Capítulo 03

RUBY PORTMAN

Katherine continuou a orientar acerca do comportamento e conduta que devo manter perante o meu chefe, caso, é claro, eu queira permanecer na empresa.

Tal como dito por Nicklaus, o Sr. Radcliffe é uma pessoa bem temperamental e perfecionista, tornando imensa a lista de secretárias despedidas aparentemente por ou não atenderem os requisitos, ou não aguentarem a pressão.

Por que ele não podia simplesmente ser apenas um rosto bonito?

Assim que retornei à empresa, na minha sala, estava a advogada saindo do escritório do Sr. Radcliffe, acompanhado por ele.

A mesma ri de alguma coisa aparentemente muito engraçada e tocou de forma sutil no peito do homem que ainda mantém a expressão indolente diante de mim.

Sem querer faço contacto visual com ele, mas trato logo de direcionar discretamente o meu olhar a qualquer outro ponto da sala que não fosse eles.

— Boa tarde, senhores — cumprimentei e Melissa virou o seu rosto na minha direção, desfazendo gradualmente o seu sorriso, na verdade, o transformando em algo mais cordial. — Sr. Radcliffe, precisa de alguma coisa?

— Acompanhe a Srta. Maribor ao elevador, ela já está de saída — ele é curto e direto. — Foi um prazer voltar a vê-la, Melissa.

Ela voltou a sorrir de forma sedutora antes dos seus lábios soarem um:

— É sempre um prazer tratar negócios consigo, Harry.

Isso não pode se tornar mais constrangedor para mim...

Evitei fazer uma careta de desagrado — ou ao menos que reparem nela — e esperei pacientemente levar a mulher ao elevador e voltar ao meu trabalho.

Mas é como dizem, felicidade de pobre dura muito pouco, porque mal sento na minha cadeira para o celular fixo tocar e a chamada ser diretamente do escritório do meu superior.

Fechei os olhos e respirei profundamente antes de tirar o celular do gancho.

— Sim, Sr. Radcliffe? Precisa de mais alguma coisa?

— Apresente-se a minha sala, Srta. Portman.

E encerrou a chamada sem me deixar ao menos aprovar ou consentir com as suas ordens.

Mal-educado.

Peguei a agenda que passei a manhã toda a analisar e fui até o seu espaço privado, batendo na porta e entrando logo após a sua autorização.

Ele estava lá, imponente, escrevendo alguma coisa no seu computador enquanto permaneço parada durante muitos segundos até o homem finalmente decidir olhar para mim.

Será que preciso também pedir permissão para me sentar?

— Sente-se, Srta. Portman — digitou mais algumas coisas e pouco depois voltou a encarar-me, apontando o seu lápis na minha direção. — Li o seu currículo e achei ele um tanto quanto entediante, se me permite dizer.

Quase abri a boca em choque, mas fiz questão de demonstrar a minha indignação com um olhar frio.

Quem ele pensa que é? O meu dia nem terminou e já estou a ser despedida? Posso ser despedida por isso? Posso pedir uma indemnização por isso? Não me admira o porquê de tantas terem ido embora.

— Se me permite, senhor, as minhas capacidades profissionais são adequadas para o perfil divulgado, não posso desculpar-me por não ser aquilo que o senhor procura.

Ele encarou-me, indiferente, com os braços esticados enquanto segurava algumas papeladas, avaliando minuciosamente cada expressão minha.

Eu já estava preparada para ser despedida, mudei até a minha postura para caso eu possa sair confiantemente, mas não sem antes o ameaçar em meter um enorme processo, caso isso seja possível.

Mas fui surpreendida com ele jogando uma imensa papelada na mesa.

— Isso é o que veremos, trata-se de uma noite de gala beneficente, em favor de uma associação que está abrindo nos países em desenvolvimento, a Radcliffe 's, que preside essa associação, também é a madrinha desse projeto.

A minha boca quase forma um perfeito, mas permaneci o encarando plena.

— Feche o orçamento para o evento e verifique as reservas para recebermos os investidores — continuou a fazer contacto visual comigo. — Pode se retirar, Srta. Portman.

Demorei alguns segundos para processar toda informação, mas logo abanei a cabeça e alcancei rapidamente a papelada.

— Licença, senhor — levantei e sai da sua sala.

• ────── ✾ ────── •

O dia terminou sem mais importuno, e graças a Deus, o sol já havia se escondido e o céu foi tomado por um negrume que envaidecia as estrelas, embora as luzes de Nova Iorque tratassem de ofuscá-las.

