O vento entrava pela janela enquanto ela folheava mais um livro na biblioteca. Cinco livros abertos estavam acomodando o chão ao seu redor e Evie havia passado o dia inteiro e maior parte da tarde folheando-os a fim de encontrar algo que se encaixasse no perfil da criatura da floresta. Mas nada do que lia se encaixava com as características da fera. FúriasAs Fúrias, ou Erínias, ou ainda Benevolentes eram personificações da vingança, semelhantes a Nêmesis. Enquanto Nemesis punia os deuses, as Erínias puniam os mortais. Eram Tisífone (Castigo), Megera (Rancor) e Alecto (Interminável). Viviam nas profundezas do submundo, onde torturavam as almas pecadoras julgadas por Hades e Perséfone.Evie bufou e fechou seu sexto livro. Ela deveria saber que não encontraria nada nos livros de mitologia grega, mas não sabia onde poderia iniciar suas pesquisas e, para ser sincera consigo mesma, tinha esperanças de encontrar sua resposta ali. Arrumando as saias para que não ficassem voando ela bufou no
Evie chegou à mansão junto ao cair do sol. Levava um vestido em suas mãos para que sua irmã não desconfiasse de sua saída. Ela já estava atrasada para o jantar de noivado organizado por Johnny. Por um momento a menina pensou que o jantar seria cancelado devido a discussão que teve com o visconde, mas ao que parece o senhor Howard continuará com o plano inicial. Com um suspiro exausto, Evie abriu os grandes portões e se preparou para mais uma noite desagradável.(...)Troye não sabia o motivo de estar seguindo aquela humana. Inclusive, sentia-se um tolo todas as vezes que parava para pensar muito sobre suas ações. Entretanto, mesmo com seus próprios pensamentos negativos, estava a observando desde que saiu até o vilarejo. Sua surpresa foi pouca quando a viu com Amhèlydha. Ele tinha quase certeza de que a bruxa daria um jeito de encontrar a menina da floresta, então o rei teve a audácia de segui-la até a mansão com a intenção de protegê-la dos feitiços da bruxa. Era o que ele dizia a si
A menina sangrava tanto que ele temia não chegar a tempo. O rei olhava intrigado para as facas presas nas roupas rasgadas da humana, era nítido que ela foi à floresta matá-lo.Garota tola. O rei devia estar furioso, mas na verdade estava surpreso com tamanha coragem, ele havia imaginado que a garota fosse uma dama delicada, frágil e fraca, como a maioria dos humanos, mas se enganou. A beleza quase angelical que ela possuía encobria sua personalidade.Os portões do castelo estavam enfim visíveis. Assim que entrou porta a dentro observou o lago, os espinhos e as rosas. O local era estranhamente mórbido, ainda que belo. A menina com certeza acordaria assustada e confusa.O rei fez uma careta de desgosto, se perguntando o motivo de estar incomodado com a reação negativa da humana ao acordar. Ela era sua prisioneira, não devia se importar com seu bem estar. A garota deveria se ajoelhar aos seus pés por salvar sua vida daquela bruxa intragável. Troye subiu as escadas e abriu a porta do
A magia toda a sufocava. Ela estava presa em uma roda de fogo com a música mais calma que já tinha escutado, mas que não fazia jus da situação. A risada macabra se misturava com a melodia. O ar não lhe chegava aos pulmões fazendo com que a mesma se debatesse à procura de uma salvação. Ela viu o rosto enrugado passar pelas chamas.— Irá queimar, criança— a velha disse.Evie perfurou a mão com as unhas pontiagudas e a falta de ar já se tornava horrível. A velha ainda a observava com satisfação no rosto. A menina ficou tonta e no último momento de sua lucidez viu os olhos da fera se inclinando sobre ela.**Evie acordou assustada. Percebeu um lençol diferente em uma cama diferente. O quarto era decorado com rosas rubras e folhas verdes, ela percebeu estar escuro pela pouca quantidade de luz que aquele quarto possuía. Era um pouco frio e a sensação de estar sendo observada era constante. Parecia um sonho encantada estar naquele cômodo, entretanto a aura daquele local não parecia nada en
