Em uma sociedade que valoriza a aparência e as alianças vantajosas, Sophie Al-Fayez, a filha mais velha de um influente comerciante árabe, se vê deixada para trás. Diferente de suas irmãs, que encontraram maridos, Sophie nasceu com uma condição de cegueira ligeira, o que limita sua visão e faz dela uma figura vulnerável aos olhos dos críticos da alta sociedade. Sem perspectivas de casamento, o risco de desonra à sua família se torna real e iminente. Do outro lado dessa moeda, Collin Blackwood, o conde de Bath, retorna da guerra com cicatrizes que não pode esconder. Desfigurado por uma queimadura que cobre parte de seu rosto, ele carrega o peso do isolamento e a necessidade de um herdeiro. Sabe que um casamento por conveniência pode ser sua única salvação — tanto para seu título quanto para manter as aparências. O que começa como um acordo entre Collin e Sophie acaba revelando-se uma jornada intensa de amor.
Ler maisSophie Al-Fayez
A luz filtrava-se pela grande janela do salão, criando padrões dourados no chão de mármore polido. O aroma de chá de hortelã e pétalas de rosas perfumava o ambiente, misturando-se ao som abafado das conversas femininas que ecoavam à distância. Minhas irmãs, lindas e sempre risonhas, preparavam-se para mais uma tarde de visitas. Sentada em um canto discreto, puxei a agulha com cuidado, guiando o fio de seda pelo delicado tecido em minhas mãos. Bordar era uma das poucas tarefas em que eu ainda conseguia me destacar. Embora minha visão não fosse nítida, eu sabia sentir a textura e os contornos, confiando mais nas mãos do que nos olhos. – Sophie, querida, você deveria vir conosco hoje – sugeriu Yasmina, minha irmã mais jovem, ajeitando um broche no vestido creme. – Mamãe sempre diz que precisamos nos exibir, ou nunca encontraremos um bom pretendente. Se ela notou a ironia no próprio comentário, disfarçou bem. A verdade, no entanto, era óbvia: enquanto Yasmina e as outras estavam rodeadas de pretendentes, eu me tornara um peso invisível na sociedade. – Prefiro ficar aqui – murmurei, concentrando-me no bordado. – Como sempre – replicou Amina, a terceira mais velha, ajeitando os brincos brilhantes. – Mamãe deveria ser mais dura com você. Afinal, todas temos responsabilidades. Responsabilidades. A palavra pairou no ar, tão pesada quanto o silêncio que se seguiu. No mundo ao qual pertencíamos, mulheres eram julgadas não por seus talentos ou inteligência, mas pela capacidade de se casarem bem. Como filha mais velha de um dos comerciantes mais respeitados da região, eu tinha um papel a cumprir, mas minha visão fraca era um obstáculo que ninguém sabia como contornar. – Sophie, venha cá. – A voz firme de minha mãe interrompeu meus pensamentos. Levantei-me devagar, ajustando meu vestido simples, e caminhei até ela. Mesmo sem ver claramente seu rosto, eu sabia que seus olhos estavam cravados em mim, avaliando cada detalhe da minha postura. – Você já é uma mulher feita, e não pode continuar à sombra de suas irmãs – disse ela, sem rodeios. – Não teremos outra temporada para desperdiçar com desculpas. – E o que sugere que eu faça, mamãe? – perguntei, tentando manter a voz firme. – Aceite o próximo pretendente que aparecer – respondeu ela com frieza. – Por menos perfeito que ele pareça, será melhor do que a desgraça de continuar solteira. Aquelas palavras cortaram mais fundo do que qualquer insulto. Sabia que minha mãe agia movida pela pressão social, mas isso não tornava a verdade menos amarga. – Agora vá. Precisamos nos preparar para o jantar desta noite – concluiu ela, dispensando-me com um gesto. Voltei ao meu canto, lutando para conter as lágrimas. O bordado em minhas mãos tremia enquanto uma sensação de impotência tomava conta de mim. Tudo o que eu queria era ser vista como mais do que a "irmã cega", mais do que uma peça de negociação em um jogo de alianças sociais. A noite chegou rápido, trazendo consigo o brilho de velas e o burburinho de vozes no grande salão. Meu pai, Khaled Al-Fayez, era um anfitrião generoso e sabia como impressionar os convidados. Embora eu tentasse me manter discreta, não pude evitar notar os olhares curiosos que alguns lançavam em minha direção. – Sophie, venha – chamou minha mãe, guiando-me