Lúcia Donovan
Eu fechei a última mala e encostei a testa no zíper, como se bastasse um suspiro bem dado pra selar todas as frestas do medo. O silêncio da casa era uma mentira delicada. O Samuel dormia no bercinho portátil ao meu lado, a respiração curtinha, fazendo o peito subir como uma onda tímida. “Fica assim, meu amor. Tranquilo.” Eu falei tão baixo que minha própria voz pareceu pedir segredo.
A Eliza estava sentada no tapete, com o caderno de estrelas aberto e o urso no colo. Desenhava um avião e, do lado, três palitinhos de mãos dadas. “Essa sou eu, essa é você e esse é o papai. A gente vai voar acima das nuvens, né?”