Chuvas de Arroz e Mentiras
Chuvas de Arroz e Mentiras
Por: Be Alonskie
CAPÍTULO 01 - Impasse

"[...] Então todas as vezes em que o vento frio me toca ou o frescor do ar me alcança, eu lembro."

→16 dias antes do grande dia.

Eu poderia dizer que minha vida amorosa é um fracasso, mas isso seria muito exagero.

Bom, pra mim isso é um grande exagero, no entanto, para as pessoas que me cercam, ter três noivados arruinados é um verdadeiro fracasso. 

Não deveria ser tão ruim assim, certo?

Bom, a forma mais sem graça de me apresentar é da forma como vou fazer… Sou Terena Tucker e estou no auge dos meus vinte e "tantos" anos, idade para ser super hiper mega responsável, mas ainda faço merdas de uma garotinha de dezesseis.

Com três noivados desfeitos em um período curtíssimo de apenas oito anos, estava tranquila, vivendo com toda a falação dos fofoqueiros, e tentando levar minha vida pra frente enquanto recebia cobrança em cima de cobrança do meu melhor amigo, e futuro marido perfeito, da Louise, claro.

Bruce se casaria logo, e eu acabei sobrando como madrinha. Uma madrinha sem par. Podia soar como algo bem simples, mas para Bruce Hudson não era.

Há cerca de oito meses dei fim ao meu último noivado. Sam Foster foi o terceiro mocinho que saiu com o coração quebrado depois que eu me recusei a ir até o altar com ele em uma manhã de domingo. 

Do nada, o homem simplesmente acordou e decidiu que era a hora para o tal feito que mudaria nossas vidas, e mudou mesmo, quando mais uma vez travei e não consegui dar o maravilhoso passo à diante no relacionamento.

Depois daquela manhã, o recomeço veio. Voltei a ser a mulher que fugia de compromissos sérios e firmados. 

E por esse motivo é que eu me encontrava sentada no meio de uma sala enquanto Bruce e Louise discutiam sobre quem faria par comigo, visto que meu melhor amigo jamais abriria mão de eu ser sua madrinha de casamento. Uma simples madrinha.

— Tem o primo Adam. Seria bem aceitável se ele fosse nosso padrinho — sugeriu a loira, cessando seus passos a fim de parar em minha frente.

— Que nojo, Lou! Ele comia secreções do próprio nariz. Não estou em uma situação tão decadente assim — protestei ofendida, torcendo o nariz.

— Ah, mas isso faz uns dois anos, ele já deve ter parado com essas manias desagradáveis — continuou com sua tentativa falha de me convencer.

Olhei para Bruce e ele também parecia não ter gostado nem um pouco da ideia do primo Adam. 

Se a princípio o intuito fosse arrumar alguém para evitar a conversa frequente de que "todos os meus ex noivos estavam novamente noivos, e eu abandonada porque os chutei", usar o primo Adam não ajudaria de forma alguma, só faria com que as pessoas dissessem ainda mais besteiras.

Eu definitivamente não queria ouvir as pessoas dizendo que minha última opção foi um familiar de Louise que mal conseguia proferir uma frase completa sem gaguejar quando estava na frente de uma mulher.

Não que eu de fato me importasse com opinião alheia sobre a minha vida e meu modo de sobreviver e agir. Se quisessem discutir mais sobre o fato de que eu estava beirando os trinta e ainda morava com meu pai, tudo bem, se quisessem fofocar sobre todas as vezes em que anunciei um namoro com um amigo novo de Bruce, sem problemas também. 

Já meu melhor amigo se doía por mim em níveis assustadores, e a possibilidade de me ver sendo alvo de conversas invasivas e desnecessárias era um tormento para o homem, e se era um tormento para ele, acabava sendo meu e de Louise também.

Não dava pra não ser contagiada quando Bruce inventava de soltar sua raiva, ela era bastante transmissível.

— Pensando bem, dois anos é tempo suficiente para o Adam ter melhorado. Se em um período de um ano e sete meses a Terena conheceu o Sam, iniciou um relacionamento, noivou e terminou, significa que o primo da Lou pode sim ter mudado muito — argumentou pensativo.

— Nossa, que comparação maravilhosa, seu idiota — retruquei cruzando os braços e invertendo as pernas também cruzadas.

Era o cúmulo. Eu estava parecendo uma criança birrenta que acaba de levar uma bronca por cometer um erro.

Os pais a colocam no meio da sala e começam a andar em círculos dizendo para ela que seus caminhos fora do trilho renderiam consequências, e todas elas teriam que ser devidamente pagas.

Eu estava sob acusação.

O crime grave foi ter terminado o noivado, e dessa vez foi logo com um dos melhores amigos de Bruce, de novo, então seria inevitável não ver o jovem ali, e de um jeito ou de outro acabaria pagando minha sentença nos próximos quinze dias que estavam por vir. 

Meio mês convivendo e dando rumo aos últimos preparativos para a cerimônia.

Eu sabia que teria de enfrentar esses pesadelos, mas queria me enganar dizendo para minha mente que eles não conseguiriam me abalar com suas presenças, porque ao final, não tinham relevância suficiente para fazerem isso.

— Olha só, amanhã é a reunião oficial com todos os padrinhos de vocês, com os familiares, e toda essa ladainha que inventaram. Com todo respeito mas, eu deveria ficar como só mais uma dama de honra e evitar tragédias. Posso ajudar no mesmo nível.

