Pietro
Se eu pudesse descrever o que senti ao descer do último ônibus, seria algo como uma mistura de humilhação e raiva. Um sentimento corrosivo que fazia minha mandíbula doer de tanto cerrá-la.
Voltei ao hotel andando o mais rápido que pude, ignorando os olhares curiosos das pessoas que passavam por mim. Era óbvio que eu parecia deslocado: um homem de aparência sofisticada, mas vestido como um pescador aposentado. A camiseta era tão larga que parecia um vestido, e a calça tinha manchas que eu preferia não investigar.
Quando entrei no saguão do hotel, a recepcionista lançou um olhar surpreso que rapidamente tentou disfarçar.
— Bom dia, senhor Kuhn. — Ela forçou um sorriso, mas seus olhos entregavam que estava se esforçando para não rir.
— Bom dia — respondi secamente, atravessando o espaço sem parar para explicar.
Assim que entrei no quarto — o mesmo quarto enorme que Irina se recusou a compartilhar —, joguei-me na cama e puxei o meu celular que estava sobre a mesinha ao lado da cama