Após o jantar, me acomodei na sala de estar com Crime e Castigo nas mãos, tentando me concentrar na leitura. Mal havia chegado ao capítulo dois quando Victor apareceu na porta, seu olhar pesado sobre mim.
— Você vem dormir comigo hoje? — perguntou, direto como sempre.
Senti o rosto queimar, os dedos se apertando involuntariamente nas páginas do livro. Ele não esperou minha resposta, apenas sorriu daquele jeito que já conhecia tão bem.
— Já sei o que você vai dizer. A porta do quarto está aberta, caso mude de ideia.
Virou-se e saiu, deixando-me ali, com o coração batendo forte e as palavras de Dostoiévski dançando diante dos meus olhos sem que eu conseguisse absorvê-las.
Fechando o livro com um suspiro, decidi que precisava de um chá. Na cozinha, encontrei Joana ainda limpando, seus movimentos precisos e cansados.
— Você deveria estar indo para casa, Joana — comentei, surpresa ao vê-la ali tão tarde.
Ela ergueu os ombros, sem parar o que fazia.
— Moro aqui, senhora. Na casa dos empregad