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Capítulo 2 — O Homem Por Trás da Proposta

A noite caiu pesada sobre a cidade, como se soubesse que algo havia mudado irremediavelmente na vida de Clara. Ela não jantou, não respondeu às mensagens dos irmãos batendo à porta, nem saiu do quarto. O celular permaneceu jogado sobre a escrivaninha, desligado. As horas passaram em silêncio, exceto pelos ruídos abafados da televisão na sala. Quando o relógio marcou três da manhã, Clara ainda estava acordada, os olhos fixos no teto, o peito queimando em um misto de raiva, medo e impotência.

Na manhã seguinte, ela despertou com a luz invadindo o quarto pelas frestas da cortina. O rosto inchado, a garganta seca. Levantou-se como quem carrega o peso do mundo nos ombros. Ao sair do quarto, encontrou a casa vazia. Um bilhete preso com ímã à geladeira indicava que a mãe havia levado os irmãos à escola e o pai tinha uma reunião importante. A caligrafia era apressada, quase ilegível. Clara não se deu ao trabalho de respondê-los. Serviu-se de café, o mesmo de ontem, requentado, e tentou acalmar a mente. Mas era impossível. A proposta absurda do pai ainda martelava em sua cabeça.

Casar-se com um homem que não conhecia?

O pensamento a fazia estremecer. E mais do que isso: como podia o pai simplesmente decidir entregar sua filha como pagamento de dívidas?

Mais tarde, por volta das 11h, o interfone tocou. Clara, ainda descalça e com a caneca de café na mão, atendeu com desconfiança.

— Senhorita Clara? — disse uma voz masculina, firme. — O senhor Enrico está aguardando você. Motorista particular.

Ela hesitou.

— Meu pai não está.

— Eu sei. Fui orientado a buscá-la. O senhor Enrico gostaria de encontrá-la pessoalmente.

Clara sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha. Ela não sabia o que era pior: o fato de o pai ter combinado um encontro sem sua autorização ou o nome daquele homem ser agora parte de sua realidade.

Enrico.

O nome soava frio. Distante.

Tomada por um impulso que nem ela mesma compreendia, Clara trocou de roupa rapidamente — um vestido azul claro simples e uma jaqueta jeans —, amarrou o cabelo em um rabo de cavalo e desceu.

O carro preto estacionado em frente à casa era um sedã de luxo, com vidros escurecidos e interior impecável. O motorista abriu a porta para ela com um leve aceno de cabeça, e ela entrou em silêncio. Durante o trajeto, observou a cidade passar pela janela como se estivesse em um filme. As ruas conhecidas, o caminho habitual até o centro — tudo parecia banal diante do destino desconhecido que a aguardava.

Quinze minutos depois, o carro entrou em um condomínio empresarial de alto padrão. Portões automáticos, seguranças uniformizados, câmeras por todos os lados. Clara ficou ainda mais tensa. O carro parou diante de um prédio de fachada espelhada, moderno, elegante. A placa na entrada dizia: “Hernandez Group – Sede Administrativa”.

Ao descer, foi recebida por uma recepcionista de terno escuro e coque apertado.

— Senhorita Clara? Por favor, me acompanhe.

Subiram por um elevador panorâmico até o 24º andar. O silêncio era cortante. Quando as portas se abriram, a recepcionista conduziu-a até uma sala ampla, toda envidraçada, com uma vista deslumbrante da cidade. No centro, uma mesa de madeira escura e, atrás dela, o homem.

Enrico Hernandez.

Ele se levantou lentamente, um sorriso educado no rosto. Alto, postura impecável, cabelos escuros penteados para trás, barba bem feita, e olhos intensos — um castanho escuro quase preto que transmitia autoridade. Vestia um terno sob medida, de tom grafite, com abotoaduras prateadas. Sua presença preenchia o ambiente de maneira quase opressora.

— Clara — disse ele, com a voz grave e segura. — É um prazer finalmente conhecê-la.

Ela sentiu um nó na garganta, mas manteve a cabeça erguida.

— Queria poder dizer o mesmo — respondeu, firme.

Ele sorriu de canto, como se já esperasse aquilo.

— Compreendo que esta situação é, no mínimo, desconfortável. E lamento sinceramente por isso. Mas preciso ser direto. Seu pai está em uma situação... desesperadora. E eu ofereci uma solução que beneficiaria ambas as partes.

— Casar comigo? Como se eu fosse uma transação? — Clara rebateu, sentindo o sangue ferver.

— Não é uma transação — disse ele, se aproximando. — É um acordo. Um contrato. Eu tenho interesses familiares e empresariais. Uma esposa jovem, elegante, com o seu perfil, traria estabilidade à minha imagem. Em troca, sua família é salva da ruína. Você teria conforto, segurança, liberdade. E claro, tudo devidamente acordado entre nós.

— Liberdade? Em um casamento forçado?

Enrico suspirou e caminhou até a janela, olhando a cidade.

— Não sou um monstro, Clara. Não vou obrigá-la a nada. Você é livre para recusar. Mas, se recusar, saiba que não haverá renegociação com seu pai. Eu pagarei todas as dívidas apenas com esse compromisso firmado. Uma vez assinado, tudo será quitado. Em 48 horas.

Clara se sentou, sentindo o corpo ceder.

— E se eu aceitar... o que você espera de mim?

Enrico virou-se para ela.

— Respeito mútuo. Companheirismo público. Presença em eventos. Nenhuma exigência íntima, a menos que você deseje. Podemos tratar isso como uma aliança conveniente. Sem pressões.

A proposta era surreal. Um casamento sem amor, sem desejo... apenas uma encenação bem arquitetada?

Clara estava dividida entre o impulso de gritar e o desespero de aceitar.

— E se eu disser sim? — perguntou, quase sussurrando.

Enrico se aproximou, mais sério.

— Então, amanhã enviarei o contrato. E no prazo de uma semana, seremos oficialmente marido e mulher.

Ela assentiu, mas sem convicção. Apenas porque, pela primeira vez em muito tempo, não via saída.

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