Lúcia Donovan
Tudo era pesado e macio ao mesmo tempo, como se eu estivesse debaixo d’água. Primeiro veio o som: um bip ritmado, longe, insistente. Depois, o cheiro: antisséptico, frio, umidade de máquina. Meu corpo parecia uma casa com as luzes apagadas, e alguém, bem devagar, foi acendendo um cômodo por vez.
Abri os olhos.
O teto branco me encostou de volta no mundo. Tentei mover a cabeça; um peso elástico me lembrava que eu tinha algo preso no braço, algo frio na outra mão. O ar entrou fundo, arranhando de leve a garganta. A sala era clara, as cortinas meio abertas, o monitor conversando comigo em pontos verdes. Demorei um segundo para entender onde eu estava e outro para lembrar por quê.
“Samu