Capítulo 1

                                                          Capítulo 1

          Como funcionam as raças e castas desse admirável mundo novo

                        (Do início até os dias atuais)



            Tudo começou ao fim da guerra fria. Sim, a guerra fria, a guerra de interesses entre os Estados Unidos da América e a União Soviética. O capitalismo crescente e seus avanços tecnológicos posteriores às revoluções industriais contra a degradação militarista de propaganda comunista, que se utilizava de pensamentos e ideologias de pensadores e filósofos hipócritas, fracassados e sonhadores de utopias onde todo mundo vivia feliz depois de um sangrento conflito que tiraria a vida de inocentes que não fossem a favor dessa reforma. Mas não se trata dos humanos, não. Os conflitos anteriores, todos eles, a primeira guerra mundial a segunda guerra mundial, a fome, as mortes, a agonia, as revoluções espalhadas pela Europa, a independência americana, tudo isso, na ordem em que ocorreram, estava afetando outro tipo de gente.

            Monstros.

            Não como aprendemos a conhecê-los, não. Nada de membros enormes, quatro braços, olhos esbugalhados e dentes que pingavam baba verde. Não, nada disso. Me refiro aos “humanóides”, os que sempre estiveram entre os humanos. Vampiros, lobisomens, orcs, elfos, trolls, metamorfos de animais em geral, toda a sorte de criaturas que, na Era Antiga, reinavam e vivam pacificamente no mundo como os verdadeiros donos da Terra. E o que foi que aconteceu? Eu lhe digo: a expansão das crenças monoteístas abraâmicas e islâmicas do oriente médio. Matavam sem piedade os “hereges pagãos”, destruíam, decapitavam, “convertiam todos para a salvação”. As raças não humanas não poderiam enfrentar uma guerra de tal proporção, que espalhava-se feito uma doença, criando raízes aqui e ali. Eles preferiram o anonimato, e tornaram-se alvo de lendas, mitos, mistério.

            Mas, devido aos círculos mais antigos e mais sábios dessas criaturas, chegaram a um consenso, depois de ver a humanidade destruir tudo apenas para enaltecer seu próprio ego, sua vaidade. E, utilizando-se de meios de comunicação secretos e os meios que os próprios humanos criaram, com sua tecnologia ridiculamente infantil, mensagens foram enviadas ao redor do mundo. Os líderes das raças, então, ordenaram que era hora de tomar posse daquilo que lhes pertencia antes de toda a desgraça começar a assolar a terra de uma vez.

            E foi uma surpresa, um susto, um alvoroço enorme quando, do nada, mais da metade da população dos maiores países, revelou-se como membros de raças que só aparentavam ser humanos. Lobisomens lutaram pelo bem de suas famílias, vampiros exigiam a derrubada de tantos templos profanos, com seus rosários e seus símbolos arrogantes do “sacrifício pelo perdão dos pecados”, os orcs, ogros e trolls, lutaram para proteger as terras e montanhas, os pântanos e florestas, as pradarias; os elfos, esses lutaram com coragem e fúria para assegurar que tudo o que fosse verde e belo ficasse protegido. As criaturas marinhas, sereias, tritões, homens tubarão, começaram a impedir a grande navegação pelo petróleo. Os voadores iam e vinham nos ares, caçando e derrubando os arrogantes aviões humanos de guerra, e houve tantos outros conflitos de média e larga escala, que a lista dos mortos entre os monstros foi registrada com detalhes honrosos a todos os tombados, com um memorial em cada país do mundo, na capital de cada cidade.

