Sempre fui o tipo de homem que não se encanta com festas exageradas, com farras sem propósito ou com esses eventos sociais cheios de máscaras e aparências. Nunca foi meu estilo. Sou mais reservado, mais contido. Gosto de encontros familiares, daqueles momentos simples que carregam um valor real. São essas coisas que fazem sentido pra mim. Festas vazias? Nunca me disseram nada. Mas o meu irmão… ah, ele é o oposto. Ama essas merdas como se nelas encontrasse algum tipo de salvação. Já eu, evito sempre que posso. Só que hoje, excepcionalmente, abri uma brecha. Não foi pela festa em si, mas pelo jogo. Eu gosto de jogos perigosos, gosto da sensação de dominar a situação e, mais ainda, de esmagar quem pensa que está no controle. Fiz questão de anular qualquer vantagem daquele filho da puta. Tirei o sorriso da cara dele. Arranquei o poder dos dedos dele como se fosse nada. Depois que deixei meu irmão na mansão, carregando ainda o gosto amargo daquela cena patética que presenciei, percebi que
Eu sempre soube que, em qualquer lugar, os novatos eram observados com desconfiança. Era um comportamento quase infantil, mas, ainda assim, recorrente. As pessoas olhavam de canto, cochichavam, julgavam, como se a presença de alguém novo representasse uma ameaça direta às suas zonas de conforto. E, ironicamente, muitas dessas mesmas pessoas pareciam não compreender o óbvio: empresas precisam crescer. Expandir. Evoluir. E, para isso, é natural que haja rotatividade. Gente nova chega, gente antiga vai embora. É o ciclo inevitável dentro de grandes corporações. E essa aqui, onde eu havia conseguido uma vaga, não era diferente. Uma empresa multimilionária, estruturada, respeitada — o tipo de lugar que, sinceramente, eu jamais imaginei pisar. Conseguir essa entrevista foi como um respiro num mar revolto. Tudo aconteceu graças à minha amiga Amélia.A família dela tem condições financeiras bem diferentes das minhas, e por sorte — ou talvez empatia — ela soube através do pai que estavam busca
Passei o restante da manhã focado no meu escritório. Precisava resolver pendências acumuladas, colocar tudo em dia e garantir que o fim de semana fosse, de fato, livre — sem que eu precisasse colocar os pés ali de novo. A rotina era pesada, e qualquer brecha que eu pudesse tirar pra respirar um pouco já valia ouro. Como sempre, saí faltando uns cinco minutos para o horário oficial de almoço. Costumo fazer isso para evitar esbarrar com o movimento todo, aquela correria de funcionários tentando ganhar tempo na pausa. Segui até o elevador e, para a minha sorte, ele já estava ali, com as portas abertas. Entrei e, ao levantar o olhar, dei de cara com a loira. Não pude evitar o impulso de perguntar para onde estava indo, mesmo sabendo que aquela pergunta carregava mais do que só uma curiosidade qualquer. Ela respondeu baixinho, dizendo que estava indo procurar algum lugar pra comprar um lanche. Simples assim.Mas depois de ver onde ela morava, depois de tudo que vi ontem... eu simplesmente
Ir até aquele restaurante me fez enxergar, com clareza, o quão rico ele é. Nunca, nem nos meus maiores sonhos, imaginei que um dia entraria em um lugar tão sofisticado e absurdamente caro como aquele. Era outro mundo. Tudo ali exalava requinte — do lustre de cristal pendurado no teto aos talheres reluzentes sobre a mesa impecável. Fiquei surpresa com o convite. Na verdade, muito surpresa. Ele quis almoçar comigo, justo eu, uma bolsista simples, quase invisível diante de tantos rostos poderosos. Aceitei, é claro, mas o nervosismo tomou conta de mim assim que entrei naquele ambiente. Por um breve momento, pensei seriamente em sair correndo dali. Aquilo tudo parecia grandioso demais, como se eu não pertencesse àquele espaço. Mas eu não sou mal-educada. Meus pais me deram princípios, me ensinaram a ter postura, a ser respeitosa e grata. Então respirei fundo e permaneci. E ainda bem que fiquei... porque meu Deus, aquela comida!O sabor era simplesmente indescritível. Cada garfada parecia d