Organizei a minha mesa e a seguir a bolsa, guardando o arquivo da tal gala para começar o meu trabalho em casa. Eu com certeza irei arrepender-me por estar a levar trabalho no meu local de descanso.

Mas considerei o seguinte: caso eu o termine rápido, eu também poderei descansar mais, e então todo mundo estará feliz.

Entre os meus devaneios nem percebi a figura imponente saindo da sua sala, e eu observei-o pela minha visão periférica, caminhar até a saída.

— Até amanhã, Srta. Portman — ele despediu e nem me deu tempo de fazer o mesmo.

De repente o meu celular começou a vibrar com as mensagens de Milena, onde ela me notifica que já está esperando por mim na frente do edifício.

Apresso-me em apagar as luzes e sair rapidamente também da minha sala, mas no fim do corredor ainda posso avistar o Sr. Radcliffe esperando também pelo elevador.

E o homem parecia furioso, seja lá com quem discutisse ao celular, evitei olhar para ele, e então apertei continuamente o botão do elevador para que ele chegasse mais rápido.

Quando finalmente chegou, ambos entramos nele, afastados um do outro, num silêncio sepulcral, já que ele não fazia questão de sequer desviar o seu olhar do celular.

Milena voltou a ligar para mim e atendi de um jeito meio desesperado.

— Mila, já estou a descer, o quê que se passa?

— Acho que vou ser multada, aparentemente eu estava numa zona de estacionamento reservada e agora estou numa proibição.

— Calma, eu já estou a descer, vai cruzando os dedos.

Desliguei o aparelho e o voltei na bolsa, num suspiro audível quase levantei a mão e gritei um aleluia quando finalmente as portas abriram-se.

Caminhei o mais rápido possível até chegar à zona de estacionamento onde estava o carro da Milena.

— Peço imensas desculpas pela demora, o elevador demorou uma eternidade para chegar — eu disse e fechei a porta ao entrar.

— Sem problemas, como foi o primeiro dia? Você precisa contar-me tudo! — Exigiu e ligou novamente o carro para conduzir.

Esfreguei a cara freneticamente e encostei a minha cabeça no airbag.

— O meu chefe é um autêntico filho da mãe, nunca conheci um homem tão mal-educado quanto ele, chega a ser inacreditável — ouvi a risadinha da ruiva ao meu lado. — E eu pensando que seria simpático e receptivo quanto o diretor dos recursos humanos.

— Então, Ruby, relaxa, positivismo — ela falou tranquilamente e pousou uma das suas mãos nas minhas costas, esfregando elas num gesto de carinho. — Amanhã é um novo dia.

Se eu sobreviver.

— Pois é — finalizei a conversa e troquei rapidamente a conversa pelo trajeto.

O caminho não é longo da empresa para o meu apartamento, mas o problema é o trânsito que abraça as estradas no final do dia, já que absolutamente todo mundo quer voltar para casa.

E passou-se meia hora de estrada que faço normalmente pela metade, Milena recusou subir até ao meu apartamento para ao menos tomar uma taça de vinho com a desculpa de que estava tão cansada quanto eu, a entendo.

Abri a porta e as luzes do apartamento ainda estão apagadas, indicando que Sophia ainda não havia chegado.

Você só precisa de um banho e um vinho, Ruby, para levantar esse astral.

Joguei a bolsa em cima da minha cama e enchi a banheira com água quente, colocando sais de banho de essência de lavanda, perfumando o espaço todo.

Tirei a maquiagem e a roupa, entrei na banheira e senti pouco a pouco todos os meus músculos relaxarem.

Era tudo o que eu mais precisava.

Infelizmente não demorou mais do que uma hora porque ainda precisava fazer o jantar.

Enrolei-me em um robe e fui à procura de uma camisola de dormir confortável e as minhas pantufas atiradas em algum canto do meu quarto, por fim penteei o meu cabelo e parti rumo à cozinha.

Abri uma garrafa de vinho branco enquanto no fogão o macarrão a parisiense cozia, a rádio tocava na sessão nostalgia e embora o som estivesse baixo, sou incapaz de parar de cantarolar.

Liguei o meu computador que repousava em cima da mesa da cozinha e coloquei os arquivos do jantar beneficente ao lado, enquanto servia alguns petiscos no prato e sentava na mesa.

Mas antes de começar a fazer o meu trabalho, digitei calmamente Harry Radcliffe na barra de pesquisa do G****e.

— Vou descobrir quem é você, Harry.

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