O som da música suave se espalhando pelo ambiente, ela envolvia e invadia a mente de Olívia Novamente, ela estava no Salão de festas, grandioso, parecia uma caixa de jóias reluzentes. Os lustres de cristal balançavam, e seus brilhos não eram de diamantes, mas de navalhas afiadas, cortando o ar e os olhos.
O veludo carmesim das cortinas escorria pelas paredes de mármore como sangue. Ela estava lá, Olívia Irving, no meio do salão. As mãos presas por cordas invisíveis, seu vestido de noiva transformado em trapos pesados. Uma pequena marionete velha. Ela tentava gritar, mas sua garganta estava selada. O cheiro de champanhe se misturava com o odor de uma fumaça amarga, familiar, era o cheiro da humilhação. Sussurros maldosos se transformaram em gargalhadas estridentes. Ela podia sentir os olhos de todos ao seu redor, seus pais, os Jensen, Beca, todos os convidados. Eles olhavam de forma hostil, perfurando Olívia por todos os lados, ela podia sentir a raiva e o prazer que sentiam em ver ela no centro daquela vergonha. Eles então começaram a apontar. — Ela acreditou mesmo! Que tola! Quem iria querer se casar com ela! — Pobre Liv, sinto tanto por você. Você sempre tão ingênua. — A noiva abandonada, hahahaha! - Achou que estava à altura de alguém da família Jansen! - Estúpida! As palavras se tornaram ecos ensurdecedores, ecoando nas paredes do salão, batendo como chicotes. As risadas cresciam, o som começou a crescer também, aqueles ruídos de escárnio começaram a sufocar. As cordas apertavam, elas não feriam fisicamente, mas a dor que se espalhava pelo peito era insuportável. Beca estava no palco, a mão dela na de Liam Hawksmoor. Ela lhe olhava com um sorriso vitorioso, aquele maldito sorriso, seus olhos dançando com uma crueldade que sempre estava lá, mas ninguém percebia, ela aprecia apenas para Olívia. - Olhe querida prima, eu ganhei de novo! Desespero. A única coisa que podia sentir. Com uma força que não sabia que tinha, Olívia tentava se soltar, sair de lá, forçando o limite. As cordas invisíveis se romperam. Ela começa a correr, suas pernas tropeçando no tecido pesado. O salão se alongava infinitamente, as portas parecendo cada vez mais distantes. As risadas me perseguiam, os ecos de "Tola! Ingênua! Falsa!" preenchendo o vazio. O chão sob seus pés desapareceu. Está caindo. Uma queda livre na escuridão. O ar se tornou denso e gelado. As risadas se dissiparam, dando lugar a um silêncio opressor. Estava sozinha como sempre. Completa e absolutamente sozinha na escuridão, a sensação de traição e humilhação corroendo-me por dentro. Por que isso sempre se repetia. Um ciclo interminável de dor e rejeição. Queria acordar. Queria desesperadamente acordar. Ela se debateu na escuridão, a queda era infinita. O silêncio daquele vazio era mais aterrorizante do que as risadas que a perseguiam. De repente, um solavanco. Os olhos dela abriram. O ar denso e frio do pesadelo deu lugar à brisa fresca da manhã que entrava pela janela com a cortina aberta. Ela estava deitada em sua cama, a respiração ofegante, o coração batendo descontroladamente em seu peito. Olhou o teto, não havia lustres de cristal. Estava em casa. A luz pálida do amanhecer pintava o quarto, dissipando as sombras e a sensação de terror. Suas mãos, livres, tocaram o lençol macio. Ela não estava mais amarrada. O vestido de noiva não existia; ela estava em um pijama simples de algodão. A voz, que ela tinha perdido no sonho, estava lá, embora fraca e rouca. - Malditos! Era aquele pesadelo. A família sempre escolher Beca deixou feridas em Olívia que ficaram mais profundas quando Edward decidiu fugir do casamento. A consciência a atingiu como uma onda de alívio, e ela afundou no travesseiro, respirou o mais fundo que conseguiu. As lágrimas, que tinham se recusado a cair no sonho, escorreram pelo seu rosto. Eram lágrimas de dor, mas também de gratidão, quando tudo virou um pesadelo em Porto Cristal ela conseguiu fugir. Já se passaram quase dez anos desde aquele dia. Quase uma década inteira. Aquele salão, Edward, Beca, seus pais, sua família, todos eles eram fantasmas de uma vida que ela tinha deixado para trás. Tudo acabado pela sua própria ganância agora. Ela se mudou, construiu uma nova vida longe daquelas pessoas e daquele mundo. A dor da traição de diferentes formas ainda existia, mas eram cicatrizes, não uma ferida aberta. Fazia tempo que não sonhava com isso. Olívia levantou-se da cama, o corpo pesado pela emoção do pesadelo, mas a mente mais leve. Foi até o banheiro, ligou o chuveiro, sentindo a água quente, uma benção, caindo sobre seu corpo. Era um ritual rotineiro, um ato de lavar o pesadelo e a dor que ele trazia. A cada gota de água, ela sentia a frieza do mármore do salão se dissipar.