Capítulo 1
Naty Sampaio
Estou desesperada. Preciso encontrar uma medula compatível para a minha filha de seis anos. Infelizmente, eu não sou compatível e, desde que me separei do meu ex-marido, não tenho mais contato com ele. O infeliz nem sequer procura a filha e insiste em dizer que não é o pai dela. Já o procurei por toda Tóquio, mas ele se mudou para outro país com a nova mulher. Tudo o que me resta é esperar que alguém doe uma medula compatível.
Ainda lembro das palavras do médico:
— Senhorita Sampaio, eu sinto em lhe dizer, mas sua filha precisa urgentemente de um transplante de medula, ou então ela morrerá.
Aquelas palavras me destruíram por dentro.
— Eu posso doar? Por favor… — pedi nervosa, apertando minhas mãos.
— Somente se a senhora for compatível. Deverá fazer o teste ou então encontrar algum membro da sua família ou de seu ex-marido para ver se são compatíveis — respondeu o médico.
Após o teste, eu tive de esperar um tempo e recebi a notícia de que não era compatível, o que fez meu mundo desabar ainda mais.
Eu mal conheci a família do meu ex-marido. Na verdade, nosso romance durou pouco mais de três anos. Nós nos conhecemos durante meu estágio na empresa dele, e eu me tornei sua secretária. Com as investidas dele, acabei cedendo, e um ano depois estávamos nos casando às escondidas. Ninguém sabia de nosso relacionamento, nem mesmo minha mãe, até que ele me abandonou grávida e pediu o divórcio. Com isso, eu perdi tudo: o meu trabalho como secretária, o homem que eu amava e o respeito das pessoas.
Passei fome para conseguir alugar um lugar pequeno para viver e, depois que finalmente consegui me erguer através de um pequeno trabalho como consultora de TI, minha mãe se recusava a me ver e dizia que eu era apenas uma vadia que se deitou com um homem rico por dinheiro e agora estava sozinha. Ela nem sequer me olhava no rosto.
Quando me mandou embora, proibiu-me de me aproximar do meu próprio irmão. Depois de passar por muitos altos e baixos, finalmente consegui me estabelecer em um pequeno lugar. Agora, com minha filha já crescida, eu poderia encontrar um trabalho melhor para pagar os estudos dela, mas foi um choque muito grande quando ela desmaiou na casa de uma amiga, há um mês. Ao trazê-la ao hospital, foi constatado que ela estava com leucemia e precisaria de um transplante de medula o mais rápido possível. Meu desespero só aumentou quando tive de interná-la e fazer um empréstimo para mantê-la lá. Sou capaz de qualquer coisa por minha filha.
— Você sabe que as coisas não vão se manter assim por muito tempo, Naty. Você precisa encontrar um doador. Talvez seu ex-marido entenda e lhe ajude — disse minha amiga Sarah. Ela era uma ótima pessoa e me ajudou muito nesses anos.
— Eu já tentei encontrá-lo, Sarah. Mas ele viajou para outro país, e não me deram seu número. Ninguém sabe ou acredita que eu tenha sido sua esposa — disse, de cabeça baixa, enquanto estávamos bebendo e conversando para esquecer tudo aquilo.
— Já procurou sua família ou a dele? Talvez alguém possa ajudar — disse, preocupada. Sorri fracamente.
— Minha mãe nem sequer me ouviu e, se eu me aproximasse do meu irmão, provavelmente ela chamaria a polícia. E não posso ser presa agora. Quanto à família dele, eu nem mesmo sei quem são — disse, pegando outro copo e bebendo todo o líquido de uma só vez.
— Desculpe se estou me metendo, mas eu pesquisei, Naty. Esse tal de Murilo Ferri é o irmão mais velho do seu ex-marido. Talvez ele possa lhe ajudar. Eu consegui o endereço dele. Procure-o, amiga, e convença ele e a família dele a fazer o teste de medula — incentivou Sarah.
Peguei o papel com o endereço e o encarei.
