Eu reconheci antes mesmo de ver: aquele burburinho de gente se despedindo com abraços longos demais, malas rodando, crianças correndo, alto-falantes chamando nomes que ninguém atende. Cruzeiro tem isso. Parece férias até pra quem tá indo trabalhar, e talvez por isso mesmo seja perigoso.
Olívia caminhava do meu lado com a mochila nas costas e uma cara de quem tinha sido condenada a conviver com seres humanos.
— Você tá fazendo essa cara desde ontem — eu comentei, só pra cutucar.
— Não é cara. É a minha opinião — ela respondeu, sem olhar pra mim.
Eu sorri. Ela era tão pequena e já falava como se assinasse comunicado oficial.
E aí eu vi.
Do outro lado da passarela, imenso, branco, com janelas alinhadas como dentes perfeitos… o nome pintado na lateral.
M/S NOVAK ASTERIA.
Meu passo desacelerou sem eu perceber.
Eu já tinha estado em cruzeiros demais para me impressionar com isso. Mas eu definitivamente estava impressionada com o fato de ele ter o sobrenome do homem que pagava meu salário.
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