Aproximando-se

O dia corria tranquilo em Sateraite, e Free estava com Sheele no refeitório enquanto ela desabafava sobre sua vida com ele.

— Sabe Free... Eu nunca me senti aceita por ninguém aqui no colégio, você é o primeiro que me abraçou... — comentou ela, a voz entristecida.

— Sheele, eu não te disse isso antes, mas agora eu vou dizer, quando eu comecei a te proteger, eu senti que ganhei um novo propósito além de honrar a memória da minha irmã... — respondeu Free, ainda segurando Sheele em seus braços.

— Obrigada, eu não sabia que eu era tão importante assim pra você. — Sheele comenta ficando meio surpresa.

— E você é. Desde o primeiro dia... — respondeu Free, olhando para Sheele.

O sinal tocou, indicando o fim das aulas. Sheele e Free caminharam juntos até a sala para pegar suas mochilas. O dia havia sido longo, e ambos estavam ansiosos para descansar antes de enfrentar mais um dia.

Enquanto Free estava à frente, Sheele hesitou por um instante, mas, reunindo coragem, deu um passo à frente e o abraçou por trás, surpreendendo-o.

— Free... muito obrigada por ser meu amigo. — a voz dela era suave, mas carregada de emoção, enquanto o envolvia em seus braços.

Free parou, sentindo a sinceridade nas palavras dela. Ele sorriu de leve, se virando um pouco para encará-la.

— Eu quem devo agradecer, Sheele... — respondeu ele, com um brilho nos olhos.

— Nunca pensei que faria amigos tão facilmente... sempre achei que minha audição fosse uma barreira. — completou Free.

Sheele o olhou diretamente, seus olhos castanho-escuros refletindo uma mistura de gratidão e algo mais.

— Eu gosto muito de estar com você. Quando estou ao seu lado, sinto que nada de ruim pode me alcançar... você me faz sentir segura. — ressaltou ela, os olhos brilhando.

Free sorriu, seus olhos capturando cada detalhe da expressão dela.

— Seu sorriso é tão lindo... — ele disse, com um tom carinhoso.

— E essas presinhas de fora o deixam ainda mais encantador. — completou.

Sheele sentiu o calor subir até o rosto, suas bochechas ficando levemente rosadas.

— Obrigada, Free... — respondeu ela, abaixando um pouco a cabeça, mas sem conseguir esconder um pequeno sorriso.

— É por isso que eu gosto de você, Free... Você é o único que consegue me entender como ninguém... — completou Sheele, sua voz cheia de sinceridade e gratidão.

Após aquele momento, Free decidiu acompanhar Sheele até sua casa para conhecer sua mãe. Ao chegarem, os dois entraram na sala de estar, onde Mizuki, a mãe de Sheele, estava organizando algumas coisas.

— Mãe, trouxe o Free pra você conhecê-lo. — avisou Sheele, sentando-se ao lado de Free no sofá.

— Já estou indo! — respondeu Mizuki, aproximando-se da sala com um sorriso acolhedor.

Quando Mizuki entrou, seus olhos recaíram sobre Free.

— Então, você é o Free? A Sheele falou muito bem de você. — disse ela, analisando-o com curiosidade.

— Sim, sou eu! Somos da mesma sala, inclusive. — respondeu Free, com a voz ligeiramente alta, sem perceber.

Sheele imediatamente levou as mãos aos ouvidos, franzindo a testa.

— Free! Eu tô bem aqui do seu lado! — reclamou ela, olhando para ele.

Percebendo o incômodo que causou, Free rapidamente tirou os aparelhos auditivos e começou a trocar as pilhas.

— Desculpa, acho que as pilhas estavam fracas e desregulei sem querer... — Free começa a tirar as pilhas velhas e substituí-las.

Mizuki observou a cena com interesse.

— Não sabia que você usava aparelho auditivo. — comentou ela, enquanto Free colocava os aparelhos de volta.

— Ah, uso sim, desde criança. — explicou ele, com um sorriso meio constrangido. — Foi por causa de um acidente com fogos de artifício. Meu pai acendeu um rojão bem grande que perdeu o controle, estourou perto de mim e causou danos graves nos meus tímpanos. Desde então, perdi oitenta por cento da audição nos dois ouvidos. — completou ele.

Sheele, visivelmente comovida, segurou a mão de Free.

— Isso deve ter sido horrível... Eu não fazia ideia de que algo assim poderia acontecer. — disse ela, com um tom preocupado.

