Capítulo 5 Seguindo em frente

Olívia não pensava em nada além do que suas mãos estavam fazendo. Era uma meditação, uma forma de se perder no momento e esquecer o mundo lá fora. Foi a senhora Hari que a ensinou, com gentileza e carinho, ensinou tudo a Olívia e quando não pôde mais trabalhar por estar doente deixou a floricultura aos seus cuidados.

Já faziam dois anos agora que a gentil senhora havia partido, ela fazia Olívia se lembrar de outra senhora, também amável, sua querida avó, "vovó Claire", era uma pessoa calorosa, a única que realmente a protegeu, mas que nunca mais poderia voltar ver. A tristeza subiu pela garganta, marejando os olhos. Mas ela empurrou esses pensamentos para o fundo do seu coração, a "vida segue" foi o conselho de Hari e ela estava seguindo em frente. Ela estava vivendo bem como havia prometido que faria.

Enquanto trabalhava, ouvia a voz de Sofia ao fundo, atendendo clientes, rindo e conversando sobre a beleza das flores. O dia corria feliz, iluminado pelo sol e pelo propósito de fazer a vida das pessoas mais bonitas com as flores.

O sol da tarde, antes dourado e gentil, agora tingia o céu de um laranja intenso. Os últimos raios entravam pela porta do "Jardim da Flor", desenhando longas sombras no chão de cimento. Sofia, com a caixa de papelão debaixo do braço, se despedia com a sua habitual alegria.

— Tchau, dona Liv! Tenho que buscar o meu pequeno. Até amanhã! — disse ela, acenando enquanto o guizo da porta tilintava pela última vez naquele dia.

Olívia sorriu de volta, o cansaço do dia, pesando em seus ombros. A floricultura, antes um redemoinho de cores e vida, agora estava em um silêncio reconfortante. Ela atendeu o último cliente do dia, um homem de meia-idade que comprou um único lírio branco, e então se dedicou a arrumar as últimas coisas. As flores que sobraram foram cuidadosamente guardadas, o chão varrido, as fitas e os papéis organizados.

Quando estava prestes a trancar a porta, seus olhos percorreram a rua. Ali, encostado em um carro preto e luxuoso que destoava daquela rua pacata de cidade do interior, estava uma figura imponente. Liam Hawksmoor.

O coração de Olívia congelou. A respiração dela ficou presa na garganta. Ele não parecia um fantasma de um pesadelo, mas uma realidade sólida e perturbadora. Os ombros largos preenchendo o terno caro, o rosto sério, inexpressivo. Tantos anos se passaram, mas o tempo não o tinha amaciado. Ele parecia ainda mais maduro e perigoso, a aura de poder que o envolvia era quase visível. O mesmo perigo que arrasou a família Irving no passado, pelo que ele achou que Olívia tinha feito. Tudo por Beca O espanto a atingiu com força.

O medo, uma sensação que ela tinha enterrado fundo, subiu à superfície, frio e gelado. O que ele estava fazendo ali? Por que ele a encontraria, depois de tanto tempo? Olívia apertou a chave em sua mão, os nós dos dedos brancos. A cidade, a floricultura, a vida que ela construiu, de repente, não pareciam mais tão seguras. Aquele homem representava o passado, que ela pensava ter deixado para trás, ele estava parado do outro lado da rua.

Apesar do medo borbulhando dentro de si, ela respirou fundo. Não. Ela não fugiria, mas também não ia ficar parada pacificamente sem revidar, não era mais aquela moça medrosa. Com um clique seco, a porta do "Jardim da Flor" selou o perfume adocicado das flores e a luz aconchegante do interior. Respirou fundo, tentando acalmar o coração descompassado, e começou a caminhar em direção a ele. Cada passo na calçada de paralelepípedos parecia ecoar o batimento frenético em seu peito.

Enquanto se aproximava, seus olhos o avaliaram, buscando por algo familiar, afinal, haviam frequentado o mesmo círculo social. Ele estava mais alto, se isso era possível, e a imponência que exibia era quase intimidadora. Os cabelos castanhos escuros, semelhantes aos de seu pai, Arthur, estavam perfeitamente alinhados, e a forma como o terno caro abraçava seus músculos indicava uma força ainda maior do que se lembrava. Mas foi nos olhos que ela notou a maior mudança. Os olhos azuis, característicos da família Hawksmoor, antes cheios de uma intensidade juvenil, agora pareciam mais frios, quase sem vida, como dois fragmentos de gelo lapidados. Uma austeridade que não combinava com o Liam que ela conheceu.

A imagem do irmão mais velho, sempre um exemplo para todos os seus irmãos e todos ao seu redor. No lugar dele, estava um homem que parecia ter visto demais, vivido demais, e perdido algo essencial no caminho. Ela parou a poucos metros dele, a sombra do carro de luxo envolvendo-a. O silêncio entre eles era pesado, carregado de anos de rancores profundos.

_ Senhor Hawksmoor, está longe de casa. Em que posso ajudar?

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