            Após isso, os líderes que, anos antes, haviam iniciado esse levante de guerra pela retomada do mundo que antes lhes pertencera, e agora estava voltando a ser deles, criaram um grupo político de interesses internacionais, para bater de frente e barrar as forças a Organização das Nações Unidas. Eles não poderiam vencer apenas usando a força, teriam de usar a astúcia e a inteligência, a política e a diplomacia. Seus espiões dos homens rato mais capacitados haviam lhes dito que a ONU era controlada por “verdadeiros monstros”, sanguinários e déspotas, com planos a longo prazo para os anos que viriam, no intuito de desmantelar a humanidade e a civilização ocidental. E assim foi criada a Coalizão do Povo Fera pela Ordem, ou CPFO. Seus líderes consistiam entre os mais velhos e influentes membros de cada raça, e havia paz e ordem entre eles. Afinal, apesar das diferenças, elas pouco importavam: seus interessem em reconquistar seu mundo e desbancar a arrogância e prepotência humana eram os mesmos.

            E, em poucos anos, terminados os conflitos físicos, os humanos se renderam enfim. Após isso, foi exigido da raça humana que, jamais, em hipótese alguma, deveriam levantar uma guerra contra a raça não humana, e vice e versa. Os humanos começaram a ser enviados para áreas de territórios menores dos que, anteriormente, eles haviam tomado posse. Nada mais justo, haveria espaço suficiente para eles, seus filhos, e não teriam necessidade de ficar se espalhando como formigas cobiçosas de novas terras que não lhes pertenciam.

            E mesmo que eles se tornassem numerosos novamente, haveriam os debates políticos pacíficos a esse respeito, e soluções poderiam ser tomadas sem o derramamento de sangue. Por uma  ironia surpreendente, os humanos perceberam que os monstros eram muito mais civilizados do que eles. Isso gerou uma amargura profunda.

            Em meados dos anos 70, grupos radicais dos humanos começaram a se formar, a maioria deles religiosos. Outros eram apenas grupos isolados de metidos a terroristas. Claro, os governos reduzidos dos humanos tentavam barrar esses grupos, mas não ajudava muito. Então, seus líderes pediam ajuda para os monstros: superiores em força, velocidade, e todo o resto, poderiam sufocar esse caos. Mas não haveria uma intervenção violenta, não: os humanos deveriam resolver-se com esses bárbaros violentos. Isso foi uma boa jogada política, para evitar ressentimento, remorso, amarguras mais intensas ou mesmo que fosse usado como joguete de interesses em discussões e debates futuros.

            No decorrer dos anos 80, os monstros já haviam se estabilizado como donos do mundo novamente. Ainda, é claro, havia os que não queriam humano algum vivo, e várias vezes, esses amontoados de desordeiros e pretensos caçadores supremos invadiam os territórios humanos e matavam inocentes. Esses levantes terroristas foram suprimidos e calados pelos monstros que, acima de tudo, queriam apenas a paz. Os culpados foram presos, julgados, sentenciados a morte. E muito se surpreenderam os humanos com tal atitude, e ajudou a amenizar, e muito, o rancor e amargura semeados anos atrás.

            Nos anos 90, os monstros já formavam uma sociedade extremamente avançada. Sua tecnologia deu saltos extraordinários, que beneficiaram também os humanos. Logo, até mesmo continentes flutuantes existiam, enormes, com combustível renovável permanente e não poluente. Esse, entretanto, foi um segredo que a raça dos gnomos guardou a sete chaves. Os aviões eram mais rápidos, os carros eram mais práticos, as bicicletas com piloto automático, tudo isso era soberbo e meticulosamente construído. Os anões eram os melhores e mais habilidosos metalúrgicos já vistos, os elfos eram os maiores ourives, músicos e poetas, os lobisomens eram a força militar e os professores mais requisitados, mesmo entre os territórios humanos com suas escolas, os reinos dos mares estavam acessíveis graças a sistemas de respiração em baixo da água, a paz era o maior decreto já conquistado, o progresso, a harmonia. Enfim, o mundo entrou nos eixos, depois de tantos anos nas mãos dos humanos. Foi apenas nos anos 2000 que humanos e não humanos entraram em harmonia, e os anos que se seguiram foram da mais pura tranquilidade. Salvo exceções, claro.