— Você tem razão, eu só preciso conversar com ele. Vou marcar um horário o quanto antes e implorarei a ele, se for possível. Eu só quero salvar a vida da minha filha, da minha pequena Luna — disse, segurando o papel com força.
Depois de mais uns copos, finalmente criei coragem para ligar, mas não fui atendida. Acabei adormecendo com o papel em mãos. Ao acordar, liguei novamente e consegui um horário para a tarde, fingindo ser uma pessoa importante.
Coloquei meu melhor vestido, prendi os cabelos em um coque, fiz uma maquiagem simples e, finalmente, estava pronta para ir à empresa daquele homem. Assim que cheguei, as pessoas se curvaram para mim, o que me fez estranhar o tamanho do respeito que estavam demonstrando. Ao me identificar, uma funcionária dali me analisou por inteiro, e eu finalmente fui recebida por aquele homem que era o tio da minha filha.
Ao entrar na sala, vi um homem de cabelos negros olhando pela janela, com um copo de uísque nas mãos.
— Você enganou bem os meus funcionários, mas, no momento em que entrou nesta empresa, já pude perceber que você não é uma pessoa importante. Então, diga logo o que veio fazer aqui — disse, se virando para mim.
Devo admitir que, apesar de frio, ele era um homem muito bonito.
Murilo Ferri
Eu sou um homem muito ocupado. Tornei-me presidente desta empresa há oito anos — uma das principais filiais do meu pai. Fiquei famoso nesse ramo pelos meus contratos inusitados e meus negócios bem-sucedidos.
No início, isso foi um problema, já que meu pai não confiava em mim e meu irmão mais novo estava sempre aprontando e causando problemas em outra filial. Eu precisava tirar a atenção desnecessária que as pessoas tinham sobre ele para que nossa família não fosse motivo de piada para a sociedade. Mas, agora que ele está finalmente morando em outro país com sua namorada, finalmente poderei fazer o que quiser sem ser o centro das atenções.
Como homem ocupado, minha agenda estava sempre lotada, mas hoje uma pequena vaga se abriu e eu poderia aproveitar o tempo. Isso até uma mulher marcar o único horário disponível.
Fiquei esperando a mulher que se dizia dona de uma empresa internacional. Mas, assim que a vi entrando pelas câmeras de segurança, percebi que ela não era, de fato, rica nem dona de empresa nenhuma. Mulheres importantes usariam joias finas e roupas de marca, mas essa só estava usando um vestido simples com bijuterias baratas.
— E então? Permanecerá em silêncio por quanto tempo? — perguntei, e ela tremeu.
— Eu sou Naty Sampaio. Eu fui esposa de seu irmão mais novo há alguns anos — disse, se esforçando para não gaguejar.
— Está atrás de dinheiro? — perguntei, e ela negou.
— Não. Estou aqui para lhe pedir que faça um teste de medula. Vim implorar para que salve a vida de minha filha — pediu.
Sorri de lado, tendo um plano se formando em minha mente.
— Por que eu faria isso? — questionei, e ela me olhou. Seus olhos estavam marejados, e eu pude sentir o desespero dela.
— Ela é sua sobrinha. Tudo o que peço é que a salve — pediu novamente.
— Você está disposta a tudo para salvar a sua filha? — perguntei.
— Sim. Se o senhor for compatível, eu estou disposta a tudo para salvá-la — disse, determinada.
— Se eu for compatível, só doarei se você for minha — se estiver em minha cama, sem objeções — e me ajudar a tirar o conselho da empresa do meu pé, fingindo ser minha noiva. Esta é minha condição — disse, frio, vendo a mulher diante de mim ficar completamente vermelha. Ela apertou seu vestido preto e, com o olhar determinado, me encarou.
— Sim. Eu farei tudo o que quiser. Estarei em sua cama e lhe ajudarei no que for, mas salve a minha filha — Naty ficou de joelhos à minha frente, e sorri vitorioso.
Finalmente, poderia tirar aqueles velhos acionistas do meu pé e dizer que sou um homem comprometido. Somente assim poderei ser livre e administrar esta empresa como desejar.