Meus pais só podem ter perdido completamente o juízo. Não tem outra explicação. Que porra de ideia é essa de querer me empurrar pra cima de alguém que eu nem conheço? Eles acham mesmo que eu sou um boneco de ventríloquo? Que vão mexer os cordões e eu vou dançar do jeito que querem? Não sou um maldito robô que aceita ordem calado. Hoje, só vou engolir esse desaforo porque fizeram esse maldito jantar. Mas que fique bem claro — vai ser a última vez. Não vou tolerar essa palhaçada de novo. A raiva estava entalada no meu peito, latejando na base da nuca, queimando atrás dos olhos. Eu não conseguia nem pensar direito. As palavras dos dois ainda ecoavam na minha cabeça, e quanto mais eu lembrava, mais vontade me dava de explodir aquele salão inteiro. Peguei o celular, digitando com os dedos trêmulos de pura irritação. Mandei uma mensagem pra Diana. Eu precisava conversar com alguém que me entendesse, alguém que conseguisse puxar meu freio antes que eu cometesse alguma besteira.Ela sempre so
Eu estava tão surpresa com tudo aquilo, que meus olhos baixaram por alguns segundos, como se precisassem fugir da intensidade do momento. Mesmo com a voz da senhora Muller conversando com a Amélia ali perto, tudo parecia abafado, distante... como se o mundo ao redor tivesse sido engolido por um silêncio repentino. Meus pensamentos estavam embaralhados demais para prestar atenção em qualquer outra coisa. Só percebi que ainda estava ali, naquela realidade, quando ouvi a voz firme do senhor Kaiser me chamando. Não tive escolha, levantei. Eu trabalho pra ele. Ele me paga. E naquele instante, qualquer deslize poderia me custar o pouco que ainda me restava. Caminhei ao lado dele, meio tensa, até o barzinho do restaurante. Ele começou a falar umas coisas, me perguntando de forma direta sobre o Tobias, e por alguns segundos achei que aquilo fosse o início de uma demissão. Meu coração gelou, minhas mãos suaram, e eu precisei me segurar pra não entrar em desespero.Mas, pra minha surpresa, ele
Por mais que a raiva queimasse dentro de mim só de ver aquele desgraçado tão perto, a vontade de expulsá-lo do meu resort era quase incontrolável. Mas eu respirei fundo, engoli o orgulho e me contive. A presença dele me incomodava de um jeito que eu não conseguia explicar, como se cada movimento, cada sorriso fingido, cada palavra dele fosse um soco no estômago. Só de olhar para a cara dele, eu sentia um gosto amargo subir pela garganta. Logo meu irmão me chamou, e sem pensar duas vezes, decidi ir embora com ele. A loira ficou lá, conversando com a família Müller. Aquilo me deu mais motivos ainda pra querer agir. Deixei meu irmão no apartamento dele e segui direto para o meu. Eu estava irritado de um jeito que poucas vezes estive. A frustração me dominava por completo, e por mais que eu quisesse descontar em alguém, descarregar a raiva em cima de qualquer coisa, nada parecia o bastante. A única coisa que rondava a minha mente era encontrar uma solução. Um plano B.Um jeito de dar a vo
Ouvir tudo aquilo... me desabou. Desabei ali mesmo, na frente dele, sem conseguir segurar. Eu não queria demonstrar fraqueza, não assim, não diante de alguém como Roderick Kaiser, mas era inevitável. A verdade me esmagava por dentro. Eu estava encurralada, sem direção, sem chão. A humilhação queimava meu peito de um jeito que eu não conseguia disfarçar. Era como se o mundo estivesse rindo da minha desgraça. Meus pais, pessoas tão boas, tão trabalhadoras, estavam prestes a perder tudo. A dívida era absurda. Nenhum dos nossos salários juntos — o meu, o do meu pai e o da minha mãe — chegava perto de cobrir nem metade do valor. E o relógio corria, cada segundo uma contagem regressiva cruel. Três semanas. Ou talvez menos. A verdade é que eu não tinha escolha. Por mais que o meu orgulho gritasse, ele não podia pagar aquela dívida. Por mais que o meu coração recusasse, ele não podia sustentar a minha esperança. Eu precisava aceitar. E aceitar significava vender uma parte de mim.Li cada linh