            Algumas curiosidades devem ser citadas, para maior entendimento com relação à civilização dos monstros, para melhor entendê-los. Foi dito que, por vezes, houve grupos humanos que tornaram-se verdadeiros perigos e estorvos para a tranquilidade. São eles os Ku Klux Klan, os Panteras Negras, o movimento Anti Fascista, etc. As explicações para tais grupos parecem até brincadeiras (de muito mal gosto), mas, inicialmente, esses eram movimentos de monstros. Sim, eram os monstros que pregavam tais ideais, mas não visavam apenas destruir um grupo étnico específico. O primeiro deles, os KKK, foram iniciados por uma tribo exclusiva de theriantropos (esse é, em verdade, o nome genérico para os monstros com habilidade de metamorfose, lobisomens, homens gato, homens rato, etc). Essa tribo, seguindo conceitos e maneirismos de antigos povos indígenas, denominava-se “Corações da Neve”, e pregavam que os humanos eram a maldade negra que havia assolado seu mundo, e precisava ser exterminada. E utilizavam-se do clichê da “morte fria pela purificação do fogo” para atacar humanos. E todos os seus integrantes, fossem brancos ou negros, possuíam sua metamorfose variando de tons de cinza claro para um branco e até mesmo prateado, essa era sua “pureza branca”, o animal interior.

            Entretanto, os rumores sobre a “maldade negra” entre os humanos se espalhou entre aqueles que, herdeiros do lado perdedor da guerra civil americana, estavam desacreditados e insatisfeitos com as pessoas negras. Então, apropriando-se do nome do fundador da tribo, “Klanax Kluthan” (um nome supostamente de uma língua morta, nunca se soube o verdadeiro nome dele, nem o significado de tal nome tribal), os “brancos puros” fundaram a Ku Klux Klan, o grupo que, até hoje ao que parece, existe com o intuito extremista de exterminar pessoas negras, sejam elas de boa índole ou não. E quando os membros da tribo ficaram sabendo desse ultraje, entraram em guerra velada contra esses humanos, apenas para delatar sua posição para as autoridades da nação dos homens fera, e foram todos presos, julgados e executados, “a sangue frio”.

            Posteriormente, nos anos 60 aproximadamente, ainda havendo a existência do grupo terrorista KKK, outro grupo de theriantropos queria vingar os “ideais” da antiga tribo executada por suas transgressões. Esses, por sua vez, chamavam-se de “Algozes da Escuridão”, e em suas formas transformadas de animais, eram todos de cinza escuro ao preto como carvão ou como a noite. Sua raiva perante os “terroristas brancos” da KKK era justificada, mas eles ainda queriam destruir os humanos: sua ideia era colocar os humanos, todos eles, em zoológicos, para serem contidos feito os animais que sempre foram. (Essa era uma piada interna dentro das raças não humanas, que zombavam dos humanos, dizendo que “num mundo civilizado, eles eram os verdadeiros monstros do armário ou em baixo das camas”, ou eram os animais irracionais que negavam ser). Todavia, como aconteceu ao primeiro grupo, aconteceu também com esse. Muitos ativistas de movimentos radicais negros ouviram esses rumores de “terror branco”, tomaram e desvirtuaram os ideais dos monstros, e fundaram o grupo terrorista dos Panteras Negras (os Black Panthers americanos).

            A origem do nome vem do antigo líder dos Algozes, um homem de pele parda, olhos cor de mel, que quando usava de sua transformação, era um enorme felino negro e musculoso, de pêlo lustroso e garras afiadas. Já os terroristas dos “P.N.” se faziam valer do penteado “afro”, do cabelo cacheado e armado como uma enorme bola, o famoso “black power”, que fez certo sucesso na era da discoteca e da música de balada. (Muito se discutiu se essa moda acabou tornando-se banal, comum, e aceitável entre os humanos, ou se foi o grupo dos Algozes das Sombras que popularizou o penteado para desmoralizar seus rivais humanos, mas nunca uma resposta conclusiva chegava a ser finalizada). E, novamente, não teve outro fim essa pequena guerra, que não fosse a captura do grupo de monstros, após um combate violento que aniquilou os números dos Panteras Negras, mas não os exterminou; os monstros foram presos, julgados, e executados.