até um homem de meia-idade com cabelos grisalhos e olhos calculistas. – Este é o Sr. Davenport, um velho amigo da família – disse ela. – Ele está interessado em conhecer nossas filhas. O "interessado" claramente significava outra coisa. Meu coração afundou ao perceber que minha mãe estava, mais uma vez, tentando me empurrar para alguém que mal conhecia. – É um prazer conhecê-la, senhorita Al-Fayez – disse ele, inclinando-se levemente. – O prazer é meu, senhor – respondi, com a voz mais educada que consegui reunir. Enquanto ele começava a falar sobre negócios e propriedades, percebi que eu não passava de uma negociação para ele. Como todas as outras vezes, sabia que aquilo não daria certo. Mais tarde, quando o salão ficou mais vazio, aproveitei para escapar para o jardim. Ali, sob o céu estrelado, o mundo parecia mais calmo, mais simples. Sentei-me em um banco de pedra e respirei fundo, deixando a brisa fresca aliviar minha tensão. – Fugindo da festa, senhorita? – A voz masculina atrás de mim me assustou. Virei-me lentamente, tentando identificar a figura na penumbra. Era um homem alto, com roupas elegantes e uma postura confiante. – Não sei se chamaria isso de fuga – respondi. Ele riu, um som baixo e quase triste. – Então talvez eu esteja fazendo o mesmo. Houve um momento de silêncio antes que ele se apresentasse. – Collin Blackwood, conde de Bath. Aquele nome era familiar, mas não por boas razões. Diziam que ele havia retornado da guerra desfigurado e recluso, recusando-se a participar da vida social. Ele parecia deslocado naquele lugar, assim como eu. – Sophie Al-Fayez – respondi, tentando soar natural. – Ah, a famosa filha mais velha do senhor Al-Fayez – disse ele, com um leve sorriso. – Dizem muitas coisas sobre você, sabia? – Imagino que nenhuma delas seja gentil. – Não. Mas, novamente, as pessoas raramente são gentis. Seu tom direto me surpreendeu. Ali, no escuro, com os preconceitos e expectativas afastados, ele parecia mais humano do que qualquer outra pessoa naquela casa. – Então, senhorita Al-Fayez, o que a trouxe para o jardim? – O mesmo que trouxe você, imagino. Um desejo de fugir das aparências. Ele assentiu, os traços do rosto suavizando-se. – Talvez tenhamos mais em comum do que pensamos. E naquela noite, sob o céu estrelado, percebi que aquele encontro inesperado poderia mudar o rumo da minha vida de formas que eu ainda não entendia.O outono avançava lentamente em Londres, tingindo as árvores com tons dourados e avermelhados. O vento frio soprava pelas ruas, trazendo consigo a sensação de mudança. Para Oliver Blackwood, essa mudança era mais do que apenas uma estação: era o início de uma nova vida ao lado de Layla.A conversa com seu pai ainda ecoava em sua mente. Ele havia conseguido uma chance, mas sabia que cada passo dali em diante seria crucial. Seu coração, no entanto, não vacilava. Ele estava decidido a provar que seu amor por Layla era forte o suficiente para enfrentar qualquer desafio.Oliver passou dias planejando o momento perfeito. Ele queria que Layla soubesse que aquilo não era apenas uma decisão para provar algo à sociedade ou à sua família. Era amor verdadeiro.Naquela noite, ele a levou para um passeio pelos jardins da propriedade Blackwood, onde lanternas iluminavam delicadamente o caminho. Layla, envolta em um xale para se proteger do frio, observava as folhas caindo suavemente.— Está tudo tão
O outono chegou a Londres, trazendo consigo um ar frio e cortante que parecia refletir o estado do meu coração. As folhas douradas caíam dos árvores, espalhando-se pelas ruas como lembretes de que o tempo estava passando. E eu sabia que não poderia esperar mais. A batalha pela aceitação de Layla estava chegando ao seu clímax, e eu precisava estar preparado para o que estava por vir.Aiden e eu estávamos no clube, discutindo os últimos detalhes do nosso plano. Lady Ashworth havia se tornado uma aliada inesperada, mas ainda havia muitas pessoas influentes que precisávamos conquistar. E, acima de tudo, havia meu pai. Collin Blackwood, o duque, um homem que valorizava a tradição e o status acima de tudo.— Oliver — Aiden começou, olhando para mim com seriedade. — Você sabe que isso não vai ser fácil. Seu pai não vai ceder sem lutar.— Eu sei — respondi, sentindo o peso das palavras. — Mas eu não tenho escolha. Eu preciso fazer isso por Layla.Aiden assentiu, entendendo a determinação no m
