me trazer aqui a tempo, Free... — Sheele agradece enquanto Free a observava. — Vou dormir um pouco, até amanhã... — Sheele completa fechando os olhos. A noite se seguiu arrastada, os segundos pareciam horas e os minutos eram comparáveis á dias inteiros, Free mal conseguia dormir só de pensar que poderia perder Sheele enquanto isso, a imagem de Chelsea ainda permanecia em sua mente como um fantasma do passado. O dia chegou, e Free ainda não havia dormido, as olheiras estavam evidentes enquanto Sheele acordava e percebia que ele não havia conseguido dormir. — Free, você tem que dormir... — observou Sheele, a voz preocupada. — Não posso... — respondeu ele, olhando para Sheele. Enquanto isso, a porta se abria, e um médico junto de mais alguém vinha ao encontro de Sheele, que logo reconheceu que era seu pai.