            Então, anos mais tarde, com as políticas humanas entrando em anos conflitantes após várias e várias discussões sobre “direita, esquerda, centro”, entre outras, surgiram grupos de ativistas que lutavam com o que se chamava de “fascismo”. O fascismo, fundado por Giovanni Gentili, visava que o Estado político deveria ser total, e o povo do país era parte do Estado como uma “propriedade”. Até mesmo presidentes dos territórios humanos dos Estados Unidos usavam essa filosofia totalitária, que parecia bonita no discurso, mas nada de bom trouxe. E com o passar dos anos, o ideal do fascismo foi atribuído a movimentos de direita, por conveniência. O que, é claro, gerou mais conflitos.

            Enquanto os monstros combatiam esses políticos que, sendo as cobras que eram (literalmente), tentavam infiltrar essas filosofias políticas, sociais e econômicas nas sociedades dos monstros, os humanos acabaram por ficar polarizados: de um lado havia os que recusavam isso, afirmavam nada ter de interesse para com teorias políticas e econômicas que nunca tiveram provas concretas de sucesso; do outro, haviam os grupos que recusavam com ódio o primeiro grupo, exultavam que suas lutas eram por igualdade, e que visavam o bem-estar de todos. (Por ironia, tais movimentos só faziam segregar ainda mais os humanos, que já viviam bem divididos entre si).

            Por consequência, nasceu o grupo terrorista Anti Fascista. Esse grupo dizia e afirmava que lutava contra a opressão, o preconceito, ideais ditatoriais, entre outros. Porém, eles aplaudiam personalidades como Karl Marx, Che Guevara, Joseph Stalin, pessoas que só fizeram o povo de seus países sofrer com sua arrogância e ignorância, além da ganância. E os movimentos e manifestações dos “antifa” tornaram-se violentas, a ponto de destruírem e depredarem tudo aquilo que representasse “opressão à igualdade e valores éticos e morais”. Resumindo: um grupo terrorista de rua. E os humanos que só queriam viver em paz, progredir e prosperar, quase imploraram por ajuda aos governos dos monstros. Acordos políticos e militares foram feitos, esquadras e batalhões de humanos e monstros foram montados em bases militares, e os grupos antifa foram combatidos sempre que iniciavam suas “manifestações pacíficas em prol da igualdade para todos”.

            Essas alianças entre humanos e monstros firmaram acordos comerciais, políticos, militares e sociais, que beneficiaram ambos os lados, fazendo com que picos de economia crescente fossem usufruídos por pessoas carentes em tempos de extrema necessidade. Mas, como é de praxe, os humanos muitas vezes falharam com esses acordos, dando desculpas esfarrapadas quando questionados sobre, dizendo “somos apenas humanos”. E, é claro, aos poucos os acordos tornaram-se estreitos. Não que os monstros estivessem preocupados: seu mundo não tinha necessidade dos humanos.

            Os últimos e piores conflitos, contudo, se deram através das Zonas Mortas. O termo “zona morta” é usado para generalizar os locais conhecidos como Ninho dos Mortos (do 1 ao 8, aproximadamente), e os Fossos da Morte, 1 e 2. A razão para que tais lugares existam é simples. Nos anos que seguiram-se após a acensão dos monstros como donos do mundo, após a guerra fria, alguns países notaram, com certa decepção, que eles não possuíam ninguém dessas raças. Esses países, no geral, pertenciam aos locais do Oriente Médio, ou Turquia, ou Israel, Cuba, e Coreia do Norte. O que se seguiu foi que os grupos políticos desses territórios formaram um aglomerado econômico de pesquisas genéticas e bioengenharia, para assim, evoluir sua população (a custo de sofrimento, claro), para que eles também fizessem parte desses grupos emergentes.