Oliver Blackwood Aiden se inclinou para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos. — Primeiro, você precisa entender que isso não vai ser fácil. Sua família, especialmente seu pai, não vai aceitar Layla de braços abertos. Eles vão ver isso como uma afronta, uma mancha na honra dos Blackwood.— Eu sei — respondi, sentindo um nó se formar no meu estômago. — Mas eu não posso simplesmente abandonar Layla. Ela não é apenas uma cortesã, Aiden. Ela é… ela é tudo para mim.Aiden olhou para mim por um momento, e então assentiu. — Então, você vai precisar de uma estratégia. Algo que mostre ao seu pai que você está falando sério, que isso não é apenas uma paixão passageira.— Como? — perguntei, sentindo-me desesperado. — Meu pai nunca vai entender. Ele só vê o mundo em termos de status e poder.— Talvez não — Aiden concordou. — Mas ele é um homem prático. Se você puder mostrar a ele que Layla não é uma ameaça à nossa família, que ela pode até ser uma aliada, ele pode reconsiderar.— Como ela po
Layla Acordei com o som dos pássaros cantando do lado de fora da janela, mas o meu coração estava longe de sentir a leveza daquela manhã. A luz do sol entrava por entre as cortinas de seda, iluminando o quarto que não era meu. A cama era macia, os lençóis cheiravam a lavanda e algo mais… algo que eu não conseguia identificar, mas que me fazia lembrar dele. Oliver.Meu corpo doía, não de uma forma violenta, mas de uma maneira que me lembrava cada toque, cada beijo, cada suspiro que havia compartilhado com ele na noite anterior. Eu me sentia dividida entre o arrependimento e uma estranha sensação de realização. Oliver Blackwood, o filho do duque, o homem que eu deveria odiar, havia me conquistado de uma forma que eu nunca imaginei possível.— Layla — sussurrou uma voz rouca ao meu lado.Virei a cabeça e lá estava ele, deitado ao meu lado, com os cabelos desalinhados e um sorriso que parecia ter saído diretamente de um sonho. Seus olhos claros me fitavam com uma intensidade que me fez s
Oliver Blackwood Sei que não devia chamar Layla para o meu apartamento, não quero que ela pense que só quero me aproveitar, mas quando ela concordou de forma tão doce, não tive como dizer não. Entro em meu apartamento luxuoso, fechando a porta atrás de mim com um clique suave. Meus olhos dourados percorrem famintos seu corpo pequeno enquanto me aproximo, um sorriso de lobo se espalhando por minhas feições esculpidas.— Layla, querida, que adorável da sua parte se juntar a mim — eu ronrono, meu sotaque islâmico chique pingando sedução. — Eu estava simplesmente doendo por sua companhia o dia todo — eu estendo a mão, minha mão grande segurando seu queixo enquanto inclino seu rosto para cima em direção ao meu. Meu polegar traça a linha delicada do seu lábio inferior, aplicando pressão suficiente para separá-los ligeiramente.— Diga-me, minha doce florzinha, você está nervosa? Está tudo bem se você estiver — Meu aperto em seu queixo se aperta quase imperceptivelmente enquanto me inclino
Layla não sabia exatamente quando começou a se sentir desconfortável com a maneira como Oliver a olhava. Não era o desconforto comum de estar perto de um libertino conhecido, alguém que não se importava em flertar apenas para ver a vítima se contorcer de constrangimento.Não.Aquele desconforto era diferente.Era algo quente, incômodo e intrigante.E Layla odiava isso.Desde o momento em que aceitara o absurdo acordo de fingir ser sua noiva, tudo parecia ter mudado entre eles.Ele a olhava de um jeito diferente.Como se realmente quisesse conhecê-la.E isso era perigoso.Muito perigoso.— Eu ainda acho que essa ideia é completamente ridícula — Layla murmurou enquanto Margot ajeitava a fita do corpete de seu vestido.— Ridícula ou não, você está deslumbrante — Margot respondeu, sorrindo. — Tenho certeza de que o Duque de Blackwood terá um ataque quando vê-la ao lado do filho.Layla bufou.— Essa é a intenção, não é?— Bem, se for, Oliver é um gênio.Layla revirou os olhos, mas não cons
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