A varanda da fazenda adormecia devagar, embalada pelo sossego do fim de tarde. O sol se derramava por entre as frestas do telhado em faixas douradas e quentes, tingindo o piso de madeira com um brilho suave e nostálgico.
Eu estava ali, sentada com Catarina, com as pernas cruzadas, o vestido leve dançando no vento. Ela folheava uma revista velha de decoração, mas o olhar maroto denunciava que a atenção dela estava, como sempre, em mim.
— E então, cunhadinha — disse, deitando o queixo na mão, muito satisfeita consigo mesma — como estão… esses hormônios?
— Catarina! — reclamei, mas rindo, incapaz de disfarçar. — Eu vou fingir que não ouvi.
— Ah, Lila, você me dá tanto material. — Ela balançou as sobrancelhas, teatral. — Preciso me preparar quando acontecer comigo.
Engoli o sorriso e levei a mão ao ventre ainda liso, acariciando de leve, quase sem perceber. Era um gesto que eu não controlava mais: de vez em quando, o toque vinha sozinho, como se o corpo quisesse garantir ao coração que