            Fosse por vaidade, fosse por arrogância, egocentrismo, eles iniciaram pesquisas científicas para alterar o genoma humano e, se possível, criar em laboratório seus próprios lobisomens, vampiros, elfos, metamorfos, orcs, etc. Outros grupos, mais ortodoxos, começaram com rituais de magia negra e escura, rituais de necromancia, pactos com seres que, reza a lenda, deveriam ser “mitos”, e acabou que ambos os lados conseguiram seu intento de evoluir sua população.

            Mas não do jeito que esperavam.

            O que se seguiu, após a conclusão dos rituais longamente ensaiados e dos pactos firmados a muito custo, e das pesquisas duramente criticadas, mantidas sob sigilo, com gastos enormes de recursos, publicidade e cobaias, foi uma tragédia de nível global. Quando os grupos de cientistas e pesquisadores liberaram seus produtos químicos de mutação genética como uma névoa nas cidades, e quando os pretensos magos e feiticeiros liberaram seus poderes no raio de alcance determinado, as pessoas começaram a morrer. Todos morreram, apodreceram de dentro para fora, o cérebro parou de funcionar, tiveram convulsões e caíram inertes ao chão, a pele derretia e os gritos de agonia eram ensurdecedores. Mas a morte não durou muito tempo.

            Pouco tempo depois, os mortos se levantaram. Dois grupos deles, posteriormente, foram catalogados: os zumbis e os ghouls. O que difere um zumbi de um ghoul é simples: o zumbi é uma criatura irracional, lenta, seu organismo interno só funciona com o padrão de necessidade de alimento, e apenas isso. Podem levar anos e anos até expirarem, sem nada para comer. São levemente resistentes, precisando de vários golpes de faca, ou balas, ou fogo, para morrerem. Já os ghouls são levemente racionais. São como humanos, que ficaram dependentes de drogas muito fortes, perderam sua humanidade e comportam-se como animais selvagens enlouquecidos. Eles tem, sim, certas táticas de caça, emboscada, uma ferocidade fora do normal, e costumam ser perigosos em grupos de cinco a dez. Mas mesmo um consegue ser um perigo, visto que metade da “população” de ghouls nas zonas mortas acabou evoluindo, como queriam os geneticistas, habilidades especiais. Alguns possuem garras afiadas nas mãos e pés, andam pelas paredes; outros tem línguas compridas, como sapos, e podem cuspir veneno; e há ainda os com carapaças ósseas, fortes como touros, que avançam sobre suas presas sem pensar duas vezes. Zumbis e ghouls, ironicamente, costumam agir em conjunto, e há relatos que eles andam devorando uns aos outros, os mais fracos, para manter suas forças e continuar “vivendo”.

            O que aconteceu, entretanto, para impedir o avanço de um possível vírus zumbi que teria afetado todo o planeta, é que ele tinha um limite específico de tempo para agir, e depois de conseguir atingir os limites territoriais desses países, encontrando em cada local mais escondido os humanos quase inatingíveis, o vírus lentamente morreu, pela falta de hospedeiros, e nem mesmo o vento poderiam espalhar o mesmo (ou a água. Teoriza-se que, talvez, o sangue dos zumbis e ghouls possa afetar a água corrente e espalhar o vírus “incubado” nos corpos deles, mas isso foi descartado com provas de que não seria possível). Já os feitiços tinham um limite de alcance e efeito, e os contratos de magia negra eram específicos demais para afetar o resto do mundo: apenas aquele território e sua população “mereciam” a graça de tornarem-se mais do que meros humanos. Alguns estudiosos de religiões e magias acreditam que as almas dessas pessoas foram para um plano separado, visto a variedade de crenças e religiões politeístas entre os monstros, e como não puderam chegar num consenso, os estudos continuam.