— Foi difícil no começo, mas me adaptei. Esses aparelhos ajudam bastante. — respondeu Free, sorrindo um pouco para tranquilizá-la.

Mizuki, que ouvia atentamente, mudou o tom para algo mais sério.

— Fiquei sabendo que você tem ajudado minha filha com aquele tal de Lean, o filho do diretor... — comentou Mizuki.

— Sim, ele vive tentando importuná-la. — disse Free, apertando os punhos levemente.

— Mas não se preocupe, eu sempre coloco ele no lugar. Não suporto pessoas que intimidam ou agridem os outros, ainda mais garotas. — completou ele.

Mizuki sorriu, visivelmente aliviada e grata.

— É bom saber que minha filha tem alguém como você por perto, Free. Obrigada por cuidar dela.

Sheele, ainda segurando a mão de Free, olhou para ele com um sorriso tímido.

— Eu não sei o que faria sem você. — disse ela, a voz cheia de gratidão por ter Free em sua vida.

Free olhou de volta para Sheele, apertando gentilmente sua mão.

— E eu não vou deixar ninguém te machucar. Você pode contar comigo, sempre. — respondeu Free, olhando nos olhos de Sheele.

O clima se seguiu tranquilo, com Free e Sheele conversando sobre suas vidas, mas ao anoitecer, Free teve de ir para sua casa a fim de descansar e enquanto Free chegava em casa, Sheele e Mizuki conversavam sobre ele.

— Gostei dele, fico feliz que tenha feito um amigo tão bom quanto ele. — Mizuki comenta com um tom agradecido.

— E como. Ele é muito especial pra mim... — respondeu Sheele, sorrindo um pouco.

— Não pude deixar de notar que você estava gamada nele... — observou Mizuki, rindo um pouco.

— Tá tão na cara assim? — Sheele responde corando mais que um tomate.

— Um pouco, mas está bem perceptível... — ressaltou Mizuki.

— Não sabia que estava tão na cara! — Sheele responde escondendo o rosto com as mãos.

— É normal se apaixonar assim por um garoto tão bom quanto ele... — Mizuki ressaltou, notando que Sheele estava com o rosto vermelho de vergonha.

— Mas eu não vou negar, eu gosto muito dele... — admitiu Sheele, lembrando de Free.

Enquanto arrumava seu quarto, Free deixou as pilhas de seus aparelhos auditivos carregando. Ao reorganizar o guarda-roupas, uma carta caiu aos seus pés. Ele a pegou, e imediatamente reconheceu a caligrafia delicada de sua irmã mais velha, Chelsea, que já não estava mais entre eles.

Por um momento, Free hesitou, o coração apertado. Abrir aquela carta significava reviver a dor da perda, mas também o amor que ela sempre lhe dedicou. Ele se sentou na beira da cama e, com mãos trêmulas, abriu o envelope desgastado pelo tempo.

As palavras escritas à mão tocaram seu coração como uma flecha certeira. Enquanto lia, lágrimas começaram a escorrer de seus olhos azuis-safira, manchando levemente o papel amarelado:

"Querido Free,

Se você está lendo esta carta, significa que já não estou mais por perto para te abraçar e te lembrar o quanto você é especial. Mas, mesmo distante, quero que saiba que meu amor por você nunca diminui.

A vida pode ser dura e cheia de desafios, e eu queria tanto estar ao seu lado para te ajudar a enfrentar cada um deles. Você sempre foi um irmão incrível, cheio de bondade e força. Nunca, nunca duvide disso.

Quero que você se lembre de ser forte, não só por você, mas por mim também. Use sua bondade para ajudar os outros, como sempre fez. E, por favor, nunca se sinta culpado pelo que aconteceu comigo. Você fez tudo o que podia, e isso é o que realmente importa.

Se estiver desmotivado ou sentindo que não é bom o suficiente... Incendeie o seu coração! Lembre-se: você é mais forte do que pensa. Sei que você sonha em ser um policial militar. Acredite em si mesmo e siga em frente. Você tem a coragem necessária para realizar esse sonho e fazer a diferença no mundo.

Continue sendo essa pessoa maravilhosa que você é. E, sempre que sentir saudades, lembre-se dos momentos felizes que compartilhamos. Estou com você, em cada passo.

Com amor eterno,

Sua irmãzona, Chelsea."

Ao terminar de ler, Free abraçou a carta contra o peito, as lágrimas fluindo como um rio. Ele olhou pela janela, se perdendo nas lembranças de Chelsea: o riso dela, as palavras de apoio, o calor dos abraços.

