Lúcia Mendes
"Pronta?" A voz dele era um sussurro quente que me fez arrepiar até o último fio de cabelo.
Eu engoli em seco. Passei a mão pelo vestido, tentando recuperar o controle que ele parecia roubar com um olhar.
"Vamos acabar logo com isso."
Ele riu baixo. Um som pecaminoso.
"Ah, senhorita, não vai ser rápido. Vai ser memorável."
Meu estômago virou. Deus. Por que ele precisava falar assim?
Segurei o braço dele com força e caminhei em direção ao salão principal. Assim que passamos pelas portas duplas, o barulho das conversas diminuiu. Como se alguém tivesse abaixado o volume de uma festa só para ver a entrada triunfal dos dois idiotas da noite.
Os olhos se viraram para nós. Sussurros. Espiadas indiscretas. Eu pude ver Célia virar o rosto, surpresa estampada por um segundo antes de se recompor com um sorriso venenoso. Eduardo estava rígido ao lado dela, os dedos apertando o copo de uísque como se fosse quebrá-lo.
Meu acompanhante... Deus, eu nem sabia o nome dele... se inclinou até minha orelha.
"Os olhares estão todos voltados para nós. Exatamente como você queria."
"Cala a boca," sibilei, tentando sorrir para um investidor que me cumprimentava.
Ele apertou minha cintura de novo, com um toque que parecia dizer cuidado com quem manda aqui.
"Não. Você me contratou para fingir que te desejo. Então vou fazer todo mundo aqui acreditar que eu não consigo pensar em mais nada além de você."
Eu quase tropecei.
"Não seja tão convincente."
Ele me puxou de volta para perto. Tão perto que nossos corpos quase se moldaram um no outro.
"Tarde demais."
E então ele sorriu. Um sorriso lento, perigoso, cheio de segredos. O tipo de sorriso que fazia uma mulher repensar todas as decisões ruins que tomou na vida... e ainda assim querer repeti-las se o erro fosse ele.
Eu senti meu rosto esquentar.
"Tenho que falar com alguns investidores, consegue se virar sozinho por alguns minutos?" ele sorriu de lado.
"Não está gostando do que contratou?" Por um segundo minha mente ficou em branco. Eu só podia estar ficando louca. Como eu podia não gostar? Aquele homem maravilhoso, estava me fazendo sentir coisas que a algum tempo eu não sentia, só com o olhar.
"Estou gostando até demais. Por isso preciso que me deixe conversar com uns investidores, ou amanhã terei que procurar outro emprego." ele colocou uma mão no bolso e me puxou para perto com a outra.
"Faça o que tem que fazer, e volte para mim, como uma boa namorada que você é." ele se aproximou lentamente, e nossos lábios se tornaram próximos demais. Um leve roçar... tão leve que me fez sentir arrepios. E então ele me soltou, ainda sorrindo.
"Não se meta em encrenca." falei com a voz meio rouca, e me afastei, apertando o vestido com força em meus dedos.
Comecei a andar pelo salão cumprimentando a todos, fazendo o meu papel, mas de tempos em tempos meus olhos se voltavam para o belo homem que me acompanhava.
Fui até o bar pegar uma bebida quando senti a presença atrás de mim.
"Quem é ele?" não fiz nem questão de virar. Eduardo estava atrás de mim, querendo explicações que eu não estava disposta a dar.
O ignorei, e continuei esperando minha bebida, mas não foi o certo a fazer. Meu ex me segurou pelo braço me virando para ele, e acabei esbarrando no copo que estava em sua mão, deixando que o liquido se esparramasse todos pelo chão.
"O que pensa que está fazendo?" questionei me secando e olhando o estrago em meu vestido.
"Eu que te pergunto. O que você pensa que está fazendo, trazendo qualquer um para uma festa dessa proporção da empresa?"
"Qualquer um?" olhei para além dele, e vi que meu acompanhante estava encarando a cena, observando cada detalhe. Será que ele iria interferir por mim? Será que o preço que eu paguei valeria uma briga com meu ex?
"Olha pra mim, Lúcia. O que você tem na cabeça? Quer envergonhar a todos só porque eu não quero mais nada com você?" dei risada me afastando dele.
"Eu acho que você está se sentindo importante demais na minha vida, Eduardo. Você escolheu alguém e eu fiz o mesmo. O que há de mal nisso?"
"Eu quero que o mande embora agora mesmo, ou pode ter certeza que sua carta de demissão estará na sua mesa, na manhã seguinte." chacoalhei a cabeça, tentando segurar a risada.
"Você é mais baixo do que eu pensava. Não consegue imaginar que eu segui a minha vida, que eu não preciso de você para nada. Se quer me demitir, vamos lá, faça isso. Espero que tenha um bom plano, porque eu tenho algumas cartas na manga."
"Isso é uma ameaça, senhorita Mendes?" seu olhar se estreitou. E ele deu um passo a frente tentando me intimidar. "Sabe que posso acabar com sua carreira, não só na DRTech, como também em qualquer outra empresa que tente entrar."
"Faça isso, Senhor James. Mostre sua verdadeira natureza. Mostre o traste que você é. Mostre tudo que eu não vi nesses 8 meses de relacionamento." dei uma risada sarcástica, ao me lembrar, que só eu achava que nossa relação era um relacionamento.
"Eu estou te avisando, Lúcia, mande ele embora agora, ou eu mesmo vou..." Fomos interrompidos antes mesmo dele terminar a frase.