Capítulo 04

RUBY PORTMAN

Harry Radcliffe é um homem estranho...

Afirmar isso não deveria ser uma surpresa, mas falar isso com essa ênfase toda só me reforça que devo tomar bastante cuidado se quiser manter meu emprego, se é que ele já está não esteja em jogo.

No total de trinta e cinco secretarias passaram pelas mãos desse homem em um período de três anos, trinta e cinco secretarias.

Um absurdo!

Procurei em todas as colunas sociais que tinham seu sobrenome e fiquei um pouco surpresa com as poucas informações que constam em quase todas elas.

Aparentemente, a família Radcliffe é bastante reservada e as únicas polêmicas envolvidas com a empresa Radcliffe 's é a permanência — digamos que bastante temporária — das secretárias executivas.

E para variar, poucas, pouquíssimas mesmo aceitavam uma entrevista para clarear as dúvidas a respeito desses ocorridos, e para minha decepção as únicas desculpas foram: um fardo muito grande trabalhar numa multinacional, ou, Sr. Radcliffe é um homem bastante centrado e disciplinado, temo que não sou capaz de corresponder a todas as expectativas que precisam para esse cargo.

Na minha opinião, desculpas bastante esfarrapadas, mas quem sou para questionar a veracidade delas?

Não me surpreende que eu tenha conseguido o cargo tão rapidamente, imagino que agora as pessoas prefiram concorrer a outros cargos que não seja aquele que entrem em contacto diretamente com o CEO de carácter duvidoso.

Muitas das próprias colunas sociais decidiram passar a ignorar esse tipo de ocorrido da empresa, não é para menos, era a única polêmica que com o passar do tempo se tornou bastante enfadonha.

Mas no caso, a falta de polêmicas em torno dessa família é até um pouco esquisita, os Radcliffe 's é uma família bastante grande e fico mesmo surpresa com tamanha perfeição que elas sustentam.

Ou como conseguem esconder perfeitamente os seus podres.

Ou talvez sejam mesmo uma família normal, céus.

Gostaria de ter pedido conselhos a Sophie ou a Milena, mas uma está indisposta e a outra indisponível, e apresentar minhas constantes questões para algum dos meus colegas está altamente fora de questão, até mesmo para Katherine.

Uma coisa é falar de uma cliente e/ou advogada, e outra coisa completamente diferente é abordar esse tipo de coisa sobre o meu superior.

Olho apreensiva para a fachada vidrada enquanto seguro firme as papeladas contra meu peito e respiro várias vezes antes de tomar a iniciativa para entrar no edifício.

— Bom dia, Srta. Portman — Katherine cumprimenta. — O Sr. Radcliffe chegou a cerca de uma hora.

Verifiquei o horário no relógio e aceno em despedida para ela, me apressando para chegar ao elevador já lotado.

Além de toda situação ser estranha, eu preciso permanecer calma e centrada, não como se as experiências delas interferissem nas minhas, porque não podem.

Cheguei ao andar desejado, cruzei o corredor e entrei em minha sala, para apenas pousar a bolsa e a seguir bater a porta que dá acesso a sala do Harry.

Assim que sua autorização é cedida, respiro fundo e entro determinada em seu espaço particular absurdamente gelado.

O cheiro de seu perfume toma o ambiente todo, e, meus olhos logo pousam no homem sentado em sua cadeira enquanto lê e digita alguma coisa em seu computador, completamente concentrado.

— Bom dia, Sr. Radcliffe — pigarreio.

— Bom dia, Srta. Portman — responde sem ter ao menos a gentileza de olhar para mim.

Eu nem sei porque eu ainda tento.

— Eu gostaria de lhe apresentar metade da papelada já resolvida — me aproximo mais de sua mesa e estico os documentos. — A que corresponde ao jantar beneficente.

— Não gosto que me entreguem trabalhos pela metade, Srta. Portman — sorrio de escárnio e ainda permaneço com a papelada esticada em sua direção.

— Entendo, senhor, mas eu em nenhum momento lhe disse que estava fazendo a entrega, e sim a apresentação, gostaria que o senhor avaliasse a tempo de eu fazer qualquer retificação — volto a papelada de encontro ao peito. — A menos, é claro, que o senhor prefira ficar com trabalhos atolados para avaliar, afinal, sua agenda corresponde a vários compromissos ao longo da semana, e eu estou tentado tornar essa agenda o mais leve possível.

Ele tira lentamente o olhar da tela do computador para me dar a graça dos seus belos olhos dourados, apenas lhe ofereço um belo sorriso amarelo.

— Certo, Srta. Portman — volto a entregar os benditos papéis que ele recebe e pousa de qualquer jeito em cima da mesa e retorna a olhar para o seu computador. — Antes de abordar qualquer coisa que diz respeito ao seu trabalho, precisarei de um café.

O homem tem uma enorme garrafeira para diversos tipos de bebidas alcoólicas, mas não há absolutamente nenhuma máquina de café ao seu lado.

Giro os calcanhares para sair da espaço.

Felizmente ao pé da minha sala há outra sala justamente para esses fins, o que, ainda bem, me impede de ter que descer para o refeitório em busca de qualquer coisa.

Preparo a sua bebida, e como havia esquecido de perguntar a quantidade, acabo por encher a pequena xícara e colocar dois pacotes de mini torrões de açúcar ao lado.

De repente o celular fixo toca na mesa de minha sala e eu entro em um dilema entre ir atender primeiro ou entregar de imediato o café.

Pouso tudo em uma pequena bandeja e me dirijo até sua porta que é aberta bruscamente, o enorme corpo do homem se choca comigo, fazendo todo o líquido escaldante ser derramado em minha camisa.

A bandeja, a xícara, os torrões, absolutamente tudo vai de encontro ao chão enquanto tento no desespero afastar o tecido manchado de minha pele.

Não me contenho em não deixar palavras de baixo calão escapar de minha boca enquanto vou desabotoando vários dos botões da bendita camisa branca agora tingida de um castanho berrante.

Suspiro inquieta.

Como vou trabalhar dessa forma?

Arregalo os olhos ao perceber a figura que ainda me encara atentamente.

Puta que pariu.

Fecho a camisa de imediato que já mostrava o início dos meus seios cobertos pelo sutiã de renda.

Harry ficou um curto espaço de tempo olhando em minhas mãos que impedia de mostrar a camisa aberta, mas logo começa a tirar o próprio paletó e me oferece assim que acaba de o despir.

— Terá que aceitar, Srta. Portman, não pretende trabalhar dessa forma, certo? — pisco várias vezes os olhos antes de pegar receosa a peça de roupa.

— Eu posso muito bem voltar para casa para me trocar, senhor — ele me encara sem muita expressão e eu prossigo. — Não é assim tão longe...

— Terei que me ausentar, portanto irei precisar que permaneça aqui e em nenhuma circunstância saia até o fim de seu expediente, e por favor, se recomponha rápido — passa por cima dos objetos caídos no chão e segue sua rota.

— Se tivesse a m*****a atenção ao abrir a porta eu não precisaria me recompor — murmuro baixo, mas afinal não tão baixo assim, porque Harry para bruscamente de andar e vira a cabeça para retornar o olhar em mim.

— Perdão? — ele indaga e eu o encaro assustada.

Pigarreio.

— Eu disse: boa sorte, senhor — tento lhe oferecer o meu melhor sorriso, e o mais falso também.

Ele me observa durante um tempinho.

— Certo — diz por fim e volta ao seu trajeto.

Puta que pariu.

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