Kurumi, seu avô, notou o som abafado do choro e foi até o quarto.

— Free, o que aconteceu? — perguntou ele, com a voz carregada de preocupação.

Free mostrou a carta, a voz embargada:

— É da Chelsea... Eu a encontrei enquanto arrumava o guarda-roupas. — Free responde mostrando a carta de Chelsea.

Kurumi suspirou, sentando-se ao lado do neto. Ele colocou uma mão firme e confortante no ombro de Free.

— Ah, meu neto... Sei o quanto a Chelsea significava para você. — disse Kurumi.

— A culpa foi minha, vovô... Eu deveria ter feito mais. Eu deveria ter impedido... — disse Free, a voz tremendo enquanto revivia as lembranças mais dolorosas.

Kurumi o abraçou, transmitindo calor e conforto.

— Não diga isso, Free. Você fez tudo o que estava ao seu alcance. Chelsea sabia disso. Ela te amava e sabia o quanto você a protegeu.

— Mas... Parece que nunca foi o suficiente. — sussurrou Free, secando os olhos com as costas da mão.

— Se eu pudesse voltar no tempo, faria tudo diferente... — completou, a voz quebrando.

Kurumi olhou para o neto, com os olhos cheios de compreensão.

— Não podemos mudar o passado, Free, mas podemos honrá-lo. Você já faz isso todos os dias, ajudando quem está ao seu redor.

Nesse momento, Tomone, mãe de Free, entrou no quarto e percebeu o clima.

— Free, você está bem? — perguntou, preocupada.

— Só as memórias da Chelsea... Elas nunca vão embora. — respondeu ele, os olhos marejados novamente.

— Eu só queria cinco minutos com ela, só mais uma chance... — completou.

Tomone se aproximou e abraçou o filho com força.

— Meu filho, sei que você daria tudo para mudar as coisas, mas saiba que sua irmã nunca te culpou. Ela acreditava em você, e eu também acredito.

Free engoliu em seco, tentando absorver as palavras da mãe.

— Cada vez que você protege alguém, como faz com a sua amiga, está honrando a memória dela. E tenho certeza de que, onde quer que esteja, Chelsea está muito orgulhosa de você. — ressaltou Tomone.

As palavras de Tomone trouxeram um conforto que Free há muito não sentia. Ele respirou fundo, enxugando as lágrimas.

— Obrigado, mãe... Acho que preciso descansar um pouco. — Free responde indo para o quarto dormir um pouco.

— Claro, filho. Estamos aqui para o que precisar. — respondeu Tomone, acariciando a pelagem de sua cabeça antes de deixá-lo a sós.

Free voltou a olhar pela janela, segurando a carta. Ele sabia que a dor da perda nunca iria embora completamente, mas naquele momento, sentiu o peso do amor e da força que Chelsea sempre depositou nele.

Momentos mais tarde, Free se deitou em sua cama e dormiu para amanhã ir á escola, e no dia seguinte, Free acordou com vozes na sala e após colocar seus aparelhos auditivos, Free saiu do quarto e viu que Sheele estava conversando com Tomone na sala de estar.

— Sheele? Como achou minha casa? — perguntou Free, com um tom de curiosidade.

— Bom, minha casa e a sua ficam pra mesma direção, não foi difícil pra ser sincera! — respondeu Sheele, sorrindo para Free.

— Vamos? Não vai querer se atrasar, vai? — perguntou Free, saindo pela porta com Sheele.

Após saírem para o colégio, Sheele logo notou que Free estava mais disposto.

— Vejo que você dormiu bem hoje... — observou Sheele, rindo um pouco.

— Nem percebi quando foi que eu dormi, pra ser sincero... — respondeu Free, olhando para Sheele.

— Alguém já te disse que o som da sua risada é doce como uma brisa da manhã? — perguntou ele, com um tom de curiosidade.

— Obrigada! Você é um fofo mesmo... — agradeceu Sheele, pegando na mão de Free e beijando sua bochecha.

— Você sabe mesmo me deixar sem jeito... — Free responde rindo um pouco.

Após chegar no colégio e entrar na sala de aula, notaram que Lean não estava ali, o que não era habitual e para Sheele, aquilo era um alívio na alma, pois sabia que Lean iria perturbar sua paz, mas ao olhar para Free, ela percebeu que não havia porquê se preocupar demais com isso, visto que Free iria a proteger como havia prometido.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App