As tragédias no caso seriam Bruce socando a cara de algum filho da mãe que ousasse me ofender ou tirar uma com a minha cara por conta dos tais noivados que nunca chegaram aos finalmentes. E Louise não perdia para ele, visto que uma das damas de honra já não seria nem sequer amiga da noiva depois de comentários engraçadinhos sobre minha vida amorosa. 

Veja bem, eu dava mais trabalho que o caçula dos Fauzer.

— Eu já disse que não abro mão de que seja minha madrinha, e ponto final — decretou, me olhando bem sério enquanto se escorava no batente da porta fechada.

Se fosse isso que o homem tanto queria, então teria. Debater com o senhor bravinho estava fora de cogitação.

O fato é que, eu devia mais a Bruce do que a qualquer outra pessoa na minha vida. Justamente isso, minha vida, minha pele salva, eu devia tudo a ele.

E o amava, amava a ponto de entrar de braços dados em uma igreja até com um senhorzinho que mal se aguenta nas próprias pernas.

Por mim, foda-se quem seria meu par, de qualquer forma o sonho de me ter ao seu lado no altar como melhor amiga, melhor irmã postiça, e melhor madrinha, seria realizado.

— Tudo bem, teimosia em pessoa. Eu com certeza vou entrar como sua madrinha. Mas vamos esperar até o último ensaio pra decidir quem será o meu companheiro, pode ser? Assim podemos saber se o Adam está em condições aceitáveis para estar ao lado dos noivos no altar, e se não estiver, nós improvisamos. Sabe bem que meu pai está à disposição e eu não me importo de entrar com ele.

Louise acenou com a cabeça como se pra ela estivesse tudo bem, mas Bruce não pareceu contente.

— Vão ficar de conversa mesmo assim. — Jogou os braços para o ar, insatisfeito como sempre. — Até lá as pessoas vão falar mil coisas chatas, principalmente porque o Sam e o Henry estarão aqui e serão padrinhos também. Eu prefiro que isso se resolva já. Não quero esperar que comecem com piadinhas idiotas sobre você estar solteira e parada no tempo.

Nossa, não era tão bom ouvir essa constatação saindo da boca dele. No fim eu realmente estava parada no tempo, há anos. Uns doze, pra ser exata.

Não que me doesse ou me dilacerava, mas saber que dois dos meus ex estariam ali como padrinhos, com suas respectivas noivas, me deixava apreensiva. Não poderia jamais pedir para Bruce abrir mão disso porque a intrometida fui eu, não deveria ter me envolvido com seus amigos se quisesse distância depois. 

Talvez, esse tenha sido o meu erro, me envolvi com pessoas que não poderiam ficar longe depois que tudo tivesse acabado, sendo assim, eu que suportasse calada e de peito bem estufado.

Não podia dar o gostinho de que me vissem sozinha e quase virando a tia dos gatos, tendo como único impedimento de isso ter acontecido, minha rinite, caso contrário, eu já seria praticamente uma senhorinha cercada de felinos.

— No final disso tudo, nem você e nem a Lou tem que se preocupar tanto com esse pequeno detalhe. Eu vou dar um jeito, prometo para vocês, só confiem em mim.

Me levantei e caminhei primeiro até a mulher que estava mais próxima, lhe dei um abraço rápido e sussurrei um "obrigada" em seu ouvido, pensando na verdade em me desculpar pelo inconveniente.

Não era a primeira vez que eu dava dor de cabeça para os dois. 

Em Bruce dei um beijo na bochecha e lhe encarei por alguns segundos antes de abrir a porta e sair do quarto e daquela casa enorme que no dia seguinte receberia dezenas de pessoas. Ele não disse mais nada, mesmo que sua cara contradizia seu silêncio.

Eu poderia ficar mais e debater, no entanto, não chegaríamos a lugar algum, não só pelo cansaço naquela hora da noite, como por não termos ainda uma solução visível e palpável. 

Definitivamente, o primo da Lou estava fora da minha lista.

Por onde eu passava, nos corredores e pelas salas de estar, via algum arranjo ou preparativo que remetia à cerimônia que me recusei a realizar nos últimos anos. 

Não havia um arrependimento real da minha parte, nunca tive vontade alguma de vivenciar a magia de um casamento e receber uma chuva de arroz quando saísse da igreja para iniciar uma vida diferente com alguém fixo ao meu lado. 

Minha vez já tinha chego um dia, e passou tão rápido que mal me recordava do gostinho.

Faltava menos de vinte e quatro horas para toda a farra começar, e algo me dizia que seria uma bagunça bem grande.

Os quinze dias prometiam ser corridos e cansativos até a cerimônia, eu estaria envolvida em cada um deles como o prometido aos noivos, e além de ter que lidar com o passado recente que eram Sam e Henry, rindo da minha cara com suas respectivas noivas, havia noventa por cento de chances de ter que enfrentar um "arqui inimigo" bem mais antigo.

Travis Turner provavelmente viria, e mais do que me preocupar com quem me acompanharia no altar, eu teria que ralar para manter minha pele a salvo e completamente longe daquele homem.

Ele era o meu karma, e para minha infelicidade, eu sabia que não teria como continuar o evitando.

Talvez enfim tivesse chegado o meu fim.

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