6. Limites

O clima no carro já era pesado.

Mas quando chegaram ao apartamento, o silêncio ficou ainda pior.

Damian destrancou a porta e entrou primeiro. Não a esperou. Não olhou para trás.

Luna fechou a porta com mais força do que queria, mas não se desculpou. Nem deveria.

Ela passou por ele em direção à sala, tentando ignorar o incômodo no peito — aquele incômodo que não deveria existir.

Mas Damian a seguiu.

De perto.

— Luna — ele começou, a voz firme, mas baixa.

Ela não parou.

— Luna, olha pra mim.

Ela virou devagar, encarando-o sem piscar.

— O que você quer? — Luna perguntou, a voz gelada.

— Eu preciso explicar.

— Explicar o quê? — Ela cruzou os braços. — Que eu devo ser controlada? Que eu tenho que agir do jeito que você acha certo? Que eu deveria ser sua boneca de porcelana?

Ele fechou os olhos um segundo, como se estivesse ficando sem paciência com ele mesmo.

— Eu escolhi a palavra errada. Foi isso. E já pedi desculpa.

— Você não pediu — ela rebateu. — Você justificou. Bem diferente.

Os olhos dele escureceram, e Luna viu o momento exato em que ele perdeu o controle outra vez.

— Eu estava tentando te proteger — Damian repetiu, mais alto. — Aqueles homens… aquele olhar… Você não tem ideia do que é ser alvo disso o tempo todo.

— E não precisa me tratar como se eu fosse frágil demais pra lidar com isso — ela respondeu, avançando um passo. — Você não é o único que já foi diminuído ou tratado como nada, Damian.

Ele empalideceu um pouco, como se aquelas palavras tivessem acertado em cheio.

— Não foi isso que quis dizer.

— Mas é isso que você me faz sentir — Luna disse, sincera demais, vulnerável demais.

Ele abriu a boca para retrucar, mas nada saiu.

Por um segundo, apenas respiraram, encarando-se, o ar quente de tensão enchendo o espaço entre eles.

Damian deu dois passos lentos na direção dela.

— Eu… não queria te machucar — ele disse, mais suave. — Não quero nunca.

Luna não recuou.

Não dessa vez.

— Então não me trate como uma funcionária sua — ela sussurrou. — Não tente me moldar. Eu não sou propriedade sua.

— Eu sei disso — ele respondeu, olhando diretamente para a boca dela antes de desviar rápido demais. — Confia em mim. Eu sei.

O coração dela tropeçou no peito.

— Mas ainda assim você tenta me controlar — Luna insistiu.

— Porque estou tentando te manter segura — Damian devolveu, a voz grave, cansada, carregada. — E sim, eu exagero. Eu erro. Mas… quando aquele homem olhou para você daquele jeito… eu perdi a cabeça, Luna.

Ela engoliu seco.

— Isso não é desculpa.

— Eu sei — ele disse, dando outro passo.

Agora estavam perigosamente perto.

— Então por que está me dizendo isso? — Luna provocou, respirando rápido.

Ele se aproximou mais um pouco, como se não conseguisse evitar.

As sombras do quarto os envolviam, a respiração dele tocava a pele dela.

— Porque você importa — Damian disse num sopro.

Luna sentiu o ar desaparecer do ambiente.

— Importo… como parte do acordo, não é? — ela ironizou, mesmo sentindo a voz falhar.

Ele prendeu os olhos nela.

Uma guerra silenciosa, um pedido mudo.

— Não sei mais onde termina o acordo e onde começa… — ele parou, fechando a mão ao lado do corpo. — Isso.

Ela tremeu um pouco, e ele percebeu.

— Damian… — Luna tentou dizer algo, mas a voz se perdeu.

Ele deu o último passo.

Agora estavam praticamente colados.

O peito dele subia e descia rápido.

O dela também.

Damian ergueu a mão, devagar — muito devagar — como se pedisse permissão sem admitir.

Ele tocou a lateral do rosto dela com apenas dois dedos.

Luna fechou os olhos por um segundo, sentindo um arrepio inteiro percorrer sua espinha.

A mão dele deslizou até a linha do maxilar.

Ele estava à beira do precipício.

E ela também.

— Não deveria… — ele murmurou, quase encostando a testa na dela.

— Então não faça — Luna sussurrou, sem se mover.

— Não consigo — Damian admitiu, a voz quebrada, verdadeira demais.

Mas antes que algo realmente acontecesse — um beijo, uma confissão, um desastre — Damian recuou um passo brusco, como se tivesse levado um choque.

Ele respirou fundo, passando a mão pelos cabelos, tentando recuperar o controle.

— Eu não posso — ele disse, tenso, quase dolorido. — Não posso cruzar essa linha.

A dor apertou o peito de Luna, mas ela manteve o queixo erguido.

— Então pare de agir como se já tivesse cruzado.

Ele desviou o olhar, ferido.

Por um instante, nenhum dos dois falou.

Então Luna virou-se para o corredor.

— Boa noite, Damian.

Ele não tentou impedir.

Não tentou tocar.

Não tentou explicar.

Mas quando ela estava quase no quarto, ele chamou:

— Luna.

Ela parou, de costas para ele.

— Eu vou aprender — Damian disse, a voz baixa, honesta. — A confiar em você. A não te controlar. A… não reagir assim.

Luna fechou os olhos por um segundo.

— Espero que aprenda mesmo — ela disse suavemente. — Porque eu não vou aceitar menos do que isso.

E entrou no quarto, fechando a porta devagar.

Por trás da madeira, ela ouviu o suspiro dele — pesado, frustrado, quebrado.

E, pela primeira vez desde que tudo começou, Luna percebeu uma verdade que já estava implícita:

Não é só ela que está tendo dificuldades de interpretar o que é atuação e o que é real.

E isso só tornava tudo ainda mais perigoso.

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