            Os países onde os feitiços e os mutagenéticos agiram, agora locais de cheiro putrefato e morte certa, tiveram de ser contidos a todo custo. Forças armadas foram enviadas para conter os avanços dos mortos-vivos, enquanto engenheiros e construtores eram enviados aos limites conquistados com mortes de valorosos heróis de guerra, tinham o dever de construir muros, grandes muralhas que impediriam os mortos-vivos de avançarem, de invadir as “terras viventes”, até que todos estivessem extintos e suas terras pudessem ser purificadas. Alguns países como Arábia Saudita possuíam cidadãos que eram, de fato, monstros. Eles mantinham suas crenças pagãs anteriores ao surgimento de Maomé e suas ideias extremistas. Portanto, não foram afetados. “Lobos do deserto”, muitos eram theriantropos, outros eram os djins: espíritos de poder e sabedoria, alguns malevolentes, outros benevolentes, e estes formaram um fronte de combate para impedir o avanço dos ghouls. Ao redor de suas terras os muros tiveram de ser reforçados, e ao longo dos anos, todos os muros ganharam reforços tecnológicos e de infraestrutura que, hoje, asseguram a paz.

            Os locais conhecidos como “ninhos” são vigiados constantemente. Aparentemente, alguma coisa aconteceu lá, e esses monstros profanos conseguem se reproduzir, como insetos, e são mantidos sob vigilância extrema. Só que é difícil mandar grupos de reconhecimento, extermínio ou pesquisadores para descobrir mais sobre o que parecem ser grandes colmeias ou, mais especificamente, “ninhos”. Apesar disso, é impossível usar grandes bombas A ou bombas de hidrogênio para destruir esses locais. Muitos inocentes poderiam ser afetados a longo prazo, mobilizações de evacuação seriam obrigatórias, e isso leva muito tempo. Por hora, tudo o que os governos, humanos e não humanos, podem fazer, é vigiar, proteger, e esperar.

            Uma pequena ressalva precisa ser feita: os vampiros, como um todo, são mortos-vivos. São humanos que, infectados por um “vírus vampírico”, ou maldição demoníaca, tornaram-se dependentes de sangue para viver, evitam a luz do sol, alho é venenoso, não podem atravessar água corrente, e estacas de carvalho e teixo são potencialmente nocivas para eles. Rápidos, fortes, alguns podem se transformar em criaturas vagamente aladas, como grandes morcegos. O que os difere em extremo dos outros mortos-vivos, é que eles são inteiramente racionais, conscientes de suas ações. (Salvo exceções dos casos em que o vampiro se deixa levar pelo festim de sangue). E muitos, aliás, são contratados como assassinos de elite dos governos para tentar explodir os ninhos menores dos mortos-vivos em locais de extremo risco. Afinal, são rápidos o suficiente para entrar e sair sem serem notados, enquanto a bomba explode locais predeterminados pela missão.

            Nos dias de hoje, a paz reina. Os exércitos estão mantendo sob controle os Ninhos e os Fossos, humanos vivem em paz e prosperando vagarosamente, com tranquilidade. Os monstros vivem em avanços, harmonia, sua sociedade salvou o mundo e conseguiu proteger muitos locais de florestas para que, assim a terra não morresse, ou que as futuras gerações não ficassem sem recursos. Tudo se desenrola numa tranquilidade benfazeja, que jamais poderia ter sido sequer imaginada no mais profundo delírio da raça humana.

            Quem diria que uma prosperidade dessas viria de monstros?

            Mas, é claro, como era de se esperar, algo começou a acontecer, assassinatos. Dois deles. A cidade onde ocorreram foi Howlingtown, uma cidade com maioria da população composta por lobisomens.

            Mas não é hora de falar disso. Pelo menos, não agora.

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