A dor não veio de imediato. Primeiro, houve o choque, a negação. Eu não podia acreditar no que acabara de ver. Era como se meu cérebro estivesse tentando processar tudo, tentando entender a realidade nua e crua que estava à minha frente. Mas, conforme os minutos passaram, a dor começou a crescer. Não era só a dor de ter sido traída, mas a sensação de ser invisível, desimportante, substituível.

— Cada dia que passa eu odeio, mais essa Isabella.

Eu andei sem destino, sem saber para onde ir, apenas deixando minhas pernas me guiarem. As ruas estavam silenciosas, mas dentro de mim, uma tempestade se formava, uma raiva que queimava, uma tristeza que afundava mais e mais em meu peito. Não sabia como lidar com tudo o que estava acontecendo, como lidar com a sensação de perda.

Cheguei em casa mais tarde, e a última coisa que eu queria era ver minha mãe, mas ela estava ali, sentada na sala, esperando para me perguntar sobre meu dia. Eu não podia dizer a ela a verdade. Não queria que ela soubesse. Não queria que ela visse o que aconteceu com sua filha.

— Como foi o dia, querida? — Ela perguntou com um sorriso gentil, mas eu não consegui olhar nos olhos dela. Eu sentia que tudo dentro de mim estava desmoronando.

— Foi… bom. — Respondi de maneira fria, tentando não mostrar nada, mas sabia que minha mãe percebia que algo estava errado.

Ela me observou por um momento, os olhos dela estreitando-se, mas não insistiu. Sabia que havia algo em mim que ela não conseguia alcançar, algo que eu não queria que ela visse. Eu fui direto para o meu quarto, fechando a porta atrás de mim com força. Fui para a janela e olhei para a rua lá embaixo. Tudo parecia tão pequeno, tão distante. Nada fazia sentido agora.

Eu peguei o celular e, sem pensar, enviei uma mensagem para Henry. Ele não tinha me procurado, não tinha sequer tentado me explicar. Eu queria ouvir algo dele, algo que me fizesse sentir que ele ainda se importava. Mas, ao mesmo tempo, sabia que não era isso que eu precisava. Eu só queria que ele sentisse o mesmo peso que eu sentia. Queria que ele soubesse o que era sentir-se quebrada.

A resposta dele veio minutos depois:

Henry: “Lilith, eu não sei o que dizer. Eu cometi um erro, mas não é o que você pensa. Eu…”

Mas eu não terminei de ler a mensagem. Ela me fez querer mais vomitar do que ouvir suas palavras vazias. Como ele ousava ainda tentar me convencer de algo? Como ele podia achar que eu poderia simplesmente engolir tudo aquilo como se nada tivesse acontecido?

Ignorei a mensagem e joguei o celular na cama. Fiquei ali, parada, observando o teto, sentindo a dor se espalhar por todo o meu corpo. Eu nunca pensei que seria capaz de odiar alguém tanto assim. Mas, naquele momento, eu odiava Henry. E odiava Isabella. Odiava a escola. Odiava tudo. Cada pedacinho de minha vida parecia ter sido arrancado de mim e jogado no lixo.

Mas, ao mesmo tempo, algo dentro de mim se despertou. Uma sensação nova. Não mais a menina insegura, que se importava com o que os outros pensavam, que precisava da aprovação de todos. Não. Eu estava pronta para me libertar de tudo isso. Eu não precisava de Henry, nem de Isabella, nem de ninguém para ser quem eu era. Eu tinha que ser forte, mais forte do que eles jamais poderiam imaginar.

Minha mente se encheu de pensamentos sombrios, de planos para retomar o controle da minha vida. Eles pensaram que poderiam me derrubar, mas mal sabiam eles. Eu tinha uma força dentro de mim, uma força que não havia sido despertada até agora. E eu iria usá-la contra todos eles.

Eu me levantei, fui até o espelho e olhei para mim mesma, como nunca tinha feito antes. Eu não era mais a Lilith insegura e ferida. Eu era a nova Lilith, aquela que ninguém mais poderia manipular.

E, no fundo, sabia que isso era só o começo. A vingança seria minha. E eu faria com que todos pagassem. Cada um deles.

— Isabelinha se acha que ainda vai ficar nessa posição de rainha, está muito enganada, eu vou recuperar um por um, e não vai nem sobrar migalhas para você.