Na cela lúgubre e escura, Larissa, encolhia-se em um canto com frio e fome, lamentando seu infortúnio. Havia sido presa na masmorra do castelo do Alfa, acusada de matar seus pais. Foi despertada em sua cama por dois guardas que a arrastaram, sem explicarem porque a prendiam e jogaram-na naquele lugar de infortúnio.
Sua irmã, Drucila, desceu as escadas em direção a cela da prisioneira. Trajava um vestido luxuoso e joias que refletiam as luzes precárias do lugar feérico, não combinavam com o ambiente de dor e pecado. Aproximou-se da cela com uma expressão de nojo e tentou não tocar em nada. Com palavras doces, confrontou a prisioneira: — Por quê fez aquilo, Larissa? Papai e mamãe te adoravam. O que eles fizeram para você os envenenar? Larissa correu até as grades e segurou-as e colocando o rosto entre elas, tentou se aproximar da irmã, que deu um passo atrás, fugindo do seu toque. — Eu não fiz nada, Drucila. Nem sei porque estou presa. — Você não precisa mentir para mim, irmã. Estamos sozinhas aqui e agora que sou concubina do Alfa, posso falar ao seu favor, mas só se você me contar o que aconteceu. — Você se entregou ao Alfa? Sabe que não são companheiros. — Não somos, mas ele se agradou de mim e acasalamos em meu cio. Talvez já esteja prenha. — Eu não acho isso certo, quando ele encontrar a verdadeira companheira, vai te abandonar e você sabe que só emprenhamos com nosso real companheiro. — Isso não vai acontecer e você deveria estar preocupada com a sua situação e não comigo. — Não sei o que está acontecendo. Chame o papai, quero falar com ele, só ele, como beta, poderá esclarecer isso. Larissa não acreditou no que disse sua irmã, pois ela sempre foi uma mentirosa e inventava histórias para tirar vantagens para si. Sentia que havia o dedo dela em toda essa situação. Como irmã mais velha, Drucila deveria dar o exemplo de bom comportamento, mas estava sempre prejudicando a irmã caçula. Com 15 anos, a loba de Larissa ainda estava adormecida e não podia se defender. Por mais que Drucila a tratasse mal, Larissa não acreditava que ela seria capaz de tanta maldade. — Não tente disfarçar, você os matou e sabe que não virão em seu socorro, e Logan ainda não conseguiu se recuperar da dor de ter encontrado nossos pais mortos, sobre a cama. Larissa largou as grades e virou-se, tentando assimilar o que sua irmã contou. Procurou em suas lembranças, os últimos momentos que passou com os pais. Jantavam todos à mesa, só não Logan, que estava em treinamento e morava no alojamento dos alunos. Conversavam sobre o dia e sua mãe contou: — Estive com a Felícia hoje e ela abriu as águas para mim. Felicia era a melhor amiga de sua mãe e também uma bruxa. Ela costumava ver o futuro em uma bacia com água. — Alguma coisa boa, mãe? — perguntou Drucila. — Ela disse que uma de vocês será uma Luna. Lembrou que Drucila franziu as sobrancelhas e o pai perguntou: — Daqui ou de outra Alcateia? — Isso ela não disse. — Se for daqui, só pode ser Larissa, pois Drucila já se transformou e o Alfa não a reconheceu. — disse seu pai, sem perceber a raiva refletida no rosto de sua filha mais velha. — Não quero ser a companheira do Alfa Saulo. Ele é rude, está sempre sério e seu lobo é muito selvagem. — disse Larissa. Drucila olhou para a irmã, com ar de desdém. — É uma simplória, mesmo, qual fêmea não quer ser a Luna? Só a tonta da minha irmã. O pai, beta Leopoldo que sempre acompanhava o Alfa, defendeu-o: — Ele é o Alfa, está sempre protegendo nossa Alcateia e não pode ser um fraco. Em todas as batalhas que enfrentamos, seu lobo Soul, precisou ser feroz para vencer o inimigo. Não o julgue sem conhecê-lo. Depois desse jantar, seus pais viajaram e Larissa não os viu mais. — Não vejo nossos pais a três dias, como posso tê-los matado? Essa história está muito mal contada e por que eu não me lembro de nada? — Você terá a chance de se explicar, quando for levada a presença do Alfa e dos anciãos. Por hora, pedirei que lhe tragam comida e uma roupa limpa. Comporte-se irmãzinha. Larissa não sabia que o Alfa estava escondido, ouvindo a conversa e por isso Drucila falou com ela tão mansamente. Não entendia o que estava acontecendo, só sabia que era muito injusto. O que Larissa não podia imaginar, era que Drucila planejou tudo aquilo. Encontrou uma maneira de se aproximar do Alfa e na reunião das fêmeas, onde Larissa não podia ir por não ser transformada, começou a difamar sua irmã. Fazia-se de doce e humilde, maltratada pela caçula maléfica. Assim, conquistou a pena e simpatia de todas, incluindo a mãe do Alfa, Luna Doroteia. — Que cina a sua, doce menina. Você é uma jovem tão linda e prendada, que tal irmos tomar um chá lá em casa. — Será uma honra, Luna. Meus pais estão viajando e não quero ficar sozinha com minha irmã. — Pobre menina. Dali, para estar na cama do Alfa, foi um pulo, pois estava entrando em seu cio e os machos enlouqueciam com o cheiro atraente das fêmeas. A Luna, quando percebeu o que aconteceu, acolheu-a com carinho e ela passou a morar no castelo do Alfa. Não descuidou de seus pais, assim que soube que retornaram a Alcateia, correu em casa e aproveitou que Larissa dormia, fez um suco e colocou nele, o veneno de uma flor tóxica, mas imperceptível. Pegou os copos e usando luvas, foi ao quarto da irmã e colocou as digitais dela nos copos, com cuidado para que não acordasse. Quando seus pais entraram, cansados da viagem, abraçaram sua filha, beberam o suco servido nos copos e se retiraram para dormir. Drucila logo voltou ao castelo, ocultando-se nas sombras para não ser vista. Dessa forma, quando Lucas foi ver os pais, encontrou-os mortos sobre a cama, parecendo dormir tranquilamente. A única que estava em casa era Larissa e quando os guardas que acudiram o chamado do filho desesperado, viram os copos sujos e sentiram o cheiro do veneno, concluiram que a culpada foi ela.