Observar tão de perto as íris que a perseguiam, fez seu corpo inteiro arrepiar. Instantaneamente sentiu o toque em seu cotovelo queimar sua pele e o coração, já afoito, bateu tão rápido que ela podia ouvi-lo. Com os olhos arregalados, Evie gritou tentando, sem sucesso, se afastar do toque estranho.Aquele mesmo homem era o monstro a quem seus pesadelos pertenciam. Um homem que virava fera!Ela tentou se soltar,mas quanto mais se mexia, mais se notava a força do homem.Evie parecia uma boneca se remexendo nas mãos do dono. —Me solte— Implorou aos berros.Ele não soltou. A arrastou sem dificuldade alguma de volta ao castelo com o semblante sério e cansado. O homem tornou a encara-la quando ela se cansou e parou de se debater.—Não vou machucá-la— Garantiu com um suspiro quase entediado. Evie não acreditou em nenhuma palavra que saia de seus lábios, mas sabia que não se soltaria dele se debatendo com desespero. Ela tentou regular sua respiração enquanto as portas principais se aproxima
Evie parou de soluçar depois de algum tempo. Os olhos amistosos de Troye ainda estavam gravados em sua mente. Ela até havia se esquecido, por um momento, de que chorava por culpa dele, por ele ter feito ela perceber as coisas como são. A menina de alguma maneira acreditou quando ele disse que não iria machucá-la. Seus olhos exalavam verdade e doçura. Naquele momento, Evie estranhou o fato do homem ser mesmo a fera que dizia ser, mas assim que ele negou seu pedido de saída, soube exatamente que nunca sairia daquele castelo. E que ele realmente era uma besta. E ela…sua prisioneira. Evie se levantou da cama e decidiu sair do quarto. Quando abriu a porta, conferiu se não havia ninguém por perto, estranhando o fato de um lugar tão grandioso estar totalmente vazio. Ela saiu pelos corredores a fim de encontrar algo que a fizesse esquecer dele e de todos os seus entes. Se não pudesse fugir do castelo — ainda — ela gostaria de explorá-lo para se informar onde estava. A garota não se lembra
CORTE DO AR- HÁ 50 ANOS Ele encarava seu reflexo observando como suas íris destilavam ódio. Um criado ajeitava seu terno branco enquanto Troye analisava ao redor, com um ar enojado. De sua janela conseguia ver as grandes torres de pedra infestadas de soldados armados e os muros decorados de rosas vermelhas com fadas do fogo enfeitando seus portões. Sentia o cheiro do pó mágico invadindo suas narinas e ouvia as criaturas das três cortes chegando em seus portões. O vento forte sussurrava em seus ouvidos que os minutos estavam passando rápido demais e que o tempo não possuía paciência alguma diante de sua situação. Troye odiava tudo o que seus olhos capturavam. Seu castelo estava com a decoração mais feia que já tinha visto e seus criados já não eram mais os mesmos. A rosa tatuada em seu pulso estava quase aberta por completo e o impaciente tempo estava prestes a terminar. Quando a coroação chegasse, seria seu fim. O fim de sua vida. O fim de seu reinado. Ninguém gostaria de ter u
Seus passos eram desleixados pela floresta densa e esbranquiçada. A neve caia em peso grudando em sua capa comprida e quente enquanto ela vagava por entre as árvores sem folhas, afundando os pés na neve fofa e gélida. A garota sentiu alguém se aproximando, mas não se importou em verificar quem poderia ser, apenas continuou sua caminhada arrastando o vestido vermelho como sangue pelo cenário claro. Evie sentiu a presença estranha cada vez mais próxima, estava perto o bastante para que conseguisse enxergar a silhueta masculina, embora não conseguisse identificar suas feições, pois seu rosto era um borrão escuro e esganiçado. Desse modo, ela desistiu de observar o homem sem rosto e seguiu para longe, se emanharando nos confins da floresta. O sol estava se pondo junto ao sorriso genuíno que a menina possuía ao começar sua caminhada inocente. Avistou de longe algo que lhe chamou atenção. Era vermelho, da cor de seu vestido, e cintilava sobre a neve branca. A rosa